Exmo. Sr. Tenente General Comandante de Instrução e Doutrina,
Meu
General,
Exmo.
Sr. Major General Director de Educação,
Meu
General,
Exmos.
Srs. Oficiais Generais
Exmo.
Coronel Tirocinado, Director do Colégio Militar,
Oficiais,
Docentes, Sargentos, Praças e Funcionários Civis,
Exmos.
Convidados,
Pais
e Encarregados de Educação,
Minhas
Senhoras e Meus Senhores,
Condiscípulos,
Devo confidenciar-vos que a
minha alma é, neste momento, invadida por um misto de sentimentos
contraditórios. Por um lado, é a alegria e o orgulho que me preenchem, por aqui
estar, hoje, no comando do Batalhão Colegial, a discursar para todos vós,
nestes claustros centenários gastos pelo tempo … mas por outro, é a tristeza e
o receio que me assombram por saber que estes claustros, que sobreviveram a
invasões, a guerras civis e a golpes de estado, estão frágeis e que podem
sucumbir ao mais pequeno dos terramotos.
O Colégio encontra-se hoje na
situação mais difícil da sua longa e áurea história de 210 anos. O Exmo MDN,
Dr. José Pedro Aguiar Branco, destruiu, com a tinta azul duma caneta no seu
luxuoso gabinete aquilo que, durante mais de dois séculos, milhares de portugueses
construíram com o vermelho do sangue nas mais adversas condições.
Alegando, inicialmente, razões
económicas e mais tarde, razões de caracter ideológico, o Exmo MDN pôs fim a
dois séculos de ensino de excelência, pôs fim a dois séculos da História do
nosso Portugal, pôs fim ao sonho do Homem que de simples soldado se fez
Marechal e a Ministro da Guerra, cargo que ocupou não pelos jogos políticos mas
pela riqueza de caracter e extraordinário carisma demonstrados no comando dos
seus homens.
O despacho de Abril veio pôr
fim ao Colégio que todos conhecíamos e dar início a um outro, muito diferente,
cheio de novos problemas, cheio de novos desafios e, acima de tudo, cheio de
novas oportunidades. A responsabilidade de manter a
chama viva e de construir o futuro desta casa recai sobre todos nós… Uns
por cá estudarem, outros por cá terem estudado, uns por cá trabalharem, outros
por terem confiado ao Colégio a educação dos seus filhos … e é por isso que só
em conjunto e reforço, só em conjunto seremos capazes de ultrapassar os
obstáculos que se
adivinham, de forma que peço a todos e a cada um de vós que vos entregueis de
corpo e alma a esta nossa Casa que tanto nos ensinou para que possa continuar a
transmitir às gerações futuras os valores idealizados pelo Fundador e inscritos
no nosso Código de Honra.
Pais e encarregados de
educação, quero aproveitar este momento solene para agradecer a confiança que
depositastes no Colégio Militar ao escolherdes este projecto educativo para a
educação dos vossos filhos. Quero pedir-vos que apoiem e ajudem os vossos
filhos com todas as vossas forças, que falem com eles sobre os assuntos que os
preocupam e incomodam e que não desistam de lutar por eles mesmo quando eles
desistirem de si próprios porque a família é uma unidade fundamental na
educação das crianças e dos jovens e sem o vosso apoio, a educação deles fica
comprometida.
Professores, da vossa parte
esperamos total disponibilidade e máximo empenho porque sois um pilar
fundamental na aprendizagem dos nossos alunos. Um bom professor não é aquele
que se alheia das suas responsabilidades e permite aos alunos que tudo seja
feito, só para cair nas boas graças destes. Um bom professor é aquele que exige
o máximo dos seus alunos e não permite falhas por desleixo, mesmo que isso lhe
custe uma reputação menos boa perante os discípulos. Empenho e dedicação é tudo
o que vos peço porque esta casa também é vossa e cabe-nos a todos trabalhar por
ela.
Por último dirijo-me a vós
alunos, na qualidade de Comandante de Batalhão e de irmão mais velho. O Colégio
tem uma história invejável, com 5 presidentes da república, inúmeros ministros,
atletas olímpicos e figuras de relevo na sociedade mas não podemos viver
encostados à História nem às figuras ilustres do passado porque o Colégio,
muito mais que o passado, é o presente e o futuro. Nós somos a razão de ser
desta Casa e não temos estado à altura das circunstâncias. Os resultados
escolares dos últimos anos não são admissíveis numa escola que se diz de
excelência. É tempo de inverter a postura de ociosidade que se tem vindo a
generalizar nos últimos anos e de nos aplicarmos a fundo nos estudos e nos
resultados, já que eles são, para a sociedade, o espelho desta Casa e deles
depende muito a entrada de novos alunos.
A falta de alunos é um dos
principais problemas com que o Colégio se debate, de forma que não nos podemos
dar ao luxo de abandonar os mais fracos. Bem pelo contrário, temos o dever de
os aceitar na diferença, de os proteger e de os integrar porque ou vencemos
como um todo ou morremos como indivíduos. “Neste Colégio, ninguém fica para
trás”, disse-o o presidente da AAACM no 3 de Março último e reforço-o eu aqui,
porque acredito ser algo que todos temos de interiorizar.
Graduados, este será certamente
um ano que nenhum de nós esquecerá. A responsabilidade que recai sobre nós por
termos sob nossa alçada a orientação dos mais novos, é enorme. O ano lectivo
que hoje oficialmente se inicia reserva-nos certamente inúmeras adversidades,
muitas delas relacionadas com o próprio processo de reforma, mas estou certo de
que se conseguirmos conservar o bom senso e agirmos sempre de acordo com os
princípios do Código de Honra, seremos capazes de ultrapassar todo e qualquer
obstáculo que se atravesse no nosso caminho.
Futuros Ratas, reservei para
vós uma mensagem muito especial que espero que guardeis na memória como a
primeira e uma das mais importantes. É com muita alegria que vos vejo aqui hoje
formados no centro das atenções, envergando pela primeira vez a farda cor de
pinhão. Inicia hoje, aqui, debaixo de todos estes olhares, o vosso longo percurso
de 8 anos que fará de vós homens e mulheres prontas a
servir Portugal. Prometo-vos que o caminho vai ser difícil, se fosse fácil
qualquer um o faria, cheio de obstáculos e provações que só em conjunto sereis
capazes de ultrapassar. Os camaradas que dormem ao vosso lado serão os vossos
melhores amigos, não só aqui, durante estes 8 anos, como também depois, quando
terminar o vosso percurso. São eles que vão estar presentes nos momentos de
maior felicidade e vão ser eles também a dar-vos a mão nos momentos de
sofrimento e de tristeza. Hoje, turistas, provavelmente não sereis capazes de
entender a profundidade destas palavras mas amanhã, finalistas, compreendereis
certamente a emoção nelas contida.
Termino da mesma forma que, em
Janeiro de 1961, John F. Kennedy terminou o seu discurso de tomada de posse,
dizendo-vos não para perguntardes o que o Colégio pode fazer por vós mas o que
podeis vós fazer pelo Colégio.
Bem hajam
O Comandante do Batalhão
O Comandante do Batalhão
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