O
50º ANIVERSÁRIO DAS TROPAS COMANDO
12/07/12
Como se sabe – apesar
de tal ter sido considerado um facto menor, pela generalidade da comunicação
social, a avaliar pelo tratamento dado à efeméride – decorrem este ano as
comemorações dos 50 anos sobre a criação das tropas “comando”, no Exército
Português.
De facto, a
necessidade sentida no início da luta de contra – guerrilha em Angola, de se
constituírem unidades especialmente preparadas para fazer face ao novo tipo de
combate com que fomos confrontados, cedo se fez notar entre os oficiais do
quadro permanente.
Daí se ter constituído o primeiro centro de
instrução de “comandos” em Zemba, povoação situada nos Dembos, a norte de
Luanda, logo em Setembro de 1962.
Esta comemoração e
evocação justifica-se plenamente e merecia um relevo superior à normal festividade
que um evento deste tipo deve possuir.
A razão prende-se
com os altíssimos serviços que estas tropas prestaram às FAs e a Portugal,
tanto em tempo de paz, crise e guerra. Desenvolveram um alto espírito militar e
uma mística que lhes granjeou fama que ultrapassou as fronteiras nacionais.
Nos piores
momentos mantiveram sempre a disciplina e a coesão e, com elas, preservaram
sempre a capacidade operacional. Nunca foram derrotados.
A sociedade
deve-lhes, ainda, um papel fundamental (a par das unidades aéreas da FA, que
tem sido esquecida), no culminar da gravíssima crise político - social, em
25/11/1975, que colocou o país à beira de uma guerra civil e de uma ditadura
feroz de cariz marxista revolucionário.
O silêncio sobre
tudo isto não deixa de ser revelador do desnorte em que o país anda e que a
“crise” económico – financeira em que mergulhámos está longe de ser o principal
responsável.
Digamos que o
culminar das comemorações teve lugar no passado dia 29 de Junho, no Centro de
Tropas Comando (designação que nos parece menos feliz, já que uma unidade deste
tipo deve ser “companhia, batalhão, regimento, brigada”, etc.).
Esteve presente o
PR que discursou e condecorou cinco subunidades, por feitos em combate, em Angola e Guiné , nos
últimos anos da guerra.
Procedeu-se,
também, ao encerramento do 119º curso de comandos, com a entrega das
respectivas boina e crachá.
No conjunto, uma
cerimónia militar de alto nível como é timbre da casa (pese o cada vez mais
diminuto efectivo de tropas e equipamento em parada…).
Impõe-se, todavia,
realçar o seguinte: durante o discurso proferido pelo Comandante da unidade,
este agradeceu penhorado, a presença das altas entidades presentes
(PR,MDN,CEMGFA, Presidente da Camara, etc.). Entendemos tais agradecimentos, à
conta de palavras de circunstância, pois tais individualidades apenas estiveram
a cumprir o que era seu dever e competia. O que seria de verberar seria a sua
ausência…
Ainda durante este
discurso (e como me soa mal ouvir protocolarmente, citar em primeiro lugar um
presidente de camara relativamente a um chefe militar), passou-se algo
inusitado em cerimónias destas: o comandante das forças em parada teve,
aparentemente, uma quebra de tensão e tombou por três vezes, a primeira das quais
em sentido, batendo com o corpo em prancha, de costas no chão.
Das três vezes se
levantou, amparado pela ajuda entretanto chegada, e das três vezes recusou
abandonar o seu posto.
À terceira vez, e
apercebendo-se que o oficial não estava em condições físicas de permanecer na
função, o Chefe do Estado - Ma ior do
Exército, num gesto bonito e algo inédito, levantou-se do seu lugar e
dirigiu-se ao oficial em questão, que estava a 50 metros de si,
pegou-lhe no braço e conduziu-o para fora da formatura.
De imediato o
oficial mais antigo a seguir assumiu o comando e assim sucessivamente.
Tudo esteve bem e
assim é que deve ser.
Apenas para os
militares da “velha guarda” um pormenor correu diferente da antiga disciplina
lusitana: o oficial que caiu (de pé) deveria ter sido ajudado por pessoal do
Serviço de Saúde, a postos, fora da formatura e não por pessoal que está
formado (na formatura não se mexe nem que chova picaretas, lembram-se?).
A condecoração das
unidades “comando”, o Batalhão de Comandos da Guiné e as 19ª,20ª,30ª e 33ª
Companhias de Comandos, comandadas respectivamente pelos então, Ma jor Almeida Bruno e Capitães Raúl Folques, Oliveira Ma rques,
Rosa de Oliveira (falecido) e Arnaldo Cruz , representa o
reconhecimento, apesar de muito tardio, do seu valor militar.
Dir-se-á que vale
mais tarde do que nunca, mas convinha apurar as causas/responsáveis de tão
grande hiato temporal, pesando o facto de tratar-se de tão elevada condecoração
como é a Cruz de Guerra. Tudo isto pode vir a abrir uma “caixa de pandora” no
futuro imediato.
Finalmente
passámos a ter mais uma mão cheia de militares com a especialidade “comando”,
mais propriamente 20 (dois oficiais, um sargento e 17 praças), o que representa
38% dos 52 que iniciaram a preparação seis meses atrás.
Parece ser muito
pouco, não só em número mas, outrossim, em termos de custo/eficácia.
Não estamos a pôr
em causa a qualidade da instrução ou a sugerir um relaxamento nos níveis de
exigência. Estamos a dizer que há seguramente um problema no recrutamento e
selecção que deve ser equacionado/revisto rapidamente.
Mesmo tendo em
conta a medíocre preparação física, cultural, técnica, cívica e psico - moral
da generalidade dos jovens que chegam à idade adulta. Um magno problema que só
o Conselho de Ministros tem capacidade para ir resolvendo, mas que nunca deve
ter passado pela agenda de nenhum, faz décadas.
Longa vida pois,
às tropas comando, sem esquecer que esta longevidade vai estar intrinsecamente
ligada às necessidades e requisitos operacionais do combate futuro e à “ordem
de batalha” que se consiga manter nas micro - quase extintas FAs que se antevê.
Se a Nação
estivesse de “boa saúde” e o Estado, de facto, a representasse, cerimónias como
esta estariam pejadas de povo, que aproveitaria a ocasião para lá ir homenagear
aqueles cuja missão primeira é defendê-lo em situações extremas, e aos que
tombaram no passado, ao fazê-lo.
E aproveitariam
para cantar a “Portuguesa” em vez de só o fazerem quando se juntam em grupos
ululantes, para verem uns tipos jogarem uma bola com algumas partes do corpo.
Bom, mas isso era
se o País estivesse de boa saúde.
João J.
Brandão Ferreira
TCorPilAv. /Ref.)
Nota:Na foto , O Coronel Raul Socorro Folques (não se entende como não é Oficial General!) foi um dos mais brilhantes combatentes da Guerra do Ultramar , servindo os Comandos em Angola e na Guiné
1 comentário:
Conheço o Coronel Folques.Grande combatente que tem uma data de Cruz de guerra
Respeitos
AAC
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