A subida do número absoluto de desempregados tem sido
uma constante nos últimos 35 anos, embora com algumas quebras pontuais,
atingindo atualmente 589,8 mil pessoas, o que equivale a mais que quatro
vezes o valor registado em 1975.
No ano seguinte à revolução de abril, o desemprego
afetava 138 mil pessoas, 10 anos depois existiam 405,4 mil
desempregados, em 1995 os desempregados eram 338,4 mil e em 2005 eram
422,3 mil, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística
(INE) e da Pordata
, base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Por sua vez, a taxa de desemprego, que está atualmente
nos 10,6%, segundo o INE, mais que duplicou na última década. Em 1985,
chegou aos 8,7%, baixou para os 4,7% em 1990, cinco anos depois estava
nos 7,1% e em 2000 baixou para 3,9%.
O fraco crescimento económico e aumento da população
ativa foram os fatores considerados determinantes para esta situação por
economistas contactados pela agência Lusa.
Ciclos de crescimento seguido por crises
José Reis, director da faculdade de Economia de Coimbra,
considerou que "a economia portuguesa teve depois do 25 de abril
grandes ciclos de crescimento" que tiveram efeitos no emprego, seguidos
de períodos de crise que corresponderam a aumentos do desemprego.
"Os picos de desemprego, em 1983, 2003 e agora, que
correspondem a curvas em forma de montanha, correspondem a crises
económicas", disse à agência Lusa.
O economista referiu como períodos de crescimento
significativo "o ciclo da democracia", que decorreu no pós 25 de abril
até 1983, o "ciclo do cavaquismo e da integração europeia", de 1984 a
1995, e "o ciclo do guterrismo", de 1996 a 2003.
"De 2003 para cá batemos no fundo e ainda não sabemos
quando vamos sair da crise persistente dos últimos anos", afirmou José
Reis.
Necessidade de mudanças estruturais
O professor de economia defendeu a necessidade de uma
"mudança de modelo estrutural, o que não pode ser feito de um dia para
outro", e de políticas económicas de crescimento, que assegurem o
crescimento do emprego.
"Hoje a política económica está excessivamente centrada
na restrição orçamental, temos uma política salarial recessiva que não
cria rendimentos para estimular o consumo e a economia", afirmou.
José Reis alertou para o facto de o aumento do
desemprego em termos absolutos ter também a ver com o aumento da
população ativa que se verificou em Portugal nos últimos 35 anos,
sobretudo devido a entrada das mulheres no mercado de trabalho no pós 25
de abril.
O economista Eugénio Rosa também considera que o
aumento da população ativa teve reflexos no crescimento do desemprego
desde 1975, embora aponte o fraco crescimento económico como principal
causa da situação.
Crescimento anémico
"O grande problema é o fraco crescimento económico,
pois só se consegue um crescimento sustentado com pelo menos dois por
cento, abaixo disso não há decréscimo no desemprego", disse à Lusa.
Para Eugénio Rosa o aumento quase constante do
desemprego nos últimos 35 anos é também reflexo da "quebra acentuada da
atividade agrícola, da desindustrialização do país e do desenvolvimento
tecnológico".
"E nos últimos 10 anos tivemos sempre um crescimento económico anémico", concluiu.
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