O
CENTENÁRIO DE ÁLVARO CUNHAL
22/05/13
Vou ser breve.
Com um espetáculo
bem montado correm as comemorações sobre o centenário de um cidadão nascido em
Portugal, a quem foi dado o nome de baptismo de Álvaro Barreirinhas Cunhal
(AC).
O moço cresceu
varonil e foi revelando um conjunto de qualidades difíceis de reunir numa mesma
pessoa: inteligência, coragem e determinação, invulgares; sensibilidade
artística aliada a uma inegável força psíquica interior; rara intuição, cultura
e coerência política; frieza de raciocínio e calculismo na organização e
planeamento; ascetismo, discrição e exemplo nas atitudes, etc.
Testemunhos dados
à estampa levam-nos a pensar, até, que o personagem tinha espírito de humor,
gostava de petiscos e era um pai, irmão e companheiro, extremoso.
Este, em traços
gerais, o retrato que nos aparece do homem, se bem que ele nos tivesse sempre
induzido a pensar que não pertencia ao género humano.
Este homem, porém,
cresceu e desenvolveu-se embebedando-se (como diria Pessoa) de leituras e
convicções marxistas, fixando-se a sua matriz política final, na mais depurada
ortodoxia comunista.
Afirmando-se ateu
foi, afinal, um crente. Substituiu, apenas, o dogma católico de sua mãe, pelo
dogma do Marxismo-Leninismo. Em
vez de Deus serviu o Diabo – na eterna luta entre o Bem e o
Mal…
Nele, Álvaro, o
ideal comunista – uma doutrina profundamente errada por economicamente
incompetente, socialmente redutora, inexequível por anti -natural e de
implantação tirânica e sanguinária – plasmou-se como uma verdade absoluta,
irredutível, terminal.
Uma ciência infalível,
mítica, criadora de um “homem novo”, em que os fins justificavam todos os
meios.
Nessa voragem
apocalíptica se empenhou até ao fim, sem tergiversar, mesmo depois de Gorbatchev
e a queda do muro de Berlim, ter deixado o Comunismo órfão e definitivamente
desacreditado. Numa coerência, que muitos sublinham como atributo admirável,
esquecendo-se de acrescentar que foi uma coerência no erro!
E uma coerência de
Anjo caído, maligna.
Não sendo
suficiente ter o erro como objectivo e a perfídia como meio, fazia parte da
essência da ideologia torna-la extensiva a todos os povos da terra, assim como
o imperialismo napoleónico quis transportar a “luz” da “Liberdade, Igualdade e
Fraternidade” – antepassado remoto do novo “sol na terra” – na ponta das baionetas,
a fim de libertar os povos dos seus “tiranos”.
Os portugueses
sabem bem o que isso foi, pois ficaram com a terra retalhada e cerca de 10% dos
seus, trucidados no processo. Alguns descendentes jacobinos ainda hoje lhes
tecem loas…
O “quartel –
general” das forças “vermelhas” da “foice e martelo, em punho”, que passaram a
querer impor o modelo ao planeta, situava-se no centro geopolítico do antigo
Ducado da Moscóvia – num antigo edifício conhecido por Kremlin – a quem todas
as forças espalhadas pelo mundo passaram a reportar e a obedecer.
O mesmo se passou
com o PCP, desde a sua fundação, em 1921, atingindo especial fulgor e empenho,
justamente, durante a direcção de AC.
Nisto se
consubstanciou a primeira traição do “Comité Central”, à Nação que queriam
governar.
Por outras
palavras, o PCP nunca se pôde considerar um partido português e serviu sempre
de correia de transmissão de uma potência estrangeira, inimiga de Portugal: a
URSS.
Não ficou por aqui
a traição do PCP – o termo é este, e o crime que configura sempre fez parte (e
ainda faz) do Código Penal Português – pois quando os territórios ultramarinos
portugueses começaram a ser atacados desde os anos 50 pelo capitalismo apátrida
e pelo Comunismo (então ampliado pelo “Terceiro-Mundismo”) o dito Partido, que
tem o supremo despautério de se dizer “patriota”, colocou-se ao lado destes
últimos e dos movimentos subversivos que nos emboscavam as tropas, promovendo,
ainda, a subversão na retaguarda - incluindo a violenta - que era a Metrópole.
E assim se
mantiveram até ao golpe de estado de 25/4/1974, quando ajudaram a atirar o
poder para a rua ; ao abastardamento
das FA e à criminosa “Descolonização”, atitude que fez averbar à URSS, a sua
maior vitória, no último pico da Guerra – Fria.
Por tudo isto as
cerimónias do nascimento de AC deveriam ter lugar em Moscovo - numa praça
esconsa por, entretanto, o povo russo se ter livrado dos “slogans” do
“comunismo científico”, do “materialismo dialético” e do “internacionalismo
proletário”, que custaram à Humanidade centenas de milhões de mortos e
sofrimentos inomináveis, apenas comparáveis ao flagelo das hordas de
Tamerlão!
Por isso ter
cartazes no Liceu Camões, em Lisboa (por ex.), onde se pode ler que AC foi “um
grande lutador pela Liberdade, Democracia e Socialismo” é apenas um exemplo
despudorado de como “com papas e bolos se enganam os tolos”…
AC era comunista,
não socialista; “liberdade” na boca de um comunista é impropério e “democracia”
é apenas fachada de uma parede falsa (eles até dizem que é “de vidro”). Pode,
até, ser considerado ofensivo para quem milite em semelhante ideologia…
E ver o
brilhozinho nos olhos da Judite de Sousa, no programa da TVI, que incensou o
personagem é perfeitamente patético e delirante. Deviam enviá-la à Coreia do
Norte fazer reportagens, sem se esquecer de levar uns euros - da larga soma com
que a ressarciam para fazer destas “reportagens” – a fim de poder distribuir
uns óbolos, com que os famintos de lá, pudessem sorver umas malgas de arroz.
Afinal comunismo é
isso: distribuir por igual os ganhos obtidos…
Que a maioria da
população, com especial destaque para as camadas mais instruídas, forças
políticas e órgãos de comunicação social, assistam a tudo isto com uma
passividade bovina é que é verdadeiramente preocupante.
Não conseguir
reagir às mais grosseiras mentiras – “uma mentira repetida mil vezes, torna-se
uma verdade”, é uma das receitas mais afamadas do cardápio leninista – como é o
caso da exploração do infeliz incidente com a Catarina
Eufémia, em Baleizão, é de uma perigosidade sem limites.[1]
Enfim, qualquer dia
ainda lhe fazem uma estátua (ao AC) – paga com os nossos impostos – e
transladam os restos mortais de tão prestimoso defensor da classe operária (se
bem que os descendentes das vítimas das purgas no interior do Partido, devam
ter ideia diferente) para o Panteão Nacional…
Assim se preservam
para o futuro as indignidades históricas, as mentiras políticas e as perversões
humanas.
Aguardo que as
“despesas” sobre este assunto não fiquem apenas por minha conta.
João J.
Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador
[1]
Pelo que se sabe a pobre da moça nunca foi do PCP, não estava metida em nenhum
protesto e foi atingida, por um disparo furtuito da Pistola – Metralhadora FBP,
do Tenente Carrajola que, acidentalmente, caíu ao chão. Resta acrescentar que o
pessoal do posto da GNR, a quem pertencia a força presente no local, se
quotizou para pagar o funeral.
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