“Qualquer intervenção militar hoje na vida política
portuguesa teria muito mais a ver com um 28 de Maio do que com um 25 de Abril”,
disse o general na reforma em entrevista à Lusa , a propósito do 40.º
aniversário da Revolução dos Cravos.
Pezarat Correia, 81 anos, com vasto currículo
militar e académico, foi membro do Conselho da Revolução, sendo professor
convidado jubilado na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e autor
de diversos estudos e reflexões sobre a evolução do país desde o 25 de Abril.
“O 28 de Maio também foi feito contra um regime
democrático. Que funcionava mal, é verdade, mas era democrático. Portanto,
hoje, intervenções militares na política não”, salientou o autor de “Questionar
Abril”, publicado em 1994, e no qual equaciona os grandes desafios de uma
sociedade em mudança.
Pezarat Correia rejeitou a pertinência de um
“novo” ou “renascido” MFA, argumentando que “não tem lógica nenhuma”.
“Há é que recuperar o 25 de Abril, que é diferente”, afirmou.
“Há é que recuperar o 25 de Abril, que é diferente”, afirmou.
Para Pezarat Correia, o “anseio positivo” sobre a
necessidade de “um novo 25 de Abril” constitui um apelo para uma “nova
intervenção” dos militares na vida política, que considera um erro.
“Alguns dos militares que fizeram o 28 de Maio
também estavam cheios de boas intenções em que Portugal pudesse regenerar a sua
democracia. Só que a regeneração da sua democracia deu no Estado Novo, que cá
esteve 48 anos”, afirmou, antes de recordar que as Forças Armadas “de hoje”
também estão diferentes.
“Não têm nada a ver com as Forças Armadas do 25
de Abril. Hoje é um exército profissional, reduzido, hoje a população na sua
generalidade não passa pelas Forças Armadas, já não é o exército do povo, é o
exército de uma determinada elite armada”, salientou.
“E estes exércitos de elites armadas não fazem
revoluções populares, ou com conteúdo social. Fazem quando muito golpes de
Estado”, disse o militar, sempre conotado com os setores da oposição ao regime
do Estado Novo e que em junho de 1973 participou na denúncia do “Congresso dos
Combatentes”.
Apesar de ser muito crítico do atual Governo e do
Presidente da República – que considerou terem uma ação “extremamente” negativa
-, Pezarat Correia lembrou, no entanto, que foram eleitos em sufrágio
democrático e que o povo mantém o poder de inverter a situação pelo voto, sem
ser necessário “estar a corrigir” o regime.
“Estão no poder porque o povo português os
escolheu. Foi o voto dos portugueses que os colocou lá. Portanto, os
portugueses continuam a dispor de instrumentos, que é o voto, para os poder
apear”, afirmou à Lusa na biblioteca da sede da Associação 25 de Abril, em
Lisboa, da qual foi o primeiro presidente da Assembleia Geral.
Ao contrário de diversas teses sobre a evolução
da situação política no país, Pezarat Correia continua a defender que o
“processo revolucionário” em Portugal não foi interrompido pelo golpe do 25 de
Novembro de 1975, mas prolongou-se até à aprovação da Constituição de 1976, que
tem “conteúdo revolucionário”.
Pezarat Correia reconheceu que o setor do MFA
envolvido no 25 de Novembro “acabou por ser ultrapassado por uma dinâmica contrarrevolucionária”,
apesar de a dinâmica revolucionária não ter sido “completamente abafada”.
Para o subscritor, em pleno PREC (Processo
Revolucionário em Curso), do “Documento do Nove”, as “principais transformações
revolucionárias” do 25 de Abril estão incluídas na Constituição aprovada em
1976.
“Portanto, a revolução prolongou-se até à aprovação da Constituição”, frisou.
“Portanto, a revolução prolongou-se até à aprovação da Constituição”, frisou.
A “inversão” do processo revolucionário, referiu,
situa-se no período constitucional, “em que, frequentemente e com muita
determinação”, o poder governou contra a Constituição.
“Não é só agora que a Constituição está a ser
violada”, sublinhou, acrescentando que “a Constituição começou a ser violada
muito cedo, praticamente logo a seguir, com o primeiro governo constitucional”.
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