EXAME DE CONSCIÊNCIA ÀS TROPAS
14/1/12
“Senhor, dai-me serenidade para aceitar as
coisas que não posso mudar; a coragem para mudar as coisas que posso mudar, e a
sabedoria para conseguir distinguir umas das outras.”
Oração
da serenidade
Autor desconhecido
Este
artigo destina-se a pôr a (grande) maioria das pessoas contra mim. Se a sua
consciência o ditar.
Do
anterior falámos do desmantelamento da Instituição Militar e da menorização dos
militares, que tem sido levada a cabo por todas as forças políticas
representadas no Parlamento (sobretudo pelas do arco do poder), nomeadamente
desde que a Lei 29/82 - Lei da Defesa Nacional e das FAs - entrou em vigor e
que culminou agora no “congelamento” das promoções e na espantosa trapalhada à
volta do Dec-Lei 296/09 (integração dos militares na tabela remuneratória
única).
Falámos ainda da falta de êxito da mais
elevada hierarquia militar na defesa da IM, o que tem levado a um manifesto
afastamento entre as partes com cada vez mais nefastas consequências na coesão
do todo.
A
indignação das tropas foi potenciada, porém, pela “suspensão” da sua carreira;
dos cortes salariais e naquilo que se adivinha (e vai ser uma realidade), na
“Saúde Militar”. Ou seja em aspectos exclusivamente materiais e que afectam o
ser individual no seu dia - a - dia.
Parece-me curto. Daí que seja necessário
fazer um exame de consciência, passe a “impertinência”.
De
facto, ao longo destes últimos 35 anos quando ocorreram numerosos erros e
indignidades relativamente à Defesa Nacional e ao País raramente se viu alguém
indignado ou disposto a opor-se ao plano inclinado em que fomos postos (o país
e a IM). Pelo contrário, alguns até colaboraram com entusiasmo. Vou dar alguns exemplos
para vos avivar a memória:
-
Lembram-se como não se quis “julgar” ninguém a fim de separar o trigo do joio,
quem se portou mal, de quem se portou bem (nos termos da virtude e da honra),
durante e após o 25 de Abril, até a situação estabilizar?
- Lembram-se da
incrível proliferação de subsídios; da reintegração a esmo de quem tinha sido
saneado; das promoções avulso e da reconstituição de carreiras (conhecidas na
gíria pelo “garimpo”), que causaram mais injustiças do que resolveram e
inquinaram a IM por duas gerações? (terá sido o “apaziguamento” possível?);
-
Lembram-se quando acabaram com o Serviço Militar Obrigatório? (um erro trágico
de gravíssimas consequências!);
-
Lembram-se quando mudaram a legislação sobre a escolha dos chefes militares,
que governamentalizaram, impedindo qualquer contributo válido da própria
instituição?
-
Lembram-se quando achincalharam publicamente várias figuras de generais e
almirantes e quase ninguém protestou, ou se solidarizou?
-
Lembram-se quando retiraram os chefes militares da tabela salarial das FAs e os
equivaleram a cargos políticos? (separando a cabeça do resto do corpo...).
-
Lembram-se quando acabaram com os Tribunais Militares e, na prática, destruíram
a Justiça Militar? (a única que ainda funcionava…).
-
Lembram-se quando invadiram o ensino militar pelo ensino civil, para além do
que era razoável, pondo-nos de cócoras com quem connosco só tem a aprender?
-
Lembram-se dos ataques continuados e recorrentes à condição militar e aos
militares, constantes na comunicação social, sem haver qualquer reacção?
-
Lembram-se da incrível invasão das mulheres nas FAs, sem nexo que o
justificasse, para além da demagogia do politicamente correcto? (e da falta de
voluntários para algumas especialidades…).
-
Lembram-se dos sucessivos ataques ao RDM, que acabaram na sua remodelação, que
transformou a Disciplina Militar, numa quase ficção?
-
Lembram-se da regra, inacreditável, do duplo voluntariado para se arranjar
pessoal a fim de se constituírem unidades para operar fora do território
nacional, cuja principal razão residiu no pânico de alguém poder morrer
no cumprimento do seu dever?!
-
Lembram-se das sucessivas amputações na autoridade delegada nos chefes
militares para poderem bem comandar os seus Ramos - e poderem ser responsáveis
por isso - (o que depois se reflecte pela hierarquia abaixo), que os têm vindo
a transformar em figuras decorativas, em detrimento de políticos de ocasião
cuja ignorância é crassa e as intenções duvidosas?
-
Lembram-se dos numerosos grupos de trabalho já nomeados a nível do MDN, enxameados
(quando não presididos) por civis, com a finalidade de tratarem de assuntos
estritamente militares?
Os
exemplos podiam continuar restando acrescentar um ponto: muito do mal que foi
efectuado podia ser relevado se tivesse sido feito com boa intenção. A
ignorância não pode ser apresentada como desculpa e há incontornáveis indícios
de dolo.
A
memória dos homens é fraca mas, às vezes, é também muito conveniente.
Por
outro lado as responsabilidades dos militares não se limitam à Instituição de
cujos antepassados são agora os sucessores (e não há instituição mais antiga no
país!). Os militares têm responsabilidade em tudo o que se passa em Portugal,
como cidadãos de corpo inteiro, e especiais responsabilidades naquilo que possa
pôr em perigo a Segurança da Nação e a sua Independência (jurámos todos
defender isto com risco de vida e tal não prescreve na reserva, reforma, nem
nos cidadãos que cumpriram o SMO).
Ora
também neste âmbito, raramente topei com alguém que fosse além da conversa de
escárnio e maldizer à volta de uma boa bacalhoada, âmbito em que continuamos
imbatíveis.
Vou arriscar dar, também, alguns
exemplos neste particular:
-
Recordam-se quando virámos costas ao mar (e ao passado) comprometendo o futuro,
até ver, irremediavelmente?
-
Recordam-se do modo irresponsável como entrámos na Comunidade Económica
Europeia?
-
Recordam-se como entrámos no Euro sem estarmos em condições de o fazer?
-
Recordam-se como assinámos os tratados de Maastricht, Nice e Lisboa, que põem
em causa a nossa independência, sem se explicar nada à Nação nem se fazer
referendo?
-
Recordam-se como se fez a última revisão constitucional (que passou
despercebida), em que se instituiu o primado da legislação oriunda de Bruxelas
sobre a nacional, ainda por cima sem que nada a tal nos obrigasse?
-
Recordam-se como deixámos a nossa cultura, economia e finanças ser invadidas
pelos espanhóis, país com quem temos a única fronteira que nos resta e cujas
ambições passadas, ainda vamos conhecendo?
-
Recordam-se de como temos vindo a alienar todo o nosso património, sobretudo
aquele que é estrategicamente relevante? (depois de termos trocado as verbas
dos fundos estruturais pela destruição do aparelho produtivo!);
-
Recordam-se de como há décadas se passou a enviar políticos aos pares (não se
sabendo como nem quem os escolhe), a reuniões internacionais de que ninguém
conhece a agenda, e que são guardadas por forças de segurança e militares,
pagas pelos impostos dos cidadãos e que, depois, esses políticos aos pares têm
vindo, sucessiva e maioritariamente, a ocupar os cargos de PM e PR?
Quando
uns malandrotes madeirenses andam, irresponsavelmente, a agitar o fantasma da
independência, isso tem-vos causado, ao menos, algum franzir de sobrolho?
Quando
a irresponsabilidade política quer acabar com o feriado do 1º de Dezembro -
verdadeiro símbolo da nossa individualidade como Nação - isso causa-vos algum
transtorno?
Querem
mais exemplos?
Pois
parece que muito poucos de vós se tem apercebido disto, a avaliar pela passividade
evidenciada, ó tropas!
Começaram
agora a acordar pois… estão a ir-vos ao bolso. Mais ainda estão aturdidos com o
soco e sem saber o que fazer. A pancada ainda só agora começou. É curto e está
tarde (embora valha mais tarde do que nunca).
Julgam
que o atrás apontado não configura uma invasão e por isso estão “serenos”?
Invasão militar, não será, mas as consequências são as mesmas ou piores. Vou
expor de outro modo para melhor se perceber: a presença da Troika no Terreiro
do Paço é idêntica à da Duquesa de Mântua no Palácio Real, protegida pela
Guarda Alemã no Castelo de S. Jorge…
Hoje
estou disposto a bater-me por quê? Eis a súmula do exame de consciência. Ficar
indignado ou reagir só quando vos vão ao bolso é curto e fica tarde. E só
acontece por falta de reacção a montante.
Nós
nem sequer temos que ter serenidade para aceitar o que não podemos mudar, nas
palavras do ilustre desconhecido, pela simples razão de que tudo o que se tem
passado podia ter sido evitado ou mudado. Faltou apenas a noção do que é
geopoliticamente relevante, bom julgamento e alguma coragem.
João
José Brandão Ferreira
TCor/Pilav(Ref)
(1) No próximo ”número”, o exame
de consciência aos chefes militares.
2 comentários:
Um pouco violento para o meu gosto
LGF
Um pouco brando para o meu gosto.
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