Ainda o Colégio Militar
por MIGUEL FÉLIX ANTONIO,
JURISTA/GESTOR
Hoje no DN
Hoje no DN
A polémica aberta com o processo desencadeado pelo Governo, através do
Ministério da Defesa Nacional, visando a transfiguração e adulteração do
bicentenário Colégio Militar deve também servir para que sejam desmistificadas
algumas proclamações aparentemente verdadeiras.
Passo por cima da "luta pela igualdade de género", a grande bandeira invocada
no artigo da senhora secretária de Estado Berta Cabral para a liquidação do
Colégio, que já tive oportunidade de comentar na edição do Diário de
Notícias de 7 de Setembro.
Sim, porque pode matar-se uma instituição retirando-lhe toda a substância e
identidade sem lhe alterar a designação ou sem formalmente lhe fechar as
portas...
Começo por referir que não vejo hoje motivo essencial, como aliás referia
recentemente neste jornal o comandante Jorge Silva Paulo, para que o colégio
esteja na alçada do Exército e não pudesse ser transferido para uma dupla tutela
do Ministério da Defesa Nacional e do Ministério da Educação e Ciência, mantendo
o enquadramento militar - espinha dorsal da sua natureza intrínseca - permitindo
que nele servissem não apenas oficiais do Exército mas também da Armada e da
Força Aérea, com isso porventura alargando a influência dos três ramos das
Forças Armadas nas futuras escolhas profissionais dos seus alunos.
Outra questão, mais complexa, prende-se com a situação de favor que estaria
reservada aos pais e alunos, por praticamente nada pagarem, motivo que
recorrentemente é invocado para fundamentar a iniquidade da existência do
colégio no formato actual.
Cabe lembrar, contudo, que o modelo de ensino público consignado na nossa
Constituição - sem dúvida a necessitar de uma ampla e profunda revisão - ao
nível do ensino básico e secundário, assenta em propinas praticamente
inexistentes, situação aliás que não me parece a mais correcta.
Para que haja uma aferição com o que custa ter os filhos no restante ensino
público, procuremos então clarificar, com dados concretos, o que pagam os alunos
pela sua frequência no colégio, porque a desinformação, consciente (má-fé) ou
inconsciente (ignorância), grassa a passos largos.
Tendo por base o sistema para o ano lectivo 2013/2014 para o 2.º e 3.º
ciclos, um aluno filho de um civil (que não preste serviço no âmbito das Forças
Armadas), paga mensalmente 681 euros (se for interno) e 510 euros (se for
externo), o que não se afigura propriamente uma pechincha e se assemelha em
larga medida ao preço cobrado pelas escolas particulares. Pelo que uma primeira
asserção é legítima: os filhos de civis pagarão muito aproximadamente o seu real
custo e, se assim não é, que se revejam as propinas.
Apenas os alunos órfãos de militares ou militarizados falecidos no exercício
das suas funções e por motivos do seu desempenho beneficiam de isenção de
propinas e parece-me que muito poucos de tal discordarão.
Entre estas duas situações extremas atrás identificadas, o sistema de
propinas para militares das Forças Armadas ou da GNR, militarizado, pessoal
policial da PSP ou funcionário civil das Forças Armadas baseia-se no rendimento
per capita do respectivo agregado familiar, podendo variar no caso dos alunos
externos (que utilizo para melhor comparação com as outras escolas públicas)
entre 120 euros e 420 euros mensais.
Quer dizer, qualquer pai ou mãe, militar ou civil, paga muito mais e não tão
pouco assim, por ter os seus filhos no Colégio Militar, do que em qualquer outra
escola pública, pelo que não consigo descortinar a injustiça, a iniquidade, o
privilégio, que se procura assacar constantemente a quem escolhe esta e não
outra escola pública.
Claro que se pode sempre dizer que a oferta global que o colégio proporciona
não é comparável com as outras escolas públicas e que portanto há que pagar em
conformidade e que as actuais propinas, ainda que muito mais elevadas do que as
praticadas no restante ensino público, não cobrem os reais custos havidos. Então
que se revejam eventualmente também estas propinas.
Mas importa não esquecer que se há situação de favor, neste caso, para os
militares das Forças Armadas ou da GNR, militarizado, pessoal policial da PSP ou
funcionário civil das Forças Armadas, o que dizer dos benefícios concedidos a
muitas outras categorias profissionais do Estado e do seu sector
empresarial?
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo
Ortográfico
Artigo Parcial |
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