Com a devida vénia
O MINISTRO
DA DEFESA E OS SÁTRAPAS MODERNOS
15/2/13
No dia 14 de
Fevereiro o Senhor MDN deu uma entrevista à Judite de Sousa, na TVI, que não passou
de uma réplica, de afogadilho, ao programa do Prof. M. Carreira, sobre as
Forças Armadas (FAs), três dias antes, onde figurou o Gen. Loureiro dos Santos.
Aproveitou ainda para enviar umas indirectas ao Gen. P. Ramalho, que também dera
uma curta entrevista à TVI onde criticava o corte de 8.000 efectivos e outras
barbaridades.
O ministro que só
deve ter ouvido falar em FAs e militares quando - distraidamente - folheava uma
revista, já em idade púbere, trincando um queque na Foz do Douro, veio à liça
com ar indignado de virgem ofendida.
Então ele era lá
capaz de afrontar as FAs, logo ele, um imaculado sátrapa, perdão ministro?![1]
Marcou S. Exª a
entrevista fazendo amarra num ponto: a imaculada intenção (só falta virem para
as entrevistas vestidos de branco e com asinhas), de que o objectivo da reforma
(?) – palavra que é a matriz do constante desatino em que sucessivos governos
têm posto as FAs – é a operacionalidade da tropa!
A tristeza da
argumentação deste pedaço da humana cidadania, em exercício de poder, seria
apenas deplorável caso não se esmerasse na insistência de nos tratar como
parvos.
Usando uma lógica
barata de advogado caro o Sr. Ministro sofisma, actividade que, pelos vistos, é
a única que domina, pois nem um simples silogismo é capaz de desenvolver.
Vejam esta pérola:
defende o coitado, ser necessário reduzir os efectivos (que devem ser imensos,
subentendendo-se da palração), para permitir reduzir custos na área do pessoal
a fim de aumentar a verba para a operação e treino das tropas. Tal é baseado na
premissa de que se gasta mais de 80% do orçamento na rúbrica do pessoal.
O Sr. (ainda) Ministro
deve estar a mangar com a gente. Só pode.
Então, não vislumbrará
tão iluminada inteligência, que até se poderia gastar 100%?[2]
Bastava que, o
senhor e o patético e aldrabão governo de que faz parte, destinasse verba que
apenas correspondesse às necessidades da despesa com o pessoal…
Por acaso o
pessoal apareceu na vida militar por obra e graça do Espirito Santo?
Por acaso “alguém”
pode pegar no pessoal e eliminá-lo? Quer gastar algumas munições (olhe que se
arrisca a esgotá-las – e não é por “eles” serem muitos, mas por “elas” serem
poucas…) a fuzilá-los?
O que fizeram os
seus antecessores nos últimos 20 anos até agora? Não foi o de andarem a reduzir
constantemente os efectivos? Por acaso as verbas destinadas a operações e
treino aumentaram?
O senhor não me
tire do sério e evite cruzar-se comigo na rua!
E no meio desta
publicidade enganosa vem afirmar que poupa 218 milhões? Mas então onde é que
está o ganho para a operacionalidade das FAs, partindo do princípio que o
sátrapa Gaspar fica com a poupança?
Você – termo pelo
qual o passarei a tratar – enxergue-se e enxergue-nos![3]
Com o maior
dislate, ainda, vem dizer que não senhor, o Gen. L. dos Santos (de quem não sou
defensor oficial nem oficioso), não tem razão em acusar o governo de andar com
o “carro à frente dos bois” por estar a querer reduzir os efectivos antes de se
rever o Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN), pois tal está a ser
tratado e ficará pronto em Março.
Mas não afirmou na
mesma que ia reduzir os efectivos e que se saiba ainda estamos em Fevereiro… Você ,
por acaso deu-lhe uma fézada ou consulta videntes?
Pergunto ainda,
algum governo já elaborou um CEDN que servisse para orientar fosse o que fosse?
Alguma vez ligaram pevide ao que lá estava escrito? Alguma vez foi elaborado um
conceito estratégico que não fosse o militar (CEM), dele derivado?
Já agora, o CEM
também vai estar pronto em Março? É que segundo parece (a gente já não sabe o
que está em vigor dada a volatilidade com que tudo muda e as emendas sobre as
emendas que se vão acumulando), as Missões, Conceito de Acção, Ameaças,
Dispositivo e Sistema de Forças, relativos às FAs, derivam primariamente do
CEM, não do CEDN…
E o pessoal em serviço nas FAs é
para dar corpo e consubstanciar o atrás apontado…
E o que é que um
ministro tem que andar a sugerir coisas sobre um documento que tem a
classificação de “secreto”?
Vem dizer,
defendendo-se das críticas de militares, que os estudos para que aponta são
também feitos por militares e que as competências são idênticas. Duvido.
Indique-me, se for
capaz, o nome deles, pois eu conheço-os a quase todos. E diga-me se estão no
activo.
E partindo do
silogismo incompleto e manhoso, utilizado, pode adiantar se as intenções também
serão idênticas?
Você sabe Sr. Ministro,
que já Camões dizia que “em Portugal também alguns traidores houve, algumas
vezes…” Não referiu o grande poeta – que começou por ser soldado – se algum
deles era militar. Se calhar (na altura) ainda não teria havido nenhum.
Há poucos meses
escrevemos um artigo em cujo título se questionava o MDN se tinha ensandecido.
Creio que agora já
dá para não ter dúvidas sobre a resposta.
Portugal apesar de
estar cheio de Sátrapas, ainda não virou uma Satrapia.
Sobretudo uma Satrapia
do Grupo de Bildelberg.
João
J. Brandão Ferreira
Oficial
Piloto Aviador
[1] No
antigo Império Medo/Persa – já lá vão uns anitos – os territórios ocupados pela
expansão do mesmo, eram divididos em Satrapias, à frente das quais se colocava
um sátrapa, o qual respondia directamente ao soberano. Fui ao dicionário e
copiei: “Sátrapa” – governador de Província entre os antigos Persas; grande
dignatário; homem despótico, rico e voluptuoso; homem efeminado; déspota
(Eduardo Pinheiro, Livraria Figueirinhas, Porto. De harmonia com o Decreto-Lei
nº 35.228, de 8/12/1944.
[2] Se
fosse vivo, o saudoso Cor. Homero de Matos, possivelmente diria uma das suas
frases lapidares, “que tem a luminosidade de uma vela de sebo dentro de um
corno de carneiro”…
[3] O
termo “você” vem do antigo, elegante e estimável termo “Vossa Mercê”, que deu,
por corruptela, na linguagem popular, o vocábulo “Vossemecê” o qual
“escorregou” para “você” num linguajar mais boçal. Por vezes admissível no
tratamento de superior para inferior, de conhecedor para ignorante ou de mais
velho para mais novo.
Assumo o plebeísmo. As circunstâncias apetecem.
2 comentários:
Muito bom. As usual.
Então não querem lá ver que, em quase dois anos, a única obra na Defesa, deste Sátrapa, foi a erecção parcial do HFAR e para a qual não tem verba suficiente para a respectiva ejaculação?
Como sempre um texto brilhante.
Eh uma salva que "Enquadrou"
Parabens
Goncalves Cardoso
CAlm ref
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