O convidado in DN
Hospital das Forças Armadas
por Jorge Silva Paulo, Capitão de mar e guerra
(reserva)
"Em 2005, o Governo decidiu criar um Hospital das Forças Armadas (HFAR). Em
2009, passou a integrar a Lei Orgânica de Bases de Organização das Forças
Armadas. Mas o Governo só o criou em 2012; posicionou-o onde foi o Hospital da
Força Aérea, e decidiu encerrar os hospitais militares dos ramos, ao longo de
uma fase de transição, até meados de 2014; no fim de março, arrancou a urgência
geral.
Nem todos os países da NATO têm hospitais militares. Em Portugal, a Lei de
Bases da Condição Militar (1989) prevê que os militares e suas famílias tenham
benefícios e regalias que compensem as exigências da condição militar, as quais
incluem a assistência sanitária.
Desde 2005 que se encontram no espaço público declarações contra a criação do
HFAR, incluindo posições institucionais dos ramos e de militares individuais.
Porém, não se sabe como a maioria dos militares e respetivos familiares está a
avaliar a situação.
Há rumores de que o Exército e, sobretudo, a Marinha têm frustrado as
expectativas de cooperação no sentido de concretizar depressa e bem o
funcionamento do HFAR. Não será surpresa, para quem sabe como o corporativismo
destes ramos é avesso à sua perda de autonomia. Por isso, é tentador relacionar
as críticas de militares destes ramos (murmura-se que o maior grupo de críticos
são oficiais-generais da Marinha) com as dificuldades que se rumora que as
respetivas administrações estarão a criar ao HFAR.
Parece-me impossível defender a fragmentação da saúde militar, e mais no
contexto de emergência financeira que Portugal vive. Ninguém contestará, com
números fundamentados, que a concentração de recursos em curso ajuda a baixar as
despesas públicas, que é um imperativo nacional atual. Mas há quem tema perdas
de qualidade e a violação do estatuto legal da condição militar. São pontos
relevantes.
A obrigação legal de o Estado prestar assistência sanitária a militares e
respetivos familiares não tem de realizar-se com hospitais integrados nos ramos,
nem sequer através de hospitais. Podia, por exemplo, abdicar de urgências, ou
abdicar de assistência sanitária própria, e criar protocolos com unidades de
saúde civis, nas quais se prestassem cuidados de saúde segundo regimes
especiais, para cumprir a lei.
Depois, a concentração ou a integração em hospitais civis (mesmo admitindo
regimes especiais) pode implicar perdas de qualidade da assistência sanitária.
Ou não. Muitos gostavam dos hospitais dos ramos por serem acompanhados pelos
dirigentes hospitalares, ou porque alguns médicos sobrepunham as vontades de
alguns doentes aos seus critérios técnicos; sem falar nos que avaliam os atos
médicos ou de enfermagem pela simpatia dos profissionais de saúde ou pela
sofisticação e preço dos equipamentos.
Mas a concentração, ao criar "massas críticas" - sobretudo, de profissionais
de saúde - e economias de escala, ainda que perdendo na atenção pessoal, pode
permitir melhorar a qualidade dos cuidados de saúde, como se constata com as
maternidades e os hospitais centrais. Acresce que muitos tínhamos a experiência,
há anos, de o Hospital da Força Aérea ser, em termos globais e em relação aos
dos outros ramos, o mais moderno, com espaço para crescer e com uma invejada
organização interna.
Observando com atenção as críticas à concentração da saúde militar, para lá
do caráter corporativo e da perda de privilégios pessoais, registo dois pontos:
a sugestão de calamidades pela sua concretização; e o conteúdo político. Tais
abordagens não valorizam o interesse público. Quando se trate de dificuldades
concretas da transição, o cidadão-contribuinte e o patriotismo, sobretudo dos
militares, exigem atitudes construtivas de todos para realizar as orientações
oriundas do poder político legítimo, a que as Forças Armadas estão
constitucionalmente obrigadas no Estado de direito democrático português."
1 comentário:
A NÃO publicação dos "escritos" deste senhor capitão (sim, porque de mar ou de guerra nada tem...)não é uma questão de censura mas sim de saneamento público!
Que eu me tenha apercebido, este Blog não é uma ETAR, e dar guarida a m**** não me parece muito asséptico!...
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