MORREU O CEMGFA, VIVA O CEMGFA!...*
6/2/11
Dia
7 de Fevereiro foi data de mudança de inquilino no sexto piso do edifício que
alberga o Estado-Maior-General das FAs. Ou seja do respectivo chefe (CEMGFA).
Sai o General Valença Pinto (VP) entra o General Luís Araújo.
O
CEMGFA é a autoridade militar de maior graduação que preside a um de dois
órgãos fundamentais definidos na actual legislação enformadora das relações
político-militares: o Conselho de Chefes de Estado-Maior (cCEMs). O outro é o
Conselho Superior Militar, onde se reúnem os quatro chefes militares com o
Ministro da Defesa (MDN), que preside.
Estes
dois órgãos são fundamentais para o bom funcionamento das Forças Armadas e para
a correcta articulação com o poder executivo, em funções.
No
primeiro órgão discutem-se, analisam-se, aprovam-se e fazem-se executar as
principais linhas de orientação, para os três ramos sem prejuízo das
competências próprias dos respectivos chefes; no segundo órgão encontra-se o
nível estratégico e o conselho militar com a ideia política.
Sem
querer entrar nas vantagens/inconvenientes e consequências da actual
organização, pretendemos apenas fazer sobressair a importância e
responsabilidade das funções das pessoas que ocupam os respectivos cargos.
Porquê?
Por
causa do modo como decorreu a cerimónia de despedida do general VP no passado
dia 4/2, no Instituto de Estudos Superiores Militares (IESM), em Pedrouços.
Das
notícias que vieram a público – e são essas que mais marcam a opinião publicada
– ressaltou o carácter “informal” da cerimónia.
Ora
não parece curial que se convide a nata da hierarquia militar para um IESM,
para marcar oficialmente a despedida de um CEMGFA e se transforme o acto numa
“informalidade”.
Para
isso seria preferível marcar uma qualquer “happy hour” na messe. Mas o mais
espantoso foram alguns dos termos usados pelo senhor ministro e a desenvoltura
do tratamento com que mimoseou o homenageado, tratando-o pelo nome próprio,
quase a roçar o “tu cá tu lá”. Parece que fizeram a recruta juntos!
No
elogio, porém, o que realçou como qualidades, foram a “impaciência e a
frontalidade”. A frontalidade é própria dos militares (ou deve ser), agora a
impaciência? Impaciência quer dizer “pressa”, ”sofreguidão”, “inquietação”,
“frenesim” e impaciente é aquele que é “falho de paciência”, “frenético”,
“apressado”, “precipitado”. Ou seja tudo aquilo que nós não queremos que um
chefe militar seja.
Terá
o senhor ministro tido um “lapsus lingue”, estava no gozo, ou passado mal a
noite? É que a seguir ainda referiu um “tique” do general que só a intimidade
consente: “… um sinal físico que é a perna direita a começar a agitar-se”. E
chamou “eloquente” a esse sinal. Informalidade?
O
MDN referiu, aliás, que a “paciência” era um defeito do povo português. Esta afirmação
é espantosa, sobretudo vindo de um possuidor de um doutoramento em sociologia
(ainda por cima não obtida numa qualquer universidade independente).
A
paciência só será um defeito quando confundida com “resignação” ou
“conformismo”, não como significando “calma”, “conformidade” ou “perseverança
tranquila”.
De
facto já não há é paciência para ouvir tanto dislate…
Por
último ficámos a saber que o Sr. MDN encara o agora ex – CEMGFA como a
encarnação da concepção “moderna”, “democrática” e “cosmopolita”, com que quis
caracterizar a Instituição FAs.
Estou
elucidado: moderna, não quer em si dizer nada; democráticas as FAs não podem
ser, pois não há eleições na tropa nem as decisões são obtidas através de
votos; e espero que o termo “cosmopolita” não queira significar que os
militares portugueses andam espalhados pelo mundo, deleteriamente, para verem e
serem vistos…
Das
palavras do general VP – também elas “informais” – quando nos congratulávamos
em ouvir dizer a honra que tinha em pertencer ao Exército e a consciência do
dever cumprido, topámos com a confissão de ainda estar à espera do despacho a
um requerimento que fez, em 1973, quando era capitão, em que pedia a demissão
de oficial do Exército “por querer um Portugal melhor”.
Afinal,
sorte sua e azar nosso: se lhe tivessem deferido o papel não teria sido CEMGFA,
mas talvez hoje o país estivesse, de facto, melhor, dadas as vicissitudes
vividas.
É
costume nestas ocasiões saudar quem sai e quem entra. Não levem a mal não o
fazer mas vou esperar melhores dias. Dias em que as FAs, como Instituição, se
voltem a dar ao respeito.
João
José Brandão Ferreira
TCor/Pilav
(Ref.)
*Com a devida vénia
NOTA:Ficou-se a saber afinal, e infelizmente só agora, que o Engº Ex-CEMGFA era um "anti-fascista" e dos primeiros, já desde 73.