As regras que podem funcionar para o BPI podem não funcionar para o BES, e sem os laços de amizade entre as pessoas no topo dos grupos BES e PT, provavelmente não se tinha ido tão longe no descalabro.
Ética militar
Ricardo Reis
As discussões em torno do BES e da PT tendem a dividir-se em dois campos. De um lado estão os que realçam o papel das instituições, quer na regulação quer nas regras internas das empresas, que permitiram os maus atos de gestão. Do outro lado, estão os que preferem discutir a honestidade ou competência dos intervenientes como a fonte do mal.
A separação não é clara. Por um lado, as instituições moldam as pessoas, e Salgado, Ricciardi, Bava ou Granadeiro são "insiders" do sistema português, produtos das suas regras e culturas. Por outro lado, as instituições são feitas por pessoas. As regras que podem funcionar para o BPI podem não funcionar para o BES, e sem os laços de amizade entre as pessoas no topo dos grupos BES e PT, provavelmente não se tinha ido tão longe no descalabro.
Dois economistas tentaram recentemente avaliar o efeito das instituições nas pessoas olhando para uma instituição antiga: o serviço militar. Durante muito tempo, uma amostra dos rapazes portugueses, primeiro muito alargada, e depois progressivamente mais pequena e aleatória, tinha de passar meses a ser endoutrinado num conjunto de valores militares. Muitos deles acabaram anos depois como gestores de empresas. Do lado positivo, espera-se que a experiência militar lhes tenha ensinado liderança, espirito de sacrifício, ou a ter calma debaixo de pressão. Do lado negativo, talvez lhes tenha ensinado a serem conformistas e pouco inovadores. Qual será o efeito total?
Dois economistas olharam para esta questão usando o passado militar dos CEOs das 800 maiores empresas americanas entre 1980 e 2006. O desafio empírico é que as pessoas de determinadas características podem escolher quer o serviço militar voluntário, quer tornar-se gestores. Para o ultrapassar, os economistas olham para as alturas em que os EUA combatiam guerras que exigiam maior esforço militar, o que levava a uma maior probabilidade de um rapaz ter treino militar, independentemente das suas características ou escolhas pessoais. Podem assim distinguir o efeito causal que este treino teve.
Os resultados mostram que os CEOs com passado militar investem menos, sobretudo em investigação, e também se endividam menos. Ao mesmo tempo, nas alturas em que o setor da empresa está em crise, as empresas dirigidas por CEOs militares têm melhor desempenho. Confirmam-se assim as impressões que a experiência militar traz conservadorismo e calma sobre pressão.
Mais interessante à luz dos casos BES e PT é o efeito que o passado militar tem na propensão para a fraude. Os CEOs militares tem 70% menos hipóteses de serem condenados por fraude. O serviço militar tem um efeito enorme nesta medida básica de comportamento ético.
Por muitas boas razões já não temos serviço militar obrigatório. Mas isso não quer dizer que não podemos aprender com os militares a forma de incutir valores nos nossos alunos de MBA ou na sociedade em geral. Talvez assim podemos reduzir os comportamento desonestos que nos têm chocado nos últimos tempos.
3 comentários:
O ministro da pincelada efémera não fez serviço militar, obviamente.
Devemos ser dos poucos países em que se desperdiça os militares na reserva ou na reforma para funções civis.... Devemos ter peçonha...
Devemos ser dos poucos países em que se desperdiça os militares na reser ou na reforma para funções civis. Devemos ter peçonha...
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