quarta-feira, 7 de março de 2012

A LER


Reformas militares

por Jorge Silva Paulo

Mais uma vez, ocorreu um fogacho nos media a propósito dos militares e das Forças Armadas. Este fogacho acendeu-se com as reacções de alguns militares às palavras "sustentabilidade" e "quem não sente vocação precisa de mudar de carreira" do ministro da Defesa, que dizem o óbvio; as reacções revelam os segundos sentidos que cada um leu nestas palavras.
Ardeu com vigor, mas extinguiu--se depressa e nada purificou. Observadores externos e milhões cá seguiram-no com angústia. Alimentada por uns, temida por muitos e incompreendida por todos, pairou nas entrelinhas a ideia duma revolta militar.
Ao longo do fogacho, manifestaram-se as posturas corporativas do costume (reveladas nas questões materiais e nas posições "tudo ou nada"), mas que um povo (na bancarrota) não deseja ver num pilar da soberania. Associações de militares que não se demarcam da CGTP e dos partidos que rejeitam o apoio externo que está a salvar Portugal de um inimaginável sofrimento não surpreenderam. Mas feriu a sua credibilidade o uso do BPN (uma bandeira política) e deixaram no ar a ideia de uma revolta contra as perdas materiais dos militares, quando o País que os militares juraram defender está na bancarrota; alimentou a ideia errada de que os militares querem usar em benefício próprio as armas que controlam (alguns, sim). E, como o ministro tomou uma posição pública sobre a gestão interna de militares, que não é da sua directa competência, regista-se o ensurdecedor silêncio dos quatro chefes de Estado-Maior.
Extinguiu-se mais um fogacho e continua sem se perceber o rumo das atrasadas reformas militares. Mas é factualmente errado culpar apenas os políticos pelos atrasos. É verdade que se deve a um certo governo, por exemplo, o caro disparate da aquisição de armas em leasing (bem contestada por Rui Rio em 1999); assim como as contrapartidas, agora acabadas.
Porém, apesar das directivas nesse sentido, é pública a resistência corporativa dos ramos à fusão de serviços: os mais pequenos temem que o Exército fique a dominar; e o ramo maior não quer ser dominado pelos mais pequenos. E costumam conseguir bloquear ou esvaziar os processos de concentração.

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