Com as devidas vénia e respeito
À Marinha Portuguesa
Vale o que vale.
Mas vale.
Quando nos morre um pai não há nada que nos possam dizer para nos fazer sentir melhor.
Não há palavras mágicas não há abraços não existem beijos que nos arranquem do desespero da perda e da saudade.
Depois da vida temos apenas que prestar a nossa homenagem aos que nos deixaram, em cada momento, em cada atitude, em cada vírgula, mas também nas cerimónias fúnebres.
É no sentido de agradecer, emocionado, à Marinha Portuguesa que escrevo este texto.
Quando informados sobre a morte do meu pai, o meu querido Comandante Puppe, a Marinha estendeu sobre nós a sua asa e tratou de tudo.
Disponibilizou a capela de São Vicente, no ministério da Marinha e o oficial de ligação , o comandante Alif.
Trataram de nos receber com a pompa de uma farda branca imaculada e com a bandeira nacional a meia haste. Isto fez-me sentir como se para o país importasse a minha perda. Fez-me sentir que o país chorava comigo. Numa altura em que o sentimento de nação se dissipa, comecei a olhar a bandeira de outra forma.
No funeral, a salva de tiros dos fuzileiros, impecavelmente fardados e com o brio que os caracteriza, ecoou até à Índia e à Guiné, onde o meu pai serviu na guerra. A bandeira nacional em cima do caixão fez-me sentir que era um pouco de Portugal que morria. Mas para mim era também um pouco de Portugal que renascia, ao lembrar-me do que já fomos, e continuamos a ser nos homens que envergam aquela farda, que no fundo é a farda de todos nós.
Quando o corpo desapareceu em fumo, o oficial presente devolveu ao meu irmão mais velho a espada como que passando para nós a responsabilidade de continuar a servir como o Pai serviu, o País.
Escrevo, emocionado, que nunca vou esquecer a forma digna como a Marinha se ocupou deste assunto triste.
Lembro-me que na altura comentei que nestas alturas tudo isto vale o que vale.
Mas vale.
Obrigado.
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