Discurso proferido pelo Aluno Comandante do Batalhão, Francisco Cordeiro de Araújo (591/2007), nos claustros, na cerimónia de abertura solene das aulas a 17 de Outubro de 2014
Ex. mo. Coronel Tirocinado, Director do Colégio
Militar,
Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários
Civis,
Ex. mos. Convidados,
Pais e Encarregados de Educação,
Camaradas Antigos Alunos,
Camaradas Alunos
Eis-me hoje aqui, como graduado, nas funções de Comandante
de Batalhão, aqui nestes nossos ilustres Claustros, a discursar perante esta
insigne audiência na Abertura Solene do Colégio Militar.
Este facto, que naturalmente me enche de orgulho, serve,
acima de tudo, para sublinhar um especial agradecimento a todos aqueles que, de
forma bastante empenhada, nos apoiaram, a mim e ao meu curso, para que hoje
aqui pudéssemos estar, nesta última e, porventura, a mais importante etapa do
nosso percurso colegial.
A todos esses, reconhecidamente deixamos um encarecido muito obrigado, pelo trabalho, mas
também pela confiança que em nós depositaram.
Quando,
há sete anos atrás, entrei nesta tão nobre casa, estava longe de me imaginar no
desempenho desta função e num colégio tão diferente. Incontestavelmente, o
colégio de hoje é muito diferente do de então.
Julgo
que já ninguém tem dúvidas de que vivemos num período de profunda mudança,
provavelmente a maior, por que o colégio passou, na sua já longa existência, e
quiçá no seu futuro.
Contudo,
se me fosse dada a oportunidade de escolher o momento para ser graduado, não tenho dúvidas de que escolheria o
presente momento. É um grande privilégio estar na linha da frente numa altura
que será decisiva para a continuidade desta nossa tão amada casa. Certamente
que seremos todos nós, e repito, TODOS nós, que, com a nossa entrega de corpo e
alma, decidiremos o futuro do Colégio Militar enquanto instituição fiel aos
seus pilares base.
Cabe-nos
a todos honrar os que passaram por estes egrégios claustros cheios de história
e tradição. É também nossa especial missão imortalizar o sonho do homem
visionário, que da lei da morte se libertou pela sua sabedoria e bravura, e
que, com a sua obra, garantiu que muitos meninos, ao longo dos anos, se
tornassem, para além de Homens, verdadeiros Meninos da Luz.
O
Colégio Militar vive atualmente um período de grande mudança. Uma mudança que
nos foi imposta, no conteúdo e também no calendário, e que não acautelou a
particular sensibilidade que deve orientar as alterações numa instituição como
esta.
No
entanto, e como o colégio tão bem nos ensina, devemos assumir que também nós
fomos a tinta que determinou esta mudança.
Fomos
nós, como Alunos, que ao não nos mobilizarmos para que dedicássemos à nossa
formação todo o nosso esforço e inteligência, deixámos que se propagasse um
aproveitamento escolar inadmissível para uma casa como esta, e de que os rankings, pontualmente, nos foram dando sinal. Fomos também nós, como Professores,
que permitimos que alguns, que se julgam de lugar garantido, não se empenhassem
na docência como este colégio merece e deve exigir. Fomos igualmente nós, como
Oficiais, que deixámos que o serviço no colégio fosse visto como um prejuízo na
carreira, e não como algo de prestigiante e gratificante. Fomos ainda nós que,
como funcionários desta casa, esquecemos o espírito e a dedicação
características dos antigos fâmulos, passando a regular a nossa atividade por
interesses essencialmente pessoais. Fomos nós, como Encarregados de Educação,
que quisemos um colégio à medida do nosso educando, não aceitando as virtudes
de um projecto educativo com provas dadas. Por fim, fomos também nós, como
Antigos Alunos, que fora destas quatros paredes nem sempre afirmámos o que cá
dentro se aprende, não ambicionando um contributo nas mais diversas áreas da
intervenção humana, esquecendo, por vezes, que esta barretina se traz no
coração, e não somente na lapela.
Fomos,
pois, todos nós que, de uma forma ou de outra,
entregámos o futuro do nosso Colégio à decisão de quem não o conhece.
A
restruturação foi-nos, pois, imposta, mas agora TODOS devemos ser parte ativa e
integrante da luta pela preservação institucional deste Colégio.
Aceitemos,
pois, que hoje, como sempre o futuro não é garantido pelo passado, mas irá depender, em grande
medida, das nossas ações do presente.
Como
sabemos, todo o processo de mudança já leva um ano. Por isso, é meu justo dever
congratular não aqueles que o aceitaram de uma forma passiva, mas em especial
todos aqueles que, em prol do futuro do Colégio, e muitas vezes pondo de lado
algumas das suas convicções, não desistiram desta nossa. Assumindo como
desafios o que outros veriam como problemas.
Pais, Encarregados de Educação e demais familiares,
alegra-me saber que confiam no Projeto Educativo do Colégio Militar e, desde
já, vos felicito pela coragem da vossa escolha que, embora poucos tomem, ainda
menos se arrependem de a ter tomado. O Colégio complementará a formação dos
seus alunos; no entanto, é da vossa competência e responsabilidade a educação
dos vossos educandos. Acompanhem o seu percurso, apoiem e ajudem os vossos
filhos, ambicionem e exijam mais deles. Sendo o colégio uma segunda família, é importante uma relação
de cooperação e empenhamento conjuntos, para que a educação dos vossos educandos
não fique comprometida.
Professores, vós sois uma parte fundamental na
continuidade deste Colégio, numa altura em que se questiona o aproveitamento
escolar dos alunos: para além de exigência, pedimos-vos profundo envolvimento.
Empenhem-se e exijam empenho; só assim a vossa função e o esforço serão
inequivocamente retribuídos pelas gerações que aqui voltarão. Estamos certos
que com o vosso espírito de missão e de sacrifício, conseguiremos inverter o
ciclo menos positivo que, infelizmente, o colégio tem vindo experienciar
relativamente aos nossos resultados escolares. Por isso, sublinho as palavras
de William Arthur Ward, que tantos de nós reconhecem; “O professor medíocre descreve, o bom professor explica, o professor
superior demonstra e o grande professor inspira.”
Militares, a história desta casa está pejada de
inúmeras expressões das virtudes militares, nomeadamente a coragem, a
lealdade, a honra, a camaradagem, o espírito de servir e o amor à Pátria.
Peço-vos que, com a vossa conduta e empenho, luteis para que estes continuem a
ser os valores de orientação da vivência colegial. Só assim conseguireis
prestar um verdadeiro serviço militar à Nação.
Demais
servidores desta nossa Casa, os
vossos antecessores são parte incontornável da história do Colégio; por isso
vos peço que não sucumbais perante a tarefa de contribuir para um Colégio
melhor.
Novos
alunos, futuros ratas, estais formados pela primeira vez em frente a todo o
Batalhão Colegial, o qual em breve e solenemente ireis integrar. Por estes
centenários claustros passaram gerações e gerações de alunos que enfrentaram as
adversidades que vós ides ultrapassar. No início, muitas serão as lágrimas
derramadas, mas estou certo de que no fim serão muitas mais, natural fruto do
orgulho de finalizar um amado percurso que agora se inicia. Aqui aprenderão o
significado das palavras Camaradagem, União, Esforço, Dedicação, Altruísmo e Abnegação, palavras essas que vos
guiarão não só no vosso percurso colegial, mas serão parte da formação que vos
norteará ao longo das vossas vidas. Nesta casa, a força de todos reside no empenho de cada um, e a
alma de cada um alimenta o espirito de todos. Sereis “ Um Por Todos, Todos Por
Um”.
Hoje
ainda só Turistas, amanhã, verdadeiros Meninos da Luz prontos a honrar a Casa
que vos fez crescer.
Uma
palavra especial às alunas que vieram do
Instituo de Odivelas. É com um enorme pesar que vemos desalentar uma
instituição que sempre esteve ligada ao Colégio. Por tudo isto, e porque esta
é, agora, a Casa de todos nós, peço-vos o vosso empenho na afirmação deste
nosso Projeto Educativo.
Graduados, o nosso trabalho estará para sempre
ligado ao futuro do Colégio. Pela positiva ou pela negativa, seremos sempre
parte integrante da sua história. Enfrentaremos dificuldades que,
provavelmente, nunca outros Graduados enfrentaram.
Anime-nos, no entanto,
uma frase de outras forças especiais,
“se fosse fácil estariam cá outros”.
Tenho plena confiança de que estareis à altura das inúmeras barreiras que
iremos ter de ultrapassar.
Sinto
um verdadeiro privilégio por integrar esta equipa. Sois aqueles que comigo
sorriram nos bons momentos, e nos tempos difíceis me ampararam e alentaram,
para que junto triunfássemos.
Por
último, uma palavra com particular emoção, a todo o Batalhão Colegial: sois vós a verdadeira essência desta casa, em
todos nós reside a esperança de um futuro à altura dos nossos pergaminhos. É
tempo de refletirmos sobre as nossas atitudes e querermos ser, mais do que
nunca, verdadeiros Homens de valor. Ser aluno do colégio é primar pela
excelência, independentemente do género ou do regime de frequência; compete-nos
a todos dignificar a farda que envergamos. Só o nosso esforço conjunto ditará a
justa perenidade desta casa.
Termino,
citando um grande líder que mudou a história da humanidade. Nelson Mandela, em
tempos, disse que “A grande glória não está em nunca cair, mas em
levantarmo-nos cada vez que caímos”. O Colégio, nos seus mais de duzentos anos,
deparou-se com guerras, crises, mudanças de regime, novas constituições; foi
posto em causa, mudou, mas nunca tombou. Será, sem dúvida, pretensioso afirmar que algo ou alguém lhe
porá fim.
Por isso, devemo-nos
unir para divisarmos, pelo menos, mais dois séculos de Glória Colegial. Uma
certeza tenho “ Se o espirito vive, a chama perdura”
Ao nosso tão amado
Colégio, um forte Zacatraz,
Bem
Hajam.
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