Incansáveis, tudo fazem, os nossos governantes e mais
alguns, para nos levar a compreender o que só “indiscutíveis sabedorias”
conseguem alcançar.
Forças
Armadas
Têm sobejos motivos para assim proceder
quando se assiste a um perverso entendimento de que, em paralelo com os severos
deveres e restrições ao direito de cidadania que lhes são exigidos a troco da
sua condição militar, vêem, em igual ou superior proporção, ser-lhes retirados
direitos e impostos sacrifícios que, para além de violentamente fustigarem as
suas condições de vida, atentam contra a sua dignidade insidiosamente posta em
causa.
Salta à evidência que, quando reclamam pelo
que lhes vai acontecendo, no seu lugar poderia estar um desempregado ou
empregado, um pensionista ou trabalhador activo, um funcionário público ou quem
o não é, empresários, jovens e idosos. Enfim, têm a noção de que assistem razões
à generalidade da população para se sentir injustiçada pelos avassaladores
sacrifícios que a todos penaliza e, com uma tal dimensão, que transforma em
desgraçada naturalidade a forma como estatisticamente se tratam os que passam
fome e os que, envergonhadamente, se escondem da pobreza a que os
conduziram.
Estamos, pois, todos no mesmo barco. Mais
parecendo nau que se vai afundando, não por umas quaisquer causas da natureza,
mas antes assemelhando-se, utilizando uma imagem do passado, a um trágico
episódio em que uma “quadrilha de piratas” dela tomou conta e não desiste
enquanto a não afundar.
Há alturas em que, individual ou
colectivamente, podemos ser confrontados com sacrifícios. Num e noutro caso
manda a razão que lhes procuremos as causas para, da forma que melhor se adeque,
encontrarmos a solução para ultrapassá-los. E é isso que, no mínimo, se exige
que seja explicado para que, sujeitos do sacrifício, entendamos os caminhos que
nos são propostos para os suportar.
Dir-nos-ão uns que são suficientemente
clarificadas as soluções propostas, encarregando-se de acrescentar sobejas
justificações para fundamentar o que a generalidade da população teima em não
entender. Surgem outros, com o mesmo entendimento dos primeiros, aplaudindo
igualmente o caminho escolhido, mas justificando o injustificável com o
argumento de que as medidas aplicadas só pecam por insuficiência ou dificuldade
de explicação. Numa sucessão de “explicadores” da área da governação sucedidos
por um infindável corrupio de comentadores de diferentes matizes, mas todos
eles, de uma ou de outra maneira, na busca do melhor fundamento que possa colher
a aceitação dos seus destinatários.
Incansáveis, tudo fazem, os nossos
governantes e mais alguns, para nos levar a compreender o que só “indiscutíveis
sabedorias” conseguem alcançar. Dividindo e lançando todos contra todos,
recorrendo à clássica estratégia de “dividir para reinar” e assim obter sucesso
na aplicação de injustas e desequilibradas medidas, fazendo crer às partes
“desavindas” a aparência de justa causa, quando a causa injusta é generalizada.
Algo de profundamente anormal se
passa.
À excepção dos governantes, de
uma troika que, naturalmente, cuida dos
interesses que representa (os omnipresentes mercados…), nada coincidentes com os
do País, e de uma parafernália de comentadores de serviço, ninguém compreende a
utilidade dos remédios aplicados para uma suposta cura, quando os factos e a
evidência demonstram que, a não ser alterada a prescrição, não tarda, o doente
certamente sucumbirá perante o tratamento que lhe foi administrado.
Urge, pois, encontrar forma de ajudar os
nossos incansáveis governantes a encontrar melhor maneira de convocar os
cidadãos em geral e, naturalmente, os militares também, a entender e a
mobilizarem-se para ultrapassar esta curva apertada da nossa vivência colectiva.
Em uníssono preferencialmente, pois sacrifícios distribuídos por todos,
incluindo os particulares responsáveis pelo estado a que foi conduzido o País,
tornarão tudo bem mais fácil.
Em jeito de modesto contributo sugerimos,
então, que se faça aquilo que logo de início, aquando do diagnóstico feito às
depauperadas contas do País, devia ter sido feito, como método e séria postura
perante todos nós como comunidade, em favor de uma necessária compreensão para o
atoleiro da dívida a que a Nação foi conduzida: "Desmultiplique-se a dívida pública e outras dívidas e
explique-se-nos as suas origens, os seus responsáveis, como foram utilizados os
dinheiros públicos e ao serviço de quem e tudo o mais que houver a aclarar e se
considere necessário para português entender.
Recorrendo a cidadãos com provas de
integridade e irrepreensível conduta, moral e eticamente exemplares, à prova de
qualquer suspeita e não condicionados por quaisquer espécie de interesses que
possam colidir com tal missão e que, outros, que não os governantes e
correlativos (já nos deram sobejas provas de que não são confiáveis), ajuízem
quem poderá reunir o adequado perfil para tão nobre encargo."
Estamos em crer, diríamos até, com um
elevado grau de probabilidade, que se tornaria bem mais fácil convocar os
portugueses para o altar dos sacrifícios que fossem requeridos, na certeza de
que o seriam com diferente critério de justiça e equidade, pois mais facilmente
se perceberia que as responsabilidades são, contra o que vem sendo afirmado,
qualitativa e quantitativamente, bem diferentes.
E estamos em crer que os portugueses em
geral, os militares e as Forças Armadas de Portugal, com funções de soberania no
Estado que somos e na Pátria que se lhes exige, estejam prontos a defender,
estariam dispensados de cortes a esmo fazendo perigar a paz social que todos
desejamos e os alicerces de um Estado que pretendemos ao serviço de
todos.
Manuel Cracel
Manuel Cracel
Coronel, presidente da
Associação de Oficiais das Forças Armadas
Sem comentários:
Enviar um comentário