SEQUENCIA CRONOLÓGICA DOS ACONTECIMENTOS
A BORDO DA FRAGATA NRP “GAGO COUTINHO”
25 DE ABRIL DE 1974
1.
Às 07H00 a Fragata Gago Coutinho sai da Base
Naval de Lisboa a fim de integrar a força da NATO
com destino a Nápoles.
2.
O navio ocupa a sua posição na formatura da Força Nato.
3.
Entre as 08H00 e as 08H30 o EMA/VICE-CEMA ordena ao
Comandante do navio que abandone a formatura, bem como a
estrutura de Comando aliada, passando a atuar sob as ordens directas do
Almirante CEMA.
4.
Em rumo para o Terreiro do Paço, o Imediato
informa o Comandante de que há um compromisso de
neutralidade activa da Marinha para com o Movimento Militar.
5.
Pouco depois o Comandante recebe a ordem do Vice
Cema para abrir fogo sobre os tanques
rebeldes do Terreiro do Paço (existem testemunhas dessa comunicação), sendo-lhe
afirmado que a Marinha tinha de tomar uma posição contra o Movimento.
6.
O Comandante,
alegando existirem cacilheiros e muitos civis no Terreiro do Paço, não cumpre a
ordem, informando mais tarde ter problemas na artilharia. Entretanto dá ordem
ao chefe de Serviço de Artilharia para colocar as peças de 76.2/50 na máxima
elevação (85o) e municiar as peças
com munições de combate, dando inicio a manobras do navio a velocidade elevada
na zona fronteira ao Terreiro do Paço.
7.
A estrutura do Movimento da Marinha toma
conhecimento imediato das ordens dadas pela liderança da Marinha ao navio, de
oposição ao Movimento Militar; informa o Posto
de Comando do Movimento do que se estava a passar.
8.
Entre as 08H30 e as 09H00 o Comandante reúne na câmara de oficiais com
o Imediato, o Ten.
Varela Castelo e o Ten. Almeida Moura para enunciar que existiam três
alternativas face a um potencial ataque das forças revoltosas: FUGA,
PASSIVIDADE e REACÇÃO. E afirma que nessa eventualidade optaria pela reacção.
9.
O Posto de Comando contacta com um elemento de
ligação da Direcção do Movimento da Marinha no sentido de ser transmitida para
a Fragata ordem para baixar as peças, levando-as à horizontal, e sair a barra ou fundear. Esta ordem é
transmitida ao navio através de elementos do
Movimento na Esquadrilha de Submarinos.
10.
Entre as 09H00 e as 09H30 o Comandante recebe
ordens para fazer fogo de salva para o ar. Dado não existirem a bordo nem peças
nem munições de salva, pelas 09H30, de acordo com o registo do Diário Náutico,
o Comandante dá ordens para municiar as peças com munições de exercício.
11.
Entre as 09H30 e as 09H45 o Almirante CEMA dá
directamente ordem de fogo de salva ao Comandante, reforçando a ordem já dada
anteriormente pelo Vice-CEMA. O Comandante determina ao chefe do Serviço de
Artilharia que faça fogo com munições de exercício para o ar.
12.
O chefe do Serviço de Artilharia não obedece à
ordem do Comandante, informando-o de que o Imediato lhe queria dar uma palavra.
13.
O Imediato do navio, tentando falar a sós com o
Comandante na asa da ponte de bombordo, o que não conseguiu, reafirma-lhe, na
ponte do navio, a intenção dos oficiais de recusarem fazer fogo, mesmo com
munições de exercício.
14.
O elemento do Movimento na Esquadrilha de
Submarinos é o Ten. Lourenço Gonçalves, que, com a ajuda do Cabo Telegrafista
Viana, estabelece a comunicação com a fragata referida no ponto 9, transmitindo
ao Imediato, em nome do Posto de Comando do Movimento, a seguinte ordem: “O seu
navio é o único fiel ao governo. Saia a barra com as peças em zero, ou fundeie”.
15.
O Imediato informa o Movimento, através deste
oficial, que a situação a bordo estava
controlada que o Comandante tinha dado ordem de fogo com munições de exercício
para o ar e que os oficiais se tinham recusado a cumprir a ordem.
16.
Enquanto o Imediato estava na cabine TSF, o
Comandante deu segunda ordem de fogo com munições de exercício ao 1º Ten. Dores
Sousa, que mais uma vez se recusou a cumprir a ordem.
17.
Finda a comunicação com o Posto de Comando do
Movimento, o Imediato dirigiu-se à ponte para informar o Comandante do diálogo radiotelefónico
havido. Quando começa a transmitir o teor da
comunicação, o Comandante, em crescente histeria, não o deixa completar a sua
informação e exonera-o do cargo de Imediato. O Comandante convida os oficiais que
se seguem em antiguidade ao Imediato para assumirem o cargo, convite que
recusaram.
18.
Após ter sido transmitida a ordem do Posto de
Comando do Movimento Militar ao navio através do contacto com o Imediato, a
estrutura do Movimento da Marinha retransmite ao Posto de Comando a informação
do Imediato de que a situação estava controlada e que o navio não abriria fogo. Esta informação é passada pelo Posto de Comando
às Forças do Terreiro do Paço.
19.
Os oficiais mantiveram-se disciplinadamente a
cumprir as ordens do Comandante, excepto a de abrir fogo.
20.
Pelas 13H20 o navio fundeou no Mar da Palha. O Comandante
convoca todos os oficiais para uma reunião na câmara. Em cima da mesa coloca
uma pasta de arquivo verde, onde estava inscrita a palavra “REVOLUÇÃO”.
21.
Após ter inquirido todos os oficiais um a um, do
mais moderno para o mais antigo, sobre se mantinham a sua posição de recusa em
abrir fogo, o Comandante considerou todos os oficiais insubordinados.
22.
No final da reunião, que terminou antes da
rendição de Marcelo Caetano no Carmo, o Comandante realçou, explicitamente, a
necessidade de cada um não se esquecer da posição assumida, pois ele também não
se esqueceria.
23.
Às 20H15 o navio suspendeu do Mar da Palha e
entrou no canal do Alfeite, dirigindo-se ao cais 2 da Base Naval de Lisboa onde
atracou pelas 20H40.
Documento elaborado pelo Imediato e pelos oficiais da Fragata Gago
Coutinho
1 comentário:
Pouco antes do 25ABR embarquei neste navio como "observador" de um exercício. Aí foi-me dado observar a permanente atitude histérica do Cmdt Seixas Louçâ, a prepotência constante e a falta de comunicação e diálogo com os oficiais, o que, de certo modo explica ter sido apanhado de surpresa nesta situação. Tudo isto acompanhado de muito pouca competência marinheira. E que depois não venha o pessoal da "asa" esquerda dourar a pílula com versões mais simpáticas.
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