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"Os serviços de contra-espionagem britânicos, que estavam na Rua da Emenda, seguiam o recrutamento da frota pesqueira porque sabiam que os alemães infiltravam aí pessoal. Ficheiros secretos britânicos divulgados recentemente mostram como Gastão de Freitas Ferraz foi apanhado em alto mar antes de conseguir avisar a Alemanha que uma frota aliada se preparara para invadir o Norte de África.
Trata-se de um episódio pouco conhecido que mudou o curso da II Guerra Mundial e que envolve aquele operador de rádio do navio português Gil Eanes, que informava os alemães sobre o movimento de navios no Atlântico Norte, a troco de 15.000 escudos por mês.
O historiado Christopher Andrew, da Universidade de Cambridge, considerou que o ficheiro "muda o entendimento da história britânica" e oferece informação nova dos serviços secretos do país na luta contra os nazis.
"A autoridade do professor Andrew é suficiente para eu ter plena convicção que o dossier em causa tem o maior interesse para a avaliação do relacionamento das informações alemãs através da frota pesqueira portuguesa", acrescentou José António Barreiros.
Alguns pormenores deste caso já tinham sido revelados pelo jornalista Rui Araújo, durante a apresentação do livro "O diário secreto que Salazar não leu", em Outubro do ano passado.
"Diplomatas, marinheiros e caixeiros-viajantes eram os alvos principais dos recrutadores. Contudo, revelaram-se muito desajeitados. Os ingleses davam por eles e forneciam listas de nomes a Salazar, que geralmente não fazia nada", contou na altura o jornalista.
Mas, se não paravam com as suas acções, nalguns casos os ingleses intervinham. Foi o caso do radiotelegrafista do navio Gil Eanes, que fornecia informações aos alemães sobre os barcos aliados que avistava, tornando-os presas fáceis para os submarinos de Hitler.
A Marinha inglesa apresou o Gil Eanes e, simplesmente, raptou o radiotelegrafista, levando-o para Londres. Mas tais factos nunca chegaram ao conhecimento do grande público, relatou na altura.
O navio de Freitas Ferraz foi alvo de buscas quando estava no porto de St. John, na Terra Nova, e o MI5 decidiu que o operador de rádio devia ser detido. Uma série de erros impediu que a detenção fosse feita rapidamente e o navio partiu para Portugal, tendo os responsáveis britânicos tomado a decisão arriscada de o interceptar no alto mar.
Freitas Ferraz foi detido num ataque ousado a meio do Atlântico por parte do navio britânico HMS Duke of York a 01 de Novembro de 1942 e levado primeiro para Gibraltar e depois para o Reino Unido para ser interrogado. O ficheiro do MI5 inclui um depoimento biográfico na primeira pessoa e a confissão.
Freitas Ferraz foi deportado para Portugal em 1945. Em 1953, o seu nome é incluído numa lista de deportados que deixavam de estar proibidos de se deslocar ao Reino Unido por razões de segurança. Em 1955, o seu ficheiro é considerado encerrado.
2 comentários:
Boa noite,
Parabéns pelo blogue.
Permita-me precisar apenas um facto em relação ao texto que publicou sobre o espião português Gastão Crawford Freitas Ferraz - na medida em que o meu nome é aí referido.
O arquivo nacional britânico acabou de desclassificar a informação que possui sobre o caso.
É verdade que mencionei o caso do radiotelegrafista do Gil Eannes e de muitos outros espiões no decorrer da apresentação do meu livro "O Diário Secreto que Salazar não leu" (Oficina do Livro, Lisboa) em Outubro de 2008.
Permita-me complementar a informação fornecida pelo advogado José António Barreiros: no livro, conto detalhadamente essa e outras histórias de espiões portugueses ao serviço do Eixo. Tive acesso a arquivos internacionais (britânico, norte-americano e alemães) e nacionais: Torre do Tombo, Arquivo do MNE, Arquivo da Marinha, Arquivo Histórico-Militar, Museu Marítimo de Ílhavo,etc.
E menciono, por outro lado, o caso do arrastão Álvaro Martins Homem e dos marinheiros goeses.
Estou a escrever neste momento mais dois livros sobre o período da Segunda Guerra. E penso narrar num deles a participação dos navios e dos marujos no conflito - espionagem e contrabando.
Espero não o ter maçado excessivamente.
Saudações cordiais,
Rui Araújo
Jornalista
ruiaraujo@hotmail.com
Bemvindo , e muito prazer e muito obrigado pelas ajudas
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