segunda-feira, 7 de julho de 2014

A NAU QUE NÃO




7 de JULHO de 1940

BATELÃO "NAZARÉ" EX NAU "PORTUGAL"

O batelão NAZARÉ conduzido de braço dado pelo rebocador OCEANIA

A Nau PORTUGAL foi construída para figurar na Exposição do Mundo Português, em 1940. A iniciativa da sua construção e a direcção geral dos trabalhos devem-se ao artista Leitão de Barros, sendo os estudos arqueológicos necessários para a sua reconstituição da autoria de Martins Barata; ao comandante Quirino da Fonseca competiam os cálculos para que a nau pudesse navegar, mas não os chegou a fazer pois entretanto morreu. A construção foi efectuada nos estaleiros Mónica, de Mestre Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, no concelho de Ilhavo, um dos estaleiros mais célebres na arte da construção naval em madeira.
As suas principais dimensões e características eram as seguintes: Comprimento entre perpendiculares 42,2m; Boca máxima na linha de água, carregada 11,4m; Pontal contado do fundo da querena recta ao vaus do pavimento superior 7,5m; calados: avante 3,12m, à ré 4,52m; mastros 3; canhões 48.
Bela e ricamente decorada, destinava-se a servir para exposição de produtos Portugueses, viajando por vários países, particularmente o Brasil.
Foi lançada água em 7 de Julho de 1940, tendo imediatamente adornado para estibordo, afundando-se parcialmente na presença dos projeccionistas, construtores, individualidades oficiais e milhares de pessoas que assistiam à festa que sempre acompanha o lançamento à água de um navio.
Como se explica este acidente? Segundo as conclusões do eng. Sá Nogueira, ao tempo administrador-geral do Porto de Lisboa, encarregado do salvamento da nau, tal facto deve-se a defeitos de construção, alheios no entanto a Mestre Mónica. Na exposição que fez à Ordem dos Engenheiros relatando o que se tinha passado com a nau PORTUGAL, dizia: Reatando o fio das considerações encetadas neste capitulo direi que, além de um plano geométrico ou de formas que serviu para a construção da nau, nenhum outro elemento logrei obter. (…)
«Cálculos de querenas direitas e inclinadas, de robustez do navio de lançamento à água, enfim tudo que pudesse servir para ajuizar da bondade do navio e do que lhe aconteceu ao abandonar a carreira, nada veio à minha mão. (…)
«Curvas de deslocamentos, de abcissas e de ordenadas do centro de querena, de metacentros e de raios metacêntricos transversais e longitudinais de deslocamentos por centímetro de imersão, diagrama de estabilidade, posição do centro de gravidade do navio, etc., são elementos não vistos por mim. (…)
«Porque se tratava de reprodução, com modificações não julgadas de substância, de tipo experimentado, entendeu-se olvidando-se a influência de imponderáveis, que tais elementos eram de dispensar, e deste modo nem a Direcção de Marinha Mercante, entidade oficial competente e única em matéria de construção naval mercante, foi ouvida. (…)

Nau PORTUGAL

«Esqueceu-se, sem intenção é certo, que seria estupidez mas esqueceu-se de recorrer ao engenheiro naval para o estudo da nau (…) e do esquecimento resultou um acontecimento triste, que é uma lição, mas lição só para casos futuros, que o da nau, esse é facto consumado.»
Mais adiante, depois de se referir aos estudos que foi possível efectuar apesar dos elementos escassos, dizia que «a estabilidade transversal do navio era tal que o seu emborcamento era certo».
Segundo o mais tarde, proprietário dos Estaleiros Mónica - Arménio Bolais Mónica - , seu pai teve a intuição de que algo estava errado na construção da nau, dizendo-o por repetidas vezes aos responsáveis pelo projecto, não tendo sido ouvido. No dia do «bota-abaixo» pediu inclusivamente ao bispo de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal, que a benzeu e visitou interiormente, que não embarcasse na nau, pois ela se viraria ao tocar a água… E virou-se.
Depois de erguida e devidamente reparada, veio para Lisboa, atracando no dia 19 no cais da Rocha do Conde de Óbidos; em 2 de Setembro entrou na doca de Belém, finalmente integrada na Exposição do Mundo Português.
Não terminaram porém aqui os desaires por que passou a nau; o ciclone que em 17 de Fevereiro de 1941 varreu o País encarregou-se de a fazer adornar novamente, quebrando, então os mastros.
Desistiu-se de prosseguir nos esforços para a salvar e foi vendida à Companhia Colonial de Navegação que a converteu em 1942 no batelão costeiro NAZARÉ para transportes ao longo da costa continental e aparentemente a reconstrução foi da responsabilidade do construtor naval Manuel Maria Bolais Mónica, da Gafanha da Nazaré.
NAZARÉ – cff 45m/ cpp 42,57/ boca 11,48m/ pontal 7,92m/ 750,84tb/ 727,14tl/ casco madeira/ tripulação 6.
Passados cerca de 10 anos foi novamente vendido e desmantelado em Xabregas, ou seja em 1952.
Recordo-me de na minha infância de ver o batelão de carga NAZARÉ, frequentemente a cruzar a barra do Douro rebocado pelos rebocadores OCEANIA ou NAUTICUS, este ex MARS 2º da firma Garland, Laidley, do Porto, que também conduziam os outros quatro batelões da Companhia Colonial de Navegação, JAMOR, OTA, MASSAMÁ e RESTELO, construídos em aço, que anteriormente pertenceram à firma Portuense GARLAND, LAIDLEY.

in:Naviosavista. blogue

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