domingo, 8 de junho de 2014

ÀS ARMAS

Despedida do Comandante do batalhão colegial
Ex.mo Senhor Coronel Tirocinado, Director do Colégio Militar,
Oficiais, Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis,
Exmos. Convidados,
Pais e Encarregados de Educação,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Condiscípulos,

Findo mais um ano lectivo, este, em particular, marcado por profundas reformas no quotidiano dos Meninos da Luz e da comunidade colegial, é tempo de reflectir sobre tudo o que de bom e de mau foi feito para que o ano que se aproxima traga maior estabilidade, eficiência e sucesso.
Porém, e apesar do ano estar no fim, muitos de nós estamos ainda em condições de provar o nosso valor enquanto individualidades e, consequentemente, de ajudar o Colégio que tão veementemente afirmamos defender. Os Exames Nacionais assumem uma importância extrema para o futuro de cada um de nós, já que condicionam a entrada na faculdade e, dessa forma, a nossa vida profissional. Contudo, para além relevância pessoal, são ainda extremamente importantes para a avaliação do Colégio Militar enquanto escola que é. Assim sendo, exigem de nós um esforço redobrado: primeiro por deles depender o futuro de cada um de nós e, segundo, por deles depender também o futuro do Colégio. Apostemos no empenho e no trabalho árduo de alunos, professores, oficiais e encarregados de educação e o sucesso será uma questão de tempo!


Chegado este período de reflexão, e por não estar, de todo, satisfeito com muito do que presenciei ao longo deste ano que hoje termina, sinto-me na obrigação de vos dizer que estou desiludido e desapontado com o nosso trabalho. Estou desiludido não com os erros que cometemos, porque somos humanos e errar faz parte da nossa condição, mas com tudo o que, por preguiça ou desleixo, deixámos por fazer.
Pais e Encarregados de Educação, no início do ano lectivo congratulei-vos pela escolha consciente e assertiva que fizestes ao optar pelo projecto educativo do Colégio Militar e pedi-vos que apoiassem os vossos filhos nas boas e, principalmente, nas más situações, já que a família é um pilar fundamental na educação de qualquer criança e jovem adulto. A todos os que se interessaram e se envolveram na dinâmica do nosso Colégio, que souberam identificar os problemas dos vossos educandos e deram o melhor que puderam e souberam para os resolver, estou-vos profundamente grato! O vosso esforço e a vossa dedicação tornou-nos muito mais Fortes! Contudo, hoje, nove meses depois, sinto-me também triste pelo abandono a que são votados muitos dos nossos alunos. O Colégio Militar e a família colegial não substituem, em caso algum, o amor, o carinho e a atenção de um pai e de uma mãe. Só em comunhão com a família seremos capazes de formar cidadãos plenos de consciência, prontos a Servir Portugal.
Professores e Oficiais, no início do ano lectivo pedi-vos que exigissem o máximo dos vossos alunos e que excluíssem a palavra “desleixo” tanto do vosso como, principalmente, do dicionário dos vossos discipulos, mesmo que isso vos custasse uma reputação menos boa perante eles. Hoje, nove meses depois, não só estou certo de que mantivestes a mesma atitude ociosa que até então tínheis adoptado como também estou certo de que sois os causadores maiores da instabilidade nesta Casa. Depois de em Janeiro de 2013 me ter dirigido aos poucos que tiveram disponibilidade para assistir à Récita, afirmando que era tempo de pôr fim às intrigas e às divergências que têm vindo a corromper o Colégio por dentro e de unir forças, julguei que as palavras proferidas na Abertura Solene fossem suficientes para que compreendêsseis a importância e a necessidade do trabalho conjunto...
Porém, enganei-me. Hoje, noves meses depois, tenho perfeita noção de que não sois nem nunca ireis ser capazes de abdicar dos vossos interesses pessoais em prol do bem colectivo! Assim sendo, pergunto-me… Como podemos nós ambicionar um Colégio forte, um Colégio ao nível da sua áurea História de 211 anos, se não somos capazes de resolver os atritos que comprometem o sistema?
Por fim, e por vos considerar a Pedra Angular desta Casa, dirijo-me a vós, alunos. Nestas últimas palavras como Comandante de Batalhão, não posso deixar de felicitar os muitos que se contentaram com o pouco que tinham, os muitos que não foram capazes de abandonar a sua zona de conforto, os muitos que, por desleixo ou preguiça, não ambicionaram ser melhores. Parabéns! Continuai assim e sereis exactamente aquilo que sempre ambicionastes – cidadãos comuns, livres de qualquer preocupação ou responsabilidade, enfim, fareis parte da imensidão de fracos que a História tende sempre a esquecer! Por outro lado, é com gosto que congratulo todos os que atingiram os objectivos a que se propuseram, todos os que sonharam ser melhores e que, pelo esforço, pelo trabalho árduo e pela dedicação, o conseguiram. O sonho e a ambição são a base do futuro! O Colégio precisa de vós, dos vossos sonhos, das vossas capacidades e da vossa força!
Finalistas, hoje é o primeiro dia do resto das vossas vidas! Termina aqui, nestes centenários claustros que viram crescer e morrer centenas de Meninos da Luz, sob a cúpula e o zimbório onde já figuram o capote e a barretina, este longo percurso de oito anos, iniciado por muitos, concluído por poucos. Ainda envergo a farda cor-de-pinhão que me acompanhou desde tenra idade e já a saudade me assola o coração. Saudade das brincadeiras de camarata, dos desfiles na Avenida, dos jogos de futebol e das patuscadas da Escolta, saudade dos momentos de alegria que partilhei convosco, saudade dos momentos de tristeza que me ajudastes a ultrapassar, saudade de vós e do Colégio… Mas hoje, por muito que nos custe, é o fim… o fim de um ciclo de oito anos que marcou profundamente as nossas vidas, o fim de um ciclo de oito anos que jamais esqueceremos…
Todavia, por muito que o dia de hoje fique recordado como o dia do fim, é também um dia de inicio e de passagem do testemunho. Início de uma nova realidade, início de uma nova vida fora destes frios muros e passagem do testemunho aos próximos graduados, a quem vai ser exigida uma capacidade de adaptação profunda à nova realidade colegial.
É a vos, futuros finalistas, que me dirijo por último, falando-vos da mesma forma que falei aos meus graduados na Abertura Solene. O ano lectivo que se aproxima reserva-vos inúmeros obstáculos e só tendo por base o bom senso e o Código de Honra sereis capazes de os ultrapassar. Gostava que interiorizásseis as palavras de Lichtenberg: “Quando os comandantes perdem a vergonha, os comandados perdem o respeito.” E nada pior há que perder o respeito dos comandados porque quando isso acontece, deixamos, simplesmente, de ser líderes e tornamo-nos ditadores.
Termino, recorrendo mais uma vez às palavras de John F. Kennedy, desta vez, aquando do lançamento aos americanos do desafio de levar um homem à Lua e trazê-lo de volta a Terra em segurança, dizendo-vos que nós escolhemos ser uma das melhores escolas do país… nós escolhemos ser uma das melhores escolas do país, não por ser fácil, mas por ser difícil! Tudo está ao nosso alcance desde que risquemos a palavra impossível do nosso dicionário!

Muito Obrigado!

Façam o favor de ser felizes!

2 comentários:

Anónimo disse...

E o Coronel ainda lá está???

Vizela

Anónimo disse...

Também acho e também não percebo porque é que o sr coronel tirocinado ainda é sr director.

Zé B.