Comentário
ao artigo do Cte. Jorge Silva Paulo - HFAR
(por
Pasimar)
Sr.
Cte. Jorge Silva Paulo
A pluralidade democrática vigente permite-nos opinar sobre tudo e sobre todos,
independentemente de sermos ou não peritos na matéria em questão. Bastará sermos
respeitosos e honestos intelectualmente para que os destinatários da informação
percebam não estarmos a brincar, ao serviço de interesses dúbios ou, quiçá, em
puro devaneio. Assim, por isso, permito-me também opinar sobre…, a sua opinião,
publicada no Diário de Notícias em 29 de Maio de 2013.
É meu entendimento de que tanto a Marinha quanto o Exército também têm,
nomeadamente no seu comando, a autoridade, a ética, a moral e o dever de
argumentarem sobre o que entendem ser a defesa da sua existência, natureza e
singularidade, porquanto legalmente existentes como Ramo das Forças Armadas.
Assim, acusar de que “têm frustrado as expectativas de cooperação” e de
que “murmura-se
que o maior grupo de críticos são oficiais-generais da Marinha”,
parece-me estar o Sr. Cte. a advogar o diabo, o que, sendo militar, me
surpreende.
Quando refere que “Nem todos os países da NATO têm hospitais militares.”,
não terá sido por lapso que não exemplificou, pois certamente lhe seria muito
difícil comparar e equivaler as
realidades (geopolítica, histórica, social, económica, cultural) de qualquer um
desses países com o nosso país - Portugal. Sim, num simples artigo de opinião,
apesar da formação atribuída ao autor, o Sr. Cte. não conseguiria abarcar tal
abrangência e plenitude sem um contributo muito interdisciplinar. Por outro
lado, ao concluir que “Parece-me
impossível defender a fragmentação da saúde militar”, o Sr. Cte.
estará a projectar nos outros o que
parece não ser capaz de fazer: defender intransigentemente aquilo em que
acreditamos e obrigado a isso estamos – a defesa da condição militar, neste
caso, na área da saúde militar.
Permita-me também discordar quando refere que “A obrigação legal de o Estado
prestar assistência sanitária a militares e respetivos familiares não tem de
realizar-se com hospitais integrados nos ramos, nem sequer através de
hospitais”. Se acedermos a tal princípio poderemos cair noutros nefastos
exemplos, como “O seguro de saúde que eu pago permite eu ser hospitalizado
num bom hospital em quarto privado, mas devido à crise vigente o Governo
obriga-me a ir para uma enfermaria junto de doentes terminais”. Não, não,
Sr. Cte., o princípio que advoga é o mesmo no exemplo que dou! Muitos outros
poderia explicitar. É que, Sr. Cte., não é apenas o dinheiro que paga o direito
à diferença. E, repare, não é somente a diferença na qualidade da estadia do
internamento quarto/enfermaria; são, sim, todas as diferenças que caracterizam a
condição militar. Claro que não lhe vou aqui explicar todas essas diferenças.
Entretanto, permita-me recomendar-lhe a leitura do relatório que a Direção de
Saúde do Exército enviou para o MDN alegando a necessidade da existência de
hospitais militares.
Quando refere que “Muitos gostavam dos hospitais dos ramos por serem
acompanhados pelos dirigentes hospitalares, ou porque alguns médicos sobrepunham
as vontades de alguns doentes aos seus critérios técnicos”, parece estar a
esquecer-se que, na sociedade castrense, tal comportamento e atitude do
acompanhamento resulta do código da disciplina militar, em que o subordinado
deve acompanhar o superior que lhe demanda, pelo que não é, necessariamente,
abuso de autoridade ou bajulação como faz subentender. Aliás, se compararmos com
as variadíssimas situações em que algum membro do Governo visita qualquer
organismo, quem é que o acompanha na visita? Quanto à sobreposição aos critérios
técnicos: não tome o todo pelas partes. A eventual fraqueza do médico, que se
deixa conduzir pelo doente de alta patente/cargo, não é exclusiva aos hospitais
militares, como sabe. Nem tal acontece somente na saúde! Sejamos
honestos.
Por fim, como o comentário já vai longo, apenas me irei pronunciar sobre o que
descreveu: “…exigem atitudes construtivas de todos para realizar as
orientações oriundas do poder político legítimo”. Sr. Cte., para si, as
atitudes construtivas são somente as que estão conforme a vontade do poder
político legítimo? Refere-se ao poder político do Governo? Ou posso deduzir que
também entende que o poder político não se restringe somente aos políticos? De
facto, muitos outros cidadãos, organismos, associações, corporações, ordens
profissionais, instituições também têm poder político. E legítimo! Assim é
também com as Forças Armadas e cada um dos seus Ramos. Por outro lado, quando se
refere à legitimidade política, entende que é somente a que resulta das
eleições? Isto é, do número de votos? Olhe que não, Sr. Cte., olhe que não. A
legitimidade política dos governantes resulta, também e essencialmente, da
coerência e honestidade do seu desempenho face ao que prometeram na campanha
eleitoral. Isto é, a ética, a moral, a deontologia, são alguns dos valores que
encimam o reconhecimento da legitimidade. E isso, ensinaram-me na
Marinha!
Tenho
dito.
Cumprimentos,
Paulo
Silva Martins
CTEN
Res
1 comentário:
Sr Cte Silva Martins, ensinaram-lhe os valores que elenca, eu também tive a honra de receber esses valores.É pena que nem todos tenham interiorizado os mesmos.
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