Associação dos Pais das Alunas do Instituto de Odivelas
Carta Aberta
ao Senhor Ministro da Defesa Nacional
Excelentíssimo Senhor Ministro,
Fazemos
parte das cinco centenas de pessoas que V. Exa. teimosamente ignora e a quem
orgulhosamente não escuta...
Somos, Mães,
Pais, Professoras e Professores de "Meninas de Odivelas" e
Funcionárias e Funcionários Civis do Instituto de Odivelas...
Somos,
juntamente com as cercas de 300 "Meninas de Odivelas", vítimas
directas da "morte anunciada" do Instituto de Odivelas,
atabalhoadamente "Despachada" por V. Exa. em agonizantes prestações
anuais.
V. Exa. não
nos quer escutar... Nunca quis! É-lhe incómodo!
Mas nós
temos direitos, e não é pelo facto de V. Exa., sistemática e reiteradamente, os
ignorar que eles se extinguem!
Permitimo-nos
começar por recordar-lhe que todos os que de entre nós colocaram as respectivas
filhas no Instituto de Odivelas, como alunas internas, antes do ano lectivo de
2012/2013, "adquiriram" um modelo educativo, em regime de internato,
e um projecto educativo específico para a totalidade do percurso escolar das
suas filhas (desde o 5º ao 12º Ano)... no limite até ao ano lectivo de
2019/2020.
Em 2013 V.
Exa., enquanto Ministro da Defesa Nacional, e sendo o Ministério da Defesa
Nacional, apenas e tão-só, uma das partes desta relação contratual bilateral,
alterou abusiva e unilateralmente as regras destes "contratos de
educação", sem escutar as contra-partes, no caso os Pais. Porque se
tivesse escutado os Pais nas audiências e reuniões em que os recebeu teria
percebido que os fundamentos para a extinção do Instituto de Odivelas plasmados
no seu despacho são FALSOS.
Com o seu
mais recente Despacho, datado de 6 de Fevereiro pp, veio V. Exa., mais uma vez,
frustrar as legítimas expectativas dos Pais, insistindo em alterar
unilateralmente contratos que, não sendo contratos de adesão e por serem
bilaterais, não deveriam ser unilateralmente alterados. Sendo V. Exa. membro do
Governo e jurista, compreende certamente o valor da jurisprudência e das regras
do Estado de Direito.
De acordo
com o mencionado despacho de V. Exa., e tendo V. Exa. determinado em 2013 o
encerramento do Instituto de Odivelas (IO) no ano lectivo de 2015/2016,
gostaríamos de perguntar a V. Exa. qual será o "estatuto", no ano
lectivo de 2014/2015, das alunas do IO que terão a componente lectiva no
Colégio Militar (CM). Serão alunas do IO ou do CM? Terão que formar na parada
como as alunas e alunos do CM? Terão que marchar com arma como as alunas e
alunos do CM? Terão obrigatoriamente "Instrução Militar" como as
alunas e alunos do CM? E quem será o seu Director, o do IO ou o do CM? E a
Comandante de Batalhão e as Graduadas... Como funcionará a hierarquia colegial
se parte das Companhias passam a maior parte do tempo no CM?
Com alunas
"em trânsito", entre Odivelas e o Largo da Luz, como pensa V. Exa.
conciliar horários, nomeadamente a hora de início e termo do período escolar
diário... Qual será a carga horária e as componentes ministradas? Como irão
coexistir fardas diferentes? Como se resolverá a duplicação brusca do números
de estudantes no CM? Onde se irão vestir/despir e tomar banho cerca de 250
meninas, numa escola, desenhada, pensada e ocupada há mais de dois séculos só
por rapazes?
Não
perguntou V. Exa. aos Pais se pretendem que as filhas manuseiem armas de
guerra, sendo certo que também ninguém informou os Pais que assim passaria
obrigatoriamente a ser a partir de 2014... Esta é uma realidade que não existe
no IO, uma realidade que os Pais não "contrataram" e que entendemos
que V. Exa. não deveria impor!
O actual
vazio de informação relativamente às questões de ordem prática que decorrem do
Despacho de V. Exa. de 6 de Fevereiro configura um abuso, uma violação do
direito de informação. Como todos sabemos a inscrição em muitas escolas começou
já em Janeiro... E falta de informação que V. Exa. impõe aos Pais prejudica uma
tomada de decisão consciente desde já.
No que diz
respeito aos Professores, a primeira questão que se coloca é a de saber como é
que, acompanhando o Corpo Docente as alunas e mantendo-se no IO o 9º Ano e o
12º Ano (conforme determina o Despacho de V. Exa.), serão dadas as aulas a
estas últimas? Terão aulas por E-learning? Repristinará V. Exa a
"tele-escola"?!
E o corrupio
das Alunas, entre Odivelas e o Largo da Luz, será extensivo ao Corpo Docente? Relativamente
aos professores, se for esta a opção, quem assegurará o transporte?
E no que diz
respeito aos demais Funcionários, qual será o futuro? Como vão ocupar o dia,
entre a saída das cerca de 250 alunas pela manhã e o seu regresso a meio da
tarde? Ou será que irão acompanhar as alunas para o CM... assim se estendendo,
também a estes, o vaivém diário?!
Existem,
como pode V. Exa. ver, muitas questões de ordem prática, a necessitarem de
resposta urgente.
Mas
infelizmente prevemos que V. Exa. se ocultará no silêncio.
Como poderá
agora V. Exa. justificar o acréscimo de custos, encapotado sob o argumento da
austeridade, com o transporte das alunas do Instituto de Odivelas para o
Colégio Militar? Qual a contabilidade de custos e receitas que justifica a
promessa de V. Exa. de construir o "internato feminino" no Colégio
Militar, para funcionar em pleno no ano lectivo 2014-2015? Para que servirá o
Instituto de Odivelas devoluto? Quem ganhará com isso?
Facto
incontestável é que V. Exa. decidiu, abusiva e unilateralmente, humilhar e
suprimir um projecto educativo centenário, criado nos tempos da monarquia, e
que nem a República ou o Estado Novo se atreveram a encerrar.
Saberá V.
Exa. qual o acréscimo de custos para o Estado?
Sem comentários:
Enviar um comentário