5 ªfeira, Outubro 03, 2013
O exibicionismo do ministro - um conto -
Era uma vez um ministro da Populândia , um país que vivia em graves crises económicas. Este ministro e todos os outros ministros do governo passavam o tempo a falar da crise e a sua obsessão era a redução dos custos. Tudo se cortava. Os ordenados, as regalias, os cuidados de saúde, o ensino. Fechavam-se hospitais, fechavam-se bibliotecas, fechavam-se escolas. A obsessão com os custos era tão grande que se fechava sem olhar a quê. Bons hospitais? Fecham-se! Escolas de excelência? Fecham-se!
Mas este ministro – e possivelmente todos os outros – que mandavam fechar, cortar, acabar, destruir, achava que encerramentos, cortes, finais, destruições não eram para ele. Ele era ministro, estava acima de tudo isso. Crise? Não para ele. Os fatos eram dos melhores. As camisas com monograma gravado, e canetas, bem, canetas, a sua paixão. E não se contentava com uma. Nem com duas. Nem com três. O ministro vivia rodeado de canetas. Tinha que as ter todas ao seu lado. Poderia ele lá viver sem as suas 24 canetas Montblanc?! Jamais! Até nas reuniões com os seus parceiros, ele não podia separar-se das suas canetazinhas. Como? Imaginem que tinha de escrever uma palavra? Se não tivesse ali ao seu lado as suas 24 Montblanc, como seria? Como poderia escrever? E nas reuniões, o ministro não ouvia quem lá ia falar consigo. Estava concentrado nas suas canetas. Em afagá-las. Em colocá-las bem arrumadinhas na sua caixinha. Cada frase que escrevia tinha de ser com uma caneta diferente. Duas frases com a mesma caneta? Oh, que horror! Que vulgar! Tão povo! Não, antes de escrever qualquer frase, havia que estudar bem a coleção de canetas, escolher, olhar bem para ela, abri-la lentamente, levá-la ao papel, escrever duas ou três palavras, voltar a colocar a tampa, afagá-la, colocá-la cuidadosamente na sua cama, qual tesouro precioso, passar-lhe novamente a mão para se certificar de que estava bem instalada, e olhar para a coleção para escolher a caneta com que iria escrever mais uma frase….
Ouvir os seus interlocutores? Não. As canetas Montblanc à sua frente eram muito mais importantes, nunca reclamavam, não exigiam a reabertura dos hospitais, das bibliotecas, das escolas….
Do blogue " A nossa vida"
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