quarta-feira, 10 de setembro de 2014

HOMENAGEM

Almirante Sarmento Rodrigues

por MIGUEL FÉLIX ANTÓNIO, JURISTA/GESTOROntemComentar
Nos tempos conturbados que vivemos é com gosto que evoco a vida de um português de têmpera, do género de "antes quebrar que torcer", a quem o nosso país muito deve, designadamente, pelo papel central que teve, como político e militar mas também como doutrinador, na antiga África portuguesa.
Manoel Maria Sarmento Rodrigues nasceu em Freixo de Espada à Cinta em junho de 1899 e morreu em Lisboa a 1 de agosto de 1979, passaram agora 35 anos.
Uma das suas primeiras missões como oficial de marinha foi no República, acompanhando em 1922 a viagem aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
Em 1925-1926 é ajudante de campo do governador-geral do Estado Português da Índia e em 1928 secretário do ministro dos Negócios Estrangeiros.
Entre 1931 e 1935, já primeiro-tenente, em Moçambique - terra à qual ficaria indelevelmente ligado -, foi comandante dos portos de Chinde e de Quelimane. Entre 1941 e 1945, comanda o Lima, navio que teve papel central na busca e no salvamento de largas dezenas de passageiros de navios estrangeiros atacados pela marinha alemã, ao largo dos Açores, e que lhe valeu os maiores encómios dos governos inglês e norte-americano, o que muito contribuiu para densificar o seu prestígio nacional e internacional.
A 26 de junho de 1945 é nomeado governador da Guiné, onde em 1947 realizou as comemorações do V Centenário do Descobrimento Marítimo daquele território, que tanto ajudou a desenvolver.
Regressado a Lisboa a seu pedido em 1948, desempenha funções no Estado-Maior Naval e é eleito em 1949 deputado à Assembleia Nacional pelo círculo de Moçambique.
Entre 2 de agosto de 1950 e 7 de julho de 1955, integrou o Governo de Portugal como ministro do Ultramar, tendo nesse âmbito adotado uma ampla reforma da administração colonial portuguesa.
Em 1957 é promovido a comodoro (atual contra-almirante) e designado comandante da Escola Naval, funções que desempenha até 1961, tendo presidido à Comissão das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, no âmbito das quais foi edificado o Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa. Por convite do novo ministro do Ultramar, é nomeado em 1961, já com o posto de contra-almirante (atual vice-almirante), governador-geral de Moçambique, cargo que desempenha até 1964 e do qual se demite por algumas propostas que considerava vitais para a consolidação do espaço lusíada não terem tido acolhimento no Governo.
Em março de 1969 é um dos fundadores do Grupo de Estudos de História Marítima que esteve na génese da Academia de Marinha, de que seria o seu primeiro presidente quando da sua criação em dezembro de 1978.
Foi autor de uma vasta obra sobre assuntos navais, de defesa e de administração colonial, nas quais mostrou que, a par da espada, era também um exímio manejador das letras.
Casado com uma sobrinha de Guerra Junqueiro, deixou um expressivo lote de descendentes, em quantidade e qualidade, como é o caso do atual presidente da Direção Nacional da Liga Portuguesa contra o Cancro, o seu neto Francisco Cavaleiro de Ferreira.
Como escreveu Adriano Moreira, tratou-se de alguém "com uma firmeza de princípios que não dobram às conveniências", "sem a menção do qual não é possível escrever a história portuguesa, designadamente dos estados de língua portuguesa que ajudou a definir", e a quem bem se terá aplicado a célebre frase: "Mal com el-rei por amor-dos-homens, mal com os homens por amor de el-rei."

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