“Maria José Morgado deu uma entrevista ao EXPRESSO na qual se confessa. É um
depoimento pessoal, de uma mulher profundamente triste que afirma nunca se ter
interessado pela vida porque sempre se interessou pela utopia. É um retrato de
alguém que se consagrou a essa abstracção chamada partido.
Nasceu
em África, Angola, mas «a minha infância
não tem nenhuma importância objectiva». Se tivesse nascido em Lisboa era
igual. «A terra encarnada ou os
pôres-do-sol de fogo são memórias fúteis, muito boas para romances e
notavelmente aproveitadas pelo Lobo Antunes». Mas «tudo isso é dispensável, não me traz
saudades». «As recordações tristes
para mim são boas porque são as mais intensas». «Em Luanda havia bailes, ia-se à praia, nada disso
me agradava».
A relação com o MRPP, para onde recrutou Durão
Barroso, é definida como uma relação exclusiva, que considera o amor uma «fraqueza», onde o romantismo «era contra a moral proletária», o
sentimento pelo marido (outro militante) como «fazendo parte da militância e não como uma paixão
tradicional» e os sentimentos como «coisas que se constroem». O amor era um
desvio pequeno-burguês. O corpo era «uma
fraqueza» e tinha de ser abandonado. Lia-se obrigatoriamente Marx,
Lenine, Estaline, Mao Tsé-Tung e Engels. «Aquilo tinha uma mística!».
Ela
era conhecida por Mizé Tung, sempre pronta para a pancada. A coragem era uma
consequência do sentido de missão, «uma
obrigação», e não são admitidas vacilações. Só falavam «dos assuntos da revolução e do partido». O
quotidiano da relação com o actual marido era sem tempo e por isso ficavam na
mesma casa sendo era raro encontrarem-se. Porque «tínhamos ambos tarefas a cumprir».
Quando ela rompeu com o partido, por causa do marido, Saldanha Sanches,
ter rompido, diz: «o mundo abateu-se sobre
mim». «O partido era a única razão
de ser da minha existência. Não tinha outros interesses nem outros valores. Tive
de renascer depois disso». Atirou-se ao jogging «para não enlouquecer». Agora também
pratica natação, que ela acha «hedonista». Antes disso, a dedicação ao
partido deu-lhe, confessa, os anos mais felizes da vida dela.
Nota:Tirado de Clara Ferreira Alves, in Diário Digital
2 comentários:
Deve ser gozo, não?
zé luis
Não sei se é de saudar a auto-confissão deste caso estranho ou se é de recomendar um tratamento psiquiátrico ...
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