Oficiais e sargentos receberam com surpresa e preocupação a nomeação de Berta Cabral para secretaria de Estado da Defesa, mas ressalvam que, mais importante do que o nome, são as políticas governamentais a prosseguir nas Forças Armadas.
“Vemos isto com uma profunda preocupação e pode estar a transmitir a instabilidade e insegurança que se vive no seio do Governo, não apenas na Defesa, com estas mudanças inopinadas quando se diz [o Governo] que está tudo bem”, afirmou à agência Lusa o presidente da Associação Nacional dos Sargentos (ANS), António Lima Coelho.
Ressalvando não questionar as competências de Berta Cabral, António Lima Coelho acrescentou que os conhecimentos na área da Defesa nacional “não se adquirem de um dia para outro” e defendeu que as alterações nesta área “devem ser consensuais, não só no seio Governo, mas de todos os partidos representados no Parlamento, e não é isso que se tem verificado nos últimos tempos”.
O presidente da ANS declarou que esta é uma forma “ligeira e leviana” de tratar de algo “tão importante” como a Defesa nacional, o que suscita à associação a que preside “as maiores” preocupações, tanto mais que se preparam modificações profundas nas Forças Armadas.
“Não é muito natural que se alterem os titulares de determinados cargos num processo destes, mas muito mais importante do que a cara ou nome de quem vai assumir certa pasta é saber se a política de descaracterização e destruição se vai manter ou alterar”, acrescentou António Lima Coelho.
Por seu turno, o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), Manuel Cracel, disse também à Lusa encarar com “surpresa” a nomeação para a pasta da Defesa, hoje conhecida, especialmente por se tratar de alguém do sexo feminino, uma situação inédita em Portugal.
“Estamos esperançados que, tratando-se de uma senhora, possa arrepiar caminho e dar outro rumo a práticas que não têm sido seguidas”, afirmou o presidente da AOFA, destacando o “sentido mais democrático” da nova secretária de Estado e mostrando esperança que a nova titular comece a cumprir a lei no que respeita a ouvir as associações profissionais militares.
“Mas não é mais importante para nós a personalidade que ocupa o cargo, mas as políticas praticadas e desenvolvidas, tendo em conta a importância das Forças Armadas. O facto de ser mulher confere-lhe alguma sensibilidade para ter uma percepção mais adequada e correta do papel das Forças Armadas e para que servem os militares”, concluiu Manuel Carcel.
Berta Cabral, ex-presidente da câmara de Ponta Delgada, chegou a ser candidata pelo PSD à presidência do Governo dos Açores nas eleições regionais de Outubro, mas saiu derrotada pelo socialista Vasco Cordeiro. A nova secretária de Estado da Defesa substitui no cargo Paulo Braga Lino.
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