"Infelizmente [o navio-escola] Sagres não veio a Macau. Estava planeado e não veio, portanto, [esta exposição] é uma forma de vir aqui através das fotos", afirmou à agência Lusa o autor Joaquim Magalhães de Castro.
A exposição é composta por 70 imagens e uma instalação em vídeo e retrata 40 dias a bordo do navio-escola, de Goa a Alexandria, e daí até Lisboa, durante as duas últimas etapas da viagem de circum-navegação do Sagres, realizadas entre janeiro e dezembro de 2010.
Entre os momentos mais marcantes, captados pelo fotógrafo e jornalista residente em Macau, está uma tempestade no Mediterrâneo - com ondas de 13 a 14 metros e ventos de 140 quilómetros por hora -, e a despedida dos pescadores em Goa, depois de a chegada do Sagres ter sido interpretada por "alguns fundamentalistas como uma forma de neocolonialismo".
"Os pescadores deram a resposta adequada (...) Estávamos a iniciar a largada e de repente surgiram dezenas de embarcações todas engalanadas, com flores, panos, bandeiras portuguesas e algumas indianas, e com orquestras a bordo com o equipamento da seleção nacional, a demonstrarem que estavam muito contentes que a Sagres tivesse vindo à Índia. Ficámos todos com pele de galinha. Foi um momento muito emocionante", recordou.
Outro apontamento captado pela lente de Joaquim Magalhães de Castro foi a ameaça da pirataria somali em pleno Oceano Índico, no Golfo de Adém.
"Criou alguns momentos de expetativa, mas nada que nos assustasse até porque levávamos a bordo fuzileiros para proteger o barco", disse.
Organizada pelo Instituo Internacional de Macau, com o apoio do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Fundação Oriente e Instituto Português do Oriente, entre outras entidades, a exposição fotográfica estará patente no Clube Militar até 16 de fevereiro, de onde seguirá para Hong Kong, Toronto e São Francisco.
"O objetivo é dar a volta ao mundo como o Sagres deu". Como tal, numa segunda fase de itinerância, já sob a alçada do Instituto Camões, o trabalho de Joaquim Magalhães de Castro deverá chegar aos locais com vestígios da presença portuguesa, havendo já alguns contactos com os embaixadores portugueses nesses países.
Construído em Hamburgo em 1937, para a marinha brasileira, o atual navio-escola Sagres foi adquirido ao Brasil em 1961 e iniciou a primeira viagem com bandeira portuguesa a 25 de abril de 1962.
O Sagres visitou Macau quatro vezes entre 1979 e 1993. A quinta passagem pelo território - e primeira desde a transição da administração para a China - estava prevista na circum-navegação de 2010, mas não se concretizou porque Pequim negou a autorização para atracar em Macau, sob a justificação que a autonomia da Região não permite a visita de navios de guerra.
Com esta exposição, Joaquim Magalhães de Castro também pretende demonstrar que "a Sagres é acima de tudo uma embaixada de Portugal" e que "apesar de ser considerado um navio de guerra, de guerra não tem nada".
Autor de várias obras dedicadas à Expansão Portuguesa, incluindo livros, álbuns fotográficos e documentários - como o "Mar das Especiarias", "No Mundo das Maravilhas", "Os Bayingyis do Vale do Mu - Luso Descendentes na Birmânia" e "A Maravilha do Outro - No Rasto de Fernão Mendes Pinto" -, Joaquim Magalhães de Castro pretende também fazer um documentário sobre a viagem circum-navegação do Sagres.
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