Aqui, e agora, por se achar oportuno, publicamos,com a devida vénia, só a parte que diz respeito a Oficiais de Marinha que frequentaram o Colégio Militar e se distinguiram .
Este laborioso e notável trabalho foi elaborado pelo Senhor C/Almirante Luís Joel Pascoal
-II-
No que respeita à Armada, o primeiro antigo aluno do Colégio
a entrar para os seus quadros permanentes foi o Capitão-de-Mar-e-Guerra Pedro
Alexandrino da Cunha (1801-1850), marinheiro corajoso, profissional
competente e patriota dedicado, que chegou a governador-geral de Angola após
largos anos de comissão de embarque em serviço nesse território. Veio a falecer
em Macau no exercício do cargo de governador.
Incluindo este pioneiro, e até Setembro de 2013, abraçaram a
carreira naval trezentos e trinta e três
voluntários habilitados com o curso do Colégio Militar. A classe de
oficiais de longe mais representada é a classe de Marinha, embora se tenham
distribuído por quase todas as restantes, provenientes ou não da frequência de
cursos da Escola Naval. Há ainda a mencionar que, entre 1958 e 1990, se
voluntariaram para prestar serviço na Armada, agora nos quadros de complemento da Reserva Naval, mais cinquenta e seis antigos alunos do
Colégio Militar.
Dada a natureza deste artigo, num bosquejo rápido e sucinto,
podemos apresentar, como exemplos ilustrativos, e dentre muitos, os nomes
seguintes:
- No campo das Ciências e Investigação do Mar, o Capitão-de-Fragata
Mariano Ghira (1828-1877),
engenheiro hidrógrafo. Lente da Escola Naval e Lente da Escola Politécnica.
Serviu no Brasil e África Ocidental e foi o primeiro “Menino da Luz” da Armada
a ser agraciado com a Torre e Espada; e o Vice-Almirante César Augusto de Campos
Rodrigues (1836-1919), engenheiro hidrógrafo, que alcançou grande
prestígio internacional como director do Observatório Astronómico de Lisboa
durante quase três décadas; o Vice-Almirante Hugo de Carvalho de Lacerda
Castelo Branco (1860-1944), engenheiro hidrógrafo. Lente da Escola Naval.
Chefiou importantes levantamentos hidrográficos e portuários em África e Macau.
Foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa e da Sociedade de Geografia de
Lisboa; e o Capitão-de-Mar-e-Guerra Abel Fontoura da Costa (1869-1940),
sábio matemático, ilustre Lente da
Escola Naval, reitor do Liceu do Carmo e fundador do Liceu do Mindelo. Foi
co-autor de tábuas náuticas de grande qualidade e autor de aprofundados estudos
de Marinharia dos Descobrimentos;
- Por Feitos Heróicos em Campanha, o Capitão-Tenente
Álvaro Herculano da Cunha (1864-1915), combatente de África de valor
excepcional, que se distinguiu nas campanhas de pacificação da Guiné entre 1891
e 1896, território de que foi depois governador. Condecorado com os graus de
cavaleiro e oficial da Torre e Espada e com duas medalhas de ouro de Valor
Militar; o Capitão-de-Mar-e-Guerra Filipe Trajano Vieira da Rocha (1870-1944),
que se notabilizou pelas suas acções de comando em operações nos rios de
Moçambique, em 1895. Foi também um dos pioneiros de trabalhos geodésicos e
hidrográficos em África entre 1904 e 1926. Condecorado com o grau de comendador
da Torre e Espada e com a medalha de ouro de Valor Militar; e o Vice-Almirante
António Ladislau Parreira (1869-1941), militar e político, combatente
das campanhas de pacificação da Guiné (1894) e Moçambique (1895). Participou
activamente na preparação da Revolução de 5 de Outubro de 1910 e foi
condecorado com o grau de comendador e dois graus de cavaleiro da Torre e
Espada;
- Na Área da Política e Administração Pública, vários
foram os oficiais oriundos do Colégio Militar que exerceram cargos ministeriais
ou de alta administração, quer no Continente, quer nas outras parcelas
portuguesas. Por exemplo: o primeiro antigo aluno a ser ministro da Marinha (em
1920 e 1923), o Capitão-de-Mar-e-Guerra Joaquim Pedro Júdice Bicker
(1866-1926), heróico combatente da Guiné, condecorado com a comenda da
Torre e Espada e a medalha de ouro de Valor Militar; o Vice-Almirante Luiz
António de Magalhães Corrêa (1873-1960), cavaleiro da Ordem da Torre e
Espada, governador de Macau e depois ministro da Marinha (1928-1930). Foi ainda
Administrador da Zona Internacional de Tânger no período 1945-1948; o Capitão-de-Mar-e-Guerra
Vasco António Martins Rodrigues (1917-1983), oficial ilustre com larga
experiência administrativa no Ultramar como governador do distrito de Lourenço
Marques e, mais tarde, governador da Guiné; o Vice-Almirante Manuel Pereira
Crespo (1911-1980), notável professor de Estratégia e Organização do
Instituto Superior Naval de Guerra e elemento fulcral da grande reforma da
Armada nos anos 1960’s e que veio a ser o último ministro da Marinha (1968-1974);
e o Contra-Almirante
Vasco Fernando Leote de Almeida e Costa (1932-2010). Militar e
político. Comandou a esquadrilha de lanchas da Guiné, serviu no comando naval
de Moçambique e exerceu o cargo de governador de Macau. Foi ainda membro do
Conselho da Revolução (1975-1982);
- Na Área do Comando Superior da Armada, três antigos
alunos do Colégio Militar chegaram ao topo da hierarquia naval: o Vice-Almirante
Joaquim Anselmo da Matta Oliveira (1874-1948), notável oficial de
estado-maior, autor e publicista de temas de história e estratégia militar, que
foi também governador de Macau e Major-General
da Armada; o Vice-Almirante Fernando de Oliveira Pinto (1887-1961),
combatente de África e da I Guerra Mundial, condecorado com a medalha de prata
de Valor Militar e duas medalhas da Cruz de Guerra. Esteve muito ligado à
Escola Naval ao longo da sua carreira, que culminou como Major-General da Armada; e o Almirante João José de Freitas Ribeiro
Pacheco (1934- …), de carreira multifacetada. Comandou em combate um
destacamento de fuzileiros especiais (DFE) na Guiné, foi comandante naval dos
Açores, director-geral do Instituto Hidrográfico e director do Instituto da
Defesa Nacional. Condecorado com a medalha da Cruz de Guerra. Exerceu o cargo cimeiro de Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA)
entre 1994 e 1997.
Muitos outros nomes poderiam ser enquadrados, com igual
pertinência e justiça, nesta galeria de antigos alunos do Colégio Militar que
se sentiram atraídos pelo fascínio do Mar ao serviço da Pátria. Razões óbvias
de espaço disponível não o permitiram, sem que tal significasse qualquer
predomínio do valor dos citados sobre os méritos profissionais dos aqui não
incluídos. Uma anotação necessária: tratando-se de marinheiros, neste olhar que
abarca um horizonte imenso de mais de dois séculos e sabido que a Armada é
sobretudo a saga e o reflexo dos homens do mar que a corporizam, não será
descabido referenciar, por último, o Capitão-de-Mar-e-Guerra António Alemão de
Cisneiros e Faria (1879-1946). Combatente da I Guerra Mundial,
notabilizou-se como comandante da canhoneira Beira em operações nas águas de Cabo Verde. Condecorado com a
medalha da Cruz de Guerra e a medalha da Distinguished
Service Order (DSO) britânica, concebeu e garantiu o acondicionamento e
transporte a bordo do cruzador Carvalho
Araújo, sob seu comando, do hidroavião Fairey
17 “Santa Cruz”, o que veio a permitir a Gago Coutinho e Sacadura Cabral,
em 1922, a conclusão da histórica 1.ª
Travessia Aérea do Atlântico Sul. Mas o grande prestígio que alcançou, e
que perdura na Armada, deveu-se à sua acção como principal responsável pelos
extensos trabalhos de conversão de uma presa de guerra alemã, a barca Rickmer Rickmers, no que passou a ser o
ícone da Marinha Portuguesa, o navio-escola Sagres,
e sobretudo ainda por ter sido o seu primeiro comandante, cargo em que durante
múltiplas viagens de instrução se confirmou como um manobreiro exímio e grande
inspirador para os vindouros."
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