A IMPORTÂNCIA DOS COLÉGIOS
MILITARES: PASSADO, PRESENTE E FUTURO
07OUT10
"Como se pode constatar pela data, foi escrito Há 3 anos. Como muitos outros
apenas antecipou eventos que vieram a ocorrer mais tarde.Já se sabe que em política não se pode ter razão antes de tempo, mas em Estratégia pode e deve-se.
E o adágio popular- que não é (são) mais do que o bom senso vertido na corrida da vida, mandava "pôr as barbas de molho....
Observem o que o Governo se está a preparar para fazer!"
BF
“Se você acha
que a educação é cara, experimente a ignorância”
Lema do
Ministério da Educação de Singapura
Existem
em Portugal três estabelecimentos de ensino secundário que são tutelados pelas
FAs, isto é, pelo Exército, e se distinguem profundamente, no seu funcionamento,
de todos os outros existentes no país e dependentes do Ministério da Educação
ou outras entidades civis e religiosas.
São
eles o Colégio Militar (CM), o mais antigo a ser criado, no ano de 1803, pelo
Marechal Teixeira Rebelo e um dos mais antigos do mundo; o Instituto de
Odivelas (IO), fundado em 1900 pelo Infante D. Afonso, irmão do Rei, e
destinado a alunos do sexo feminino; e o Instituto Militar dos Pupilos do
Exército (IMPE), criado pelo novel regime republicano logo em 1911, destinado a
filhos de sargentos e praças (e também oficiais), colmatando assim uma lacuna e
uma injustiça já que o CM apenas admitia filhos de oficiais. Foi seu fundador o
general António Xavier Correia Barreto, ao tempo ministro da guerra.
Não
vou falar-lhes da história dos três colégios, mas vou tentar salientar a
importância da sua existência no passado e no presente, fazendo a ponte para a
sua necessidade no futuro. Nas conclusões procurarei aduzir algumas das ameaças
que se perfilam à sua continuidade.
A
razão primeira que justificou a existência de colégios com características
militares foi o apoio social aos filhos dos militares (tendo começado pelos
oficiais), cujos pais estiveram afastados das suas famílias por motivos de
serviço. Este apoio era consubstanciado na existência de um estabelecimento de
ensino que lhes ministrasse o ensino primário e, sobretudo, o secundário. Não
menos importante, permitia que os órfãos de militares que tivessem falecido em
serviço, não ficassem desvalidos.
Com
o decorrer dos tempos a vivência em ambiente militar permitiria, mais
facilmente, despertar vocações para a carreira das armas. É por demais evidente,
que esta vivência em ambiente militar, obriga a uma tutela militar e é por isso
que desde o início da sua criação os colégios foram integrados no Exército.
Outra
das grandes virtudes dos colégios militares – permitam que assim englobe e
trate, os três – tem a ver com o facto de procurarem uma instrução e educação
completa e abrangente, dos seus alunos. Isto é, não se limitam a ministrar
conhecimentos técnicos e culturais, estão também preocupados com o
desenvolvimento físico (mente sã em corpo são), na sua formação moral, sem
esquecer o religioso, e na sua educação cívica. Outro aspecto importante:
ensina-se e pratica-se a liderança. E pasmem leitores, ainda hoje continuam a
instilar nos alunos o amor pela a sua Pátria!...
De
realçar, ainda, que o seu ambiente intra – muros permite uma convivência mais íntima
o que junto com as praxes académicas e uma prática alargada de experiências
comuns, permite soldar laços de amizade e camaradagem para toda a vida. Esta
vivência em comum, também conhecida como “internato” permite, por outro lado, a
oferta de um leque alargado de actividades – impossíveis de realizar em
estabelecimentos de ensino “normais”.
Finalmente,
toda esta vivencia, ainda por cima em ambiente militar, obriga ao
estabelecimento de regras e disciplina próprias, que harmonizam a liberdade e
individualidade de cada um com o bem-estar de todos.
Tudo
isto gera uma “ordem”. Esta ordem liberta mais do que oprime.
Onde
estão, então, as vulnerabilidades ou os defeitos de toda esta realidade? Nisto:
no afastamento das famílias e no eventual deficiente enquadramento dos alunos.
O
afastamento familiar tem que ser tentado colmatar através do melhor
acompanhamento possível por parte da família, durante os tempos livres e
férias. Hoje em dia este problema tem-se agravado pelo facto de muitos dos
alunos serem filhos de pais divorciados e, em muitos casos, os colégios
funcionarem como uma espécie de “depósito” das crianças. O eventual deficiente enquadramento,
tem a ver com a escolha e supervisão do corpo docente, militares destacados e
auxiliares civis contratados. E, claro, com os meios financeiros disponíveis.
Se a chefia e o enquadramento forem
deficientes, obviamente que a qualidade da formação baixa e dá-se azo à
ocorrência de actos impróprios.
Em conclusão,
as razões e a importância dos
colégios militares não desapareceram e mantêm-se nos dias de hoje;
constituem-se alforges de futuras elites de que o país é muito carente; mantêm
uma qualidade de ensino e formação, muito acima da média do país, garantindo
quase a 100% o acesso ao ensino superior e ao emprego, aos seus finalistas.
Arrisco-me
mesmo a dizer mais: a importância é hoje em dia acrescida, já que a consciência
cívica, anda pelas ruas da amargura; a dissolução da família tradicional é
patente e a qualidade do ensino é marcada pela primazia das estatísticas, a
ignorância encartada e o facilitismo militante.
Caros
compatriotas, hoje em dia tudo vai funcionando mas, no fundo, nada funciona…
Ora
não parecendo terem cessado as razões que levaram à criação e manutenção dos
colégios militares, poderíamos concluir que eles estão de pedra e cal e o seu
futuro não corre perigo. Nada mais enganador. São várias as razões para isto,
que vou tentar sintetizar.
Em
primeiro lugar razões internas da própria Instituição Militar.
Como
é público as FAs têm sofrido, nos últimos 25 anos uma enorme erosão nos seus
orçamentos, nos seus meios, dispositivo e sistema de forças, que as estão a
reduzir à ínfima espécie.
Deste
modo o Exército luta com as maiores dificuldades para conseguir sustentar os
colégios militares tendo havido, até, uma tentativa de fechar o IMPE e
concentrar meios no IO e CM. Deste modo, queixam-se que os outros ramos sendo
beneficiados com o produto final dos colégios em nada concorrem para isso.
Acontece
que o Exército, tendo razão neste aspecto, não quer abrir mão dos colégios,
nomeadamente em comandamento e lugares – o que representa vagas. Ora isto cria
uma incompatibilidade prática. Colocar os colégios sob a alçada do EMGFA também
não parece ser a melhor solução já que aquele órgão está vocacionado para o
comando e controle das operações militares e não para gerir colégios; colocar
estes sob a alçada do MDN é uma experiência que pedimos a São Nuno Álvares
Pereira, nos dispense de suportar, por razões que nos eximimos a referir; fazer
dos colégios órgãos semelhantes à Escola dos Serviços de Saúde Militar, vai
levantar problemas semelhantes ao cenário número um, além do que iria alienar o
cabedal da experiência centenário que o Exército já leva de dirigir estes estabelecimentos.
Ou seja, a solução melhorzinha ainda é deixar tudo como está, partindo do
princípio que a hierarquia do Exército fará os possíveis e impossíveis para
conseguir os meios para o seu correcto funcionamento. Por outras palavras, tem
que convencer a tutela da mais valia dos colégios e conseguir os meios
financeiros e em pessoal necessários.
Neste
âmbito é mister ultrapassar as dificuldades de nomeação de oficiais e sargentos
para os respectivos corpos de alunos, já que nem todos servem ou têm apetência
para os desafios pedagógicos e humanos que tais funções requerem. Além disso
compreende-se que haja militares cuja formação está focalizada na missão primária
do Exército – que é combater ameaças externas – e não se sinta motivado para
exercer funções colegiais. Noutro sentido já não se pode admitir que possa
haver algum prejuízo em termos de carreira para quem exerça aquelas funções que
são tão dignas como quaisquer outras. Finalmente, é urgente aumentar o número
de candidatos a alunos dos colégios sob pena destes se finarem por falta de
alimentação.
Em
segundo lugar os colégios militares estão em perigo pois são um “mau exemplo”
para o país. Eles destoam da generalidade do ensino. Vou dar alguns exemplos
para entenderem melhor o que quero significar:
*
os CMs não se limitam a transmitir os conhecimentos técnicos inerentes aos
programas aprovados pelo Ministério da Educação: ministram formação militar
adequada à idade dos alunos (e ao contrário do que pensam algumas luminárias da
nossa praça, isso não lhes faz mal algum..), e pretendem formar o indivíduo no
seu todo, físico, moral e intelectual. Já me esquecia, é também uma escola de
chefes e de patriotismo…;
*
os CMs apresentam uma taxa de sucesso de candidaturas à Universidade, que ronda
os 100%;
*
nos CMs não se aceitam fraquezas de carácter, mentirosos, ladrões, drogados,
homossexuais e outras minorias de aleijados morais. Deus seja louvado! E para
que as fraquezas não se transformem em vício, corta-se logo o mal pela raiz.
Que nunca lhes doam as mãos!;
*
os CMs acarinham as tradições, têm lemas, códigos de conduta, brasões e mantém
estreitos os elos com os ex-alunos. Ex-alunos não costumam constar nas listas
de desertores;
*
os CMs foram agraciados com múltiplas condecorações;
*
nos CMs os alunos marcham com “cagança” e de queixo levantado, sinal de quem
andam de coluna direita e olham o mundo de cima; e do mais pequeno ao mais
velho passam imperturbáveis pela multidão que os ladeia;
*
os CMs atravessaram todas as conturbações políticas e sociais dos últimos 200
anos (e foram muitas), mas preservando a sua personalidade, passaram incólumes
por todas elas;
*
nos CMs não há greves, trabalha-se; os alunos não “batem” nos professores nem
pintam grafitis, há disciplina; professores e alunos vão às aulas, existe
ordem; aos alunos é-lhes oferecido ampla escolha de actividades, existe
liberdade; o acompanhamento é constante, há pois controle e ninguém é
inimputável, por irresponsável; avaliam-se os resultados, afere-se o
conhecimento e não se dá guarida a madraços; enfim, são Escolas a sério, em
qualquer parte do mundo;
* nos CMs todos – militares,
professores, funcionários civis, alunos e ex-alunos – fazem parte da família
colegial e mantêm-se irmanados pelo mesmo ideal;
*
nos CMs sabe-se quem manda, melhor dizendo, quem comanda, ao contrário da
maioria das outras escolas onde a autoridade se esvai em múltiplos “conselhos”.
Numa
palavra os alunos não se limitam a Estar, ao contrário, São, e se é verdade que
o objectivo numero um do ensino visa a mudança de comportamentos, os CMs
representam o expoente máximo deste conceito.
Em
terceiro lugar existem problemas de ordem doutrinária e ideológica. A nível
social e político cruza a sociedade um conjunto de forças que pensam que a
existência de CMs, no século XXI é um anacronismo sem qualquer razão de ser.
O
espectro político-partidário conotado normalmente com a “esquerda” odeia, em
termos ideológicos, a ideia da existência de colégios militares – causa-lhes
até, erupções de pele, e outros fenómenos do foro psicossomático. Num destes
partidos, no manifesto eleitoral da sua fundação estava inscrito a extinção dos
colégios militares… Convém não ter a memória curta. Um outro, porém, nunca
hostilizou publicamente os CMs – certamente porque é o único que sabe o que
anda a fazer – e nem sequer vê qualquer inconveniente na sua existência, desde
que, é claro, lá se ensinasse o materialismo dialéctico, o socialismo
científico e o internacionalismo proletário!
No
espectro político conotado com o centro e a direita, por norma, a ideologia
está ausente e não se faz combate doutrinário: sente-se com a carteira e
pensa-se com as tripas.
Estamos
conversados, portanto.
Finalmente,
existe um último perigo, os negócios! Nomeadamente os negócios de especulação
imobiliária. Os colégios ocupam espaços de terreno privilegiados, onde
sobressai o Colégio Militar. São muitos hectares em zonas de grande valor. Ora
isto representa milhões e milhões de euros, oportunidades de negócio para
amigos, eventual atenuação de dívidas camarárias, chorudos financiamentos, etc.
Perante
isto, o que valem três colégios, cuja mais valia é lançarem no mercado de
trabalho ou nos cursos superiores, umas dezenas de cidadãos com uma formação
acima da média, e que tanta falta fazem ao nosso desfigurado país? Acertaram,
são perfeitamente dispensáveis!
Já
imaginaram os leitores uma conjugação das razões apontadas?
De
facto, os colégios militares não devem acabar mas podem tentar que isso
aconteça. Julgo ter sido suficientemente explícito.
Deixo-vos
com Hipócrates (460-374 A.C.):
“Há
verdadeiramente duas coisas diferentes: saber e crer que se sabe. A ciência
consiste em saber; a ignorância consiste em crer que se sabe”.
João
José Brandão Ferreira
TCor/Pilav
(Ref.)
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