A FORÇA AÉREA E O
ESTADO DO SÍTIO
2/2/11
Soubemos,
por uma notícia da agência “lusa” que o Sr. Ministro da Defesa (MDN) afirmou
que a Força Aérea Portuguesa (FA) “está disponível para repatriar todos os
portugueses que desejem abandonar o Egipto” e que os “meios da FA estão, evidentemente,
como é sua obrigação, empenhados nessa operação de repatriamento”
(sublinhados nossos) e, ainda, que a “operação é tutelada pelo Ministério dos
Negócios Estrangeiros” (MNE) o que não se sabe muito bem o que tal quer dizer,
já que o MNE não comanda qualquer força militar.
Finalmente,
que “nunca as FAs faltaram às suas obrigações no que diz respeito a uma
das suas missões constitucionais …”.
O
que o Sr. ministro não disse é que as missões estão a ser feitas no fio da espada
e que está tudo preso por arames, cada vez mais finos. E não referiu também que
não lembraria a nenhum Estado-Maior, deixar partir turistas para uma área de
conflito perigoso (para depois os ter que repatriar...), numa demonstração
grosseira de falta de informação estratégica e, ou, capacidade de análise e
decisão. Já bastaria ter que ir buscar os que lá foram apanhados desprevenidos!
E
está tudo preso por fios (ou “pinças”) porque a desmontagem das capacidades
militares efectuada nos últimos 25 anos, tem desmantelado de tudo um pouco e as
carências em pessoal, material e financeiras são gritantes. E isto não tem nada
a ver com a actual crise económico/financeira de que, aliás, as FAs são
completamente alheias.
No
caso em apreço a FA dispõe de seis aeronaves C-130, com cerca de 30 anos de
serviço, cada vez mais difíceis de manter e a necessitar modernizações
urgentes, e cuja substituição já deveria estar a ser equacionada e processada
há meia dúzia de anos. A prontidão é, assim, baixa e um dos aviões destacados
para esta operação foi confrontado com uma avaria em Creta.
Quanto
a pessoal a situação ainda é mais crítica, já que a Esquadra só dispõe de
quatro tripulações (a média dos últimos 10 anos deve rondar as quatro - ou seja
é um problema crónico), quando para uma exploração adequada da frota, devia
dispor de 12 (julgo que na FA ainda haverá alguns oficiais capazes de explicar
ao Sr. MDN o porquê). A situação é de tal modo crítica que já se chegou ao ponto
de ter um Oficial General no Estado-Maior a cumprir missões regulares na
esquadra e para se cumprir o actual repatriamento, teve que se ir buscar um
ex-comandante de base, a frequentar o curso de promoção a Oficial General, em
Pedrouços. E tiveram que o colocar de Falcon. Vejam por quanto ficou a hora de
voo…
E
tudo isto porque não mais se parou de menorizar a condição militar, a
partir de 1982 (fim do Conselho da Revolução e entrada em vigor da Lei da
Defesa Nacional e das FAs), e de se tentar reduzir a Instituição Militar à
expressão mais simples, tendendo para “zero”.
No
caso particular dos pilotos (e outras especialidades críticas), a causa principal
– além dos “dourados” da farda, já não terem brilho – é a disparidade
pornográfica com que o mesmo patrão, isto é o Estado, trata dos seus “servidores”
em termos de vencimentos e regalias sociais. No caso vertente focamo-nos nas
empresas públicas de transporte aéreo, com destaque para a TAP. É impossível
reter pessoal navegante, quando um co-piloto entra na TAP a ganhar o mesmo que
o Chefe de Estado-Maior do Ramo, ou quando um comandante na vida civil (a quem
nem sequer é exigido uma licenciatura), ganha três vezes mais do que um Coronel
(ou mesmo mais), e quando os pilotos de longo curso fazem, em média, um voo,
vírgula qualquer coisa (leram bem?) por mês! Isto porque em vez de terem sete
tripulações por avião, têm cerca de 12, quando seis já lhes dariam uma vida
confortável. Mas mesmo tendo gente a mais (ou aviões e ligações a menos), acabaram
de abrir mais um concurso para pilotos que vai levar mais uns quantos oriundos
da FA isto, claro, se as vagas não forem todas preenchidas por filhos de
funcionários da “casa”, dadas as “tradições monárquicas” de longa data,
existentes. Mas quando é preciso ir arriscar a vida e, ou, cumprir missões
difíceis e arriscadas vai a FA, pois é sua “obrigação”.
A FA não tem obrigação, mas sim o dever
de cumprir as missões que lhes estão consignadas,
e tem-no feito com eficácia, apesar dos constrangimentos apontados. O
governo é que tem a obrigação de lhe proporcionar os meios necessários e
consentâneos com essas mesmas missões e prover à equidade social dos seus mais
fiéis servidores. E pôr na ordem quem exorbita, ou não cumpre o que lhe é
devido, ajoelhar constantemente quando o sindicato dos pilotos, vírgula, da
TAP, ponto, ameaça fazer greve; ser incapaz de sanear as contas de uma
companhia que desde 1974 não dá lucros e que acumulou um passivo de cerca de
2,3 biliões de euros (segundo o relatório e contas de 2009, com tendência para
aumentar…) – como é que dizem que a querem privatizar?
E pagam a um estrangeiro para servir tal
empresa mais de duas vezes o vencimento do presidente dos EUA. O que,
incrivelmente, ou não, só foi dado conta, há uns dias, pelo directório de um partido
da oposição! A TAP está tecnicamente falida e em situação ilegal, pois está com
os capitais próprios negativos o que não é permitido pelo código das sociedades
comerciais (artº 35).
Não consta, porém, que toda esta
situação incomode qualquer jornalista ou comentador, ou tire o sono a nenhum
general ou almirante (já nem vale a pena falar em políticos…).
No
fim disto tudo não se vai resolver coisa nenhuma e o abaixo-assinado é que vai
passar por ser o “chato” da fita. Além de ter acabado de ganhar mais uns
quantos inimigos.
João
José Brandão Ferreira
TCor/Pilav
(Ref.)
Cmd.
Linha Aérea
2 comentários:
Isto saiu onde, sff?
FM
Muito bem observado pelo nosso Camarada Ten.Cor. Brandão Ferreira.
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