sexta-feira, 21 de agosto de 2009

OS PROXIMOS 230


"O menino Eleutério fica reprovado no exame de francês. O partido deita-lhe logo o olho. O menino Eleutério, continuando a sua bela carreira política, fica reprovado no seu exame de História. O partido agita-se e acena-lhe com um lenço branco. O caloiro Eleutério fica reprovado no 1º ano da Faculdade, o partido exulta e quer a todo o transe ter com ele umas falas. O sr. Eleutério sofre chumbos sucessivos. O partido não pode conter o júbilo. Fazem dele deputado! E a opinião aplaude.”
Os pais do menino Eleutério, orgulhosos e comovidos, com um sorriso embevecido, disfarçam uma lágrima teimosa. Aliviados, podem finalmente descansar…
Durante alguns anos de subserviência ao partido, sem qualquer ideia, sem palavras e sem convicções, o menino Eleutério terá direito a um bom ordenado, ajudas de custo (ao dia, ao quilómetro e ao segundo), despesas de representação (ignora-se de quem) viagens em 1ª classe (dobradas, desdobradas e redobradas), etc. Ao fim de algum tempo, exausto e contundido pelo enorme desgaste causado pelos berros, insultos, impropérios e até dizem por punhadas e safanões, o menino Eleutério poderá, com sorte e contínua protecção, chegar a Secretário, talvez a Ministro ou mesmo Presidente do Governo.
O menino Eleutério gosta de publicar escritos. É afinal como as crianças sentadas ao piano que martirizam as teclas pelo prazer do barulho, sem qualquer intenção de fazer música. Percebe-se que não pretende nem formar nem informar. Só pretende justificar-se e desentorpecer os dedos."

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