Acabei de ler o livro do Comandante Patrício Leitão, "O quarto da alva", da editora "âncora".
A primeira sensação que tive foi de desagrado comigo mesmo, por nada ter feito de semelhante (lembrei depois, o que me deu uma réstia de alívio, os "postais do Ultramar" que publiquei nos Anais do Clube Militar Naval enquanto estava na minha 1ª comissão em África).
Estas 389 páginas são,assim, um exemplo a louvar, a seguir, a tentar imitar, pois acrescentam, e de forma brilhante, um capítulo de vida à história do empenhamento das Forças Armadas em África.
E a história, normalmente, só é bem contada por quem a tomou na mão, que é o caso do autor, que nos relata, e explica, a sua participação num Destacamento de Fuzileiros Especiais no mato , em isolamento e em combate .O antes, o durante e o depois de uma "Operação" , excelentemente descritos, fazem os leitores ter , finalmente, uma luz sobre o que era um DFE.
De seguida , intercalando com histórias de marinheiro , fala-nos na outra Marinha , a indispensável para todos e que poucos conhecem , com o pormenor necessário à compreensão . Os 5 anos que passou na Missão Hidrográfica de Angola, de Cabinda à Baía dos Tigres , com um salto vigoroso ao esplendor de São Tomé e Príncipe , mostra a grandeza do nosso botão de âncora com o empenho na ciência e na investigação mesmo nas mais inflamadas porções do território nacional
Acompanhei a narração com a minha memória , pois andei por estes sítios e conheci-os muito bem , e não por os outros da contra-costa , e por isso "vi" os locais, senti os cheiros, provei os sabores e transpirei de novo a saudade de África, que nunca me larga. Teriam ficado ali muito bem umas "cartas" , tanto do Norte de Moçambique , como de toda a fabulosa costa Angolana ....e, já agora a bóia de espera de Caió.
E se ainda há um "para além de..." , o Comandante Leitão aborda, sem quaisquer problemas ou hesitações difíceis temas como os da inacção , da relação com as Chefias longínquas , do reconhecimento das acções individuais e colectivas e de quem as relata e as julga , da deserção , do tratamento e relação de trabalho com os autóctones e da importância dos "guias" e , num todo , do que é a vida de um Militar em tempos de guerra...para além das suas engraçadas e proveitosas ligações onde o fogo eram as setas de Cupido.
Li o livro, no meu sossegado quarto diário "da meia noite ás quatro", tomando algumas notas a lápis de coisas que também vivi ou por algum modo tinham a ver comigo, ou de considerações e dissertações a que dizia "bravô" ou não concordava (raro) e que porventura ajudarão meus Filhos ou Netos a ler melhor esta história.Sim porque isto é uma estória e uma história, cujo narrador e galã nos faz companhia desde a sua saída da Escola Naval, um jovem de 23 anos , até ao 25 de Abril , um Homem , um Herói, um Marinheiro experiente e técnico especialista de uma ciência e arte indispensáveis a um País costeiro
Gostei e muito .
Felicito , recomendo e fico a meditar se um dia serei capaz de fazer algo parecido.
3 comentários:
Excelente....
Haverá em qualquer livraria???
Um abraço
ze luis
Sou o cardoso
Excelente comentário a um livro invulgar e muito bem escrito.
Recomendo vivamente a sua leitura e posso dizer que já está à venda na FNAC e noutras livrarias (Bertrand e Barata).
Gostei da Aurora Boreal a iluminar o comentário " O Quarto da Alva" pois recordei a recompensa celeste de fazer aparecer tão deslumbrante evento, quando "um pobre ser humano" tinha acabado de fazer uma pequena palestra sobre as razões " das ditas" algures na fronteira entre a Tundra e o Oceano Polar Ártico " Point Barrow".
JL Cardoso
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