segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O CRISTO DAS TRINCHEIRAS


No sector português da Flandres, que ficava entre as localidades de Lacouture e Neuve-Chapelle, encontrava-se um artístico cruzeiro com um Cristo pregado numa cruz de madeira que dominava a paisagem da planície envolvente.

A imagem deste Cristo não era, obviamente portuguesa, mas encontrava-se na zona defendida pelo Corpo Especidionário Português durante a ofensiva alemã que quase destruiu a 2ª Divisão de Infantaria.
No dia 9 de Abril de 1918, sobre aquela planície caiu uma tempestade de fogo de artilharia, durante horas a fio, que a metralhou, a incendiou e a revolveu. Era a ofensiva da Primavera de 1918 do exército alemão. A povoação de Neuve-Chapelle quase desapareceu do mapa, de
tão transformada em escombro. A área ficou juncada de cadáveres e entre estes jaziam 7.500 portugueses da 2ª Divisão do CEP mortos ou agonizantes.

No final da luta apenas o Cristo se mantinha de pé, mas também mutilado. A batalha decepou-lhe as pernas, o braço direito e uma bala varou-lhe o peito. Mas, no meio do caos, foi trazida pelos militares que conseguiram reagrupar-se e regressar às linhas aliadas.
É quase inimaginável que, debaixo das barragens de artilharia alemãs, que dizimaram grande parte do contingente português, a opção de alguns militares fosse a de trazer consigo a imagem de Cristo, severamente danificada, e a colocassem em local seguro onde pudesse ser novamente venerada.
Em 1958 o Governo Português mostrou o desejo de possuir aquele Cristo mutilado ao Governo Francês. Tornara-se um símbolo da Fé e do Patriotismo nacional e passou a ser conhecido como o "Cristo das Trincheiras".

A imagem chegou a Lisboa de avião, a 4 de Abril de 1958, uma Sexta-feira Santa. Ficou em exposição e veneração na capela do edifício da Escola do Exército até 8 de Abril, quando foi conduzida para o Mosteiro da Batalha e colocada, a 9 de Abril à cabeceira do túmulo do Soldado
Desconhecido, na sala do Capítulo.

A imagem foi acompanhada desde França por uma delegação de portugueses antigos combatentes da Grande Guerra, que residiam em França, e por uma delegação de deputados franceses, chefiada pelo Coronel Louis Christians. As cerimónias foram apoteóticas e milhares de portugueses desfilaram perante a imagem em Lisboa.

No dia 8 de Abril a imagem foi transportada num carro militar para a Batalha, sem qualquer cerimonial especial, e aí ficou exposta na sala do refeitório do mosteiro para no dia seguinte, 9 de Abril, se efectuar a entrega oficial. No dia 9 de Abril, pelas 11 horas, começaram a concentrar-se junto ao Mosteiro da Batalha numerosas entidades civis e militares, entre elas os Embaixadores de Portugal em França e de França em Portugal, os Adidos Militares da França, da Bélgica e dos Estados Unidos, as altas patentes portuguesas do Exército, Marinha e da Força Aérea. Ao
meio-dia iniciaram-se as cerimónias com a chegada do Coronel Louis Christian (França) e o Ministro da Defesa de Portugal Coronel Santos Costa. A guarda de honra foi prestado por um Batalão do Regimento de Infantaria N.º 7, Leiria. O andor que transportou o "Cristo das Trincheiras" entre a sala do refeitório e a sala do Capítulo esteve ao cuidado de representantes da Liga dos Combatentes da Grande Guerra.

O "Cristo das Trincheiras" foi então deposto sobre um pequeno plinto adamascado à cabeceira do túmulo do "Soldado Desconhecido". Terminada as orações o Adido Militar Francês, Coronel Revault d'Allonnes, conferiu aos dois "Soldados Desconhecidos" duas Cruzes de Guerra, as quais foram depositadas sobre a campa rasa.

A fanfarra do Regimento de Infantaria n.º 19, Chaves, tocou a silêncio no final da cerimónia, enquanto uma Bateria de Artilharia do Regimento de Artilharia Ligeira de Leiria, salvava com 19 tiros.


Mais do que um episódio ocorrido durante a 1ª Guerra Mundial, o "Cristo das trincheiras" simboliza a fé que manteve os militares portugueses na linha de frente durante um par de anos, praticamente sem licenças, mal abastecidos, sentindo-se abandonados por quem os enviou para combater por algo que a maioria não entendia. 

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom blogue este, sim Senhor

José Pedro Ferreira

Anónimo disse...

Fantastico. Obrigado ao Cacine

Melro

João Nobre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manel disse...

Obrigado a quem se manifestou e com agrado.

Visitei o0 blog Historia Maximus e muito gostei. Obrigado por ter partilhado