Separadas por escassas horas, as mortes do coronel .
Victor Alves, "capitão de Abril", e do cronista "cor-de-
rosa" Carlos Castro tiveram o condão de fazer notar
uma vez mais algumas evidências sobre Portugal .
e os portugueses que nunca será de mais destacar.
Na verdade, mesmo admitindo as macabras circunstâncias
em que Castro foi assassinado e os requintes de malvadez de
que foi aparentemente vítima, não parece normal que tal
facto tenha merecido tão esmagadoramente maior espaço
mediático do que o desaparecimento de um dos principais
símbolos da Revolução do 25 de Abril de 1974 e destacado
operacional da construção do processo democrático.
Víctor Alves faleceu domingo, cerca de 36 horas depois da
morte, em Nova Iorque, de um colunista sociál conhecido
por se dedicar há décadas a analisar os factos da actualidade
"cor-de-rosa" nacional. Considerado em muitas das
biografias espontâneas que dele nos últimos dias chegaram ao
nosso conhecimento como "um cidadão de primeira", Vítor
Alves foi um homem probo, sério, rigoroso, sensível que
contribuiu de forma decisiva - antes e depois do dia 25 de
Abril de 74 - para o actual regime democrático em Portugal.
Vítor Alves, que integrou, com Vasco Lourenço e OteIo
Saraiva de Carvalho, a comissão coordenadora e executiva do
MFA (Movimento das Forças Armadas), foi o autor do
primeiro comunicado dirigido à população no dia 25 de Abril
e o militar que foi o porta-voz do Movimento. Mas as
exéquias mediáticas de Vítor Alves foram curtas, muito
curtas, se levarmos em conta a importância do seu legado e o
impacte informativo que outros factos da actualidade
suscitaram e de que é exemplo, sublinho, a vaga noticiosa
relativa à morte de Carlos Castro.
O País trocou "um cidadão de primeira" por uma "histó-
ria de segunda", mas o desiderato é positivo: chancela-se ir ..
morte do militar, político, ministro e conselheiro da Revolução em
rodapés a correr e baixos de página e atribuem-se honras de Estado
... mediático ao assassinato do cronista (não cronista social conto
alguns lhe chamam, como se Carlos Castro e Fernão Lopes fossem
páginas do mesmo livro ... ) e às incidências macro trágicas em
que foi encontrado o seu corpo após alegada tortura, castração e
assassinato.
Mas a responsabilidade de todo este "estado a que - de novo
e citando Salgueiro Maia - chegámos" não é do povo. Porque
não é o povo que edita jornais, blocos noticiosos, telejornais
ou sites. Nem é o povo o responsável por Marcelo Rebelo de
Sousa ter dedicado ontem, no Jornal da TVI, mais tempo de
antena à morte de Carlos Castro do que ao . Desaparecimento
de Vítor Alves.
António de Sousa Duarte
Ex-jornalista, consultor
de comunicação, doutorando em Ciência Política
Nota: Esta é a tristeza do nosso(?) novo País.Agradeço ao FFP
4 comentários:
Muito bem, Comandante...
É a vergonha a que este Pais chegou, mas também só temos aquilo que merecemos, pois nada fazemos para que algo mude. Já se viu que com actos eleitorais não vamos lá. Cada vez que se cava num quintal de politico, logo achamos esqueletos escondidos, temos que seguir outra via.
já agora mais uma aberração ,que se não fosse triste e grave podia passar por anedota.
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1757718
Que se mande instalar na AR um tanque de aguada acabado ser beneficiado, para os srs de-puta-dos saberem dar valor à agua da torneira
Este tipo de "esquecimento", "confusão" ou "prioritização" não resulta de ignorância, incompetência ou iliteracia. É propositado, e programado a médio e longo prazo. Pode definir-se em poucas palavras: "panem et circenses".
Subscrevo o comentário anterior e tiro-te o meu chapéu, Manel, por esta publicação.
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