sábado, 31 de agosto de 2013

ÁS ARMAS

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(Artigo de Luís Mergulhão publicado no jornal “EXPRESSO” em 31 de Agosto de 2013)


“Apenas há dois meses, 35 personalidades portuguesas — tendo em comum o não serem antigos alunos daquela instituição — subscreveram uma carta dirigida ao Senhor Presidente da República solicitando o exercício da “sua magistratura de influência no sentido de que o Despacho 4785/2013 de 8 de Abril do Ministro da Defesa Nacional seja imediatamente suspenso no referente à transformação repentina e imponderada do Colégio Militar num internato/externato misto e à construção de infraestruturas de internato feminino no Colégio Militar”, decorrente do anunciado encerramento do Instituto de Odivelas já no ano letivo de 2014.
Cito, entre outros, Ramalho Eanes, Marçal Grilo, Adriano Moreira, Artur Santos Silva, Bagão Félix, Campos e Cunha, Cruz Serra, João Salgueiro, João Soares, Lemos Ferreira, Loureiro dos Santos, Manuel Braga da Cruz, Medina Carreira, Melo Gomes, Roberto Carneiro, Rui Vilar, Rui Machete, Veiga Simão, Viera Matias e D. Januário Torgal Ferreira.
À última hora, este mês, uma campanha publicitária foi colocada no ar pelo Ministério da Defesa Nacional, falando de “estabelecimentos militares de ensino”. Nessa campanha, pasme-se, nunca é referido o nome dos três estabelecimentos, nem sequer mostrado o seu logótipo, mas antes, isso sim, um novo logo, pensado talvez para substituir o daquelas instituições centenárias.
Sejamos frontais: algo se passa, cujos contornos não são claros, e não podem ser apenas reflexo do facto de o Colégio Militar, de o Instituto de Odivelas e de os Pupilos do Exército, no seu quadro atual de funcionamento, darem prejuízo.
A personalidade nomeada pelo Senhor Ministro da Defesa para coordenador da “comissão para reestruturação dos estabelecimentos militares de ensino”, o professor Marçal Grilo, subscreveu também a referida carta, ao não se rever na decisão de quem o nomeou.
Personalidades como o professor Adriano Moreira e o general Loureiro dos Santos levantaram na imprensa dúvidas fundadas.
Não vou falar dos valores do Colégio Militar. Não preciso. Mas refiro isso sim, ser uma instituição que foi fundada poucos anos depois da Independência dos Estados Unidos da América, antes das Invasões Francesas e da Independência do Brasil. De ser a instituição nacional mais condecorada. De ter vivido, ao longo dos seus 210 anos de existência, momentos difíceis mas que conseguiu sempre adaptar-se à evolução dos tempos, sem perder a sua raiz ética e nacional.
Fico apreensivo com possíveis modelos de salvação para estas instituições que as descaracterizem, e que depois as matem lentamente. E receio o aparecimento de “iniciativas privadas” que a troco da promessa de assegurar “custo zero” para o erário público, tomem, primeiro, conta da sua gestão, para de seguida poderem ficar com os seus patrimónios, mesmo que agora assegurem que não.
Declaração de interesse: sou antigo aluno do Colégio Militar. Mas não estou só. Além de muitos outros, ex-alunos ou não, estão connosco o bom senso e o sentido de afirmação da nossa identidade nacional.”
Luís Mergulhão
191/65

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