AS ÚLTIMAS DA DEFESA (II)
09/06/12
A Comunicação
Social relatou, com cópia de pormenores, o concurso público para uma qualquer
empresa vir a fornecer as refeições a serem servidas no dia – a - dia da
Assembleia da República.
Dadas as exigentes
especificações do caderno de encargos (em termos militares dir-se-ia
“requisitos operacionais”), dignas de um “Pied de Cochon” parisiense ou, para
não ir tão longe, do antigo “Tavares Rico”, existe a possibilidade do concurso
ficar deserto, dado ser difícil encontrar firmas à altura de tão exigente
gabarito. Mesmo aquelas que estão habituadas a servir os finíssimos escritórios
de advogados especializados em “Parcerias Público – Privadas”.
Disso se terá
apercebido o presciente Ministro da Defesa Nacional (MDN) que, na esteira dos
melhores estrategistas, delineou a seguinte operação, após o novel
“Observatório para a Defesa dos Infras”[1],
lhe ter feito chegar um trabalho elaborado por um destes, intitulado “O emprego
das armas de tiro tenso na conquista de pontos de cota mais elevada”.
Pedindo emprestado
à Armada o conceito de “duplo uso” – a caminhar rápido para se transformar em
“uno/zero uso” – resolveu fazê-lo migrar para o Exército, dando instruções para
que a decrépita “Manutenção Militar” (MM) – que já em tempos, não muito
recuados, abasteceu, sem grandes razões de queixa (a não ser pelo desvio, menos
lícito, de umas arrobas de batatas, em Angola, por parte de um capitão, mais
tarde popularucho autarca e dirigente desportivo), mais de 200.000 homens
(leram bem?), em quatro continentes – fosse à dobra do concurso salvando, desse
modo, os representantes do povo de terem de recorrer à sopa dos pobres.
E, estou em crer
que, desta vez, São Nuno de Santa Maria que a inventou (à sopa), sepultado ali
tão perto (embora em condições indignas de tão excelsa personagem e sem que
99,9% dos portugueses saibam onde), não iria mandar nenhum carmelita levá-la a
S. Bento…
Ser a MM a fazer
este serviço só acarreta vantagens: primeiro porque se lhe dava utilidade, pois
há anos e anos que ninguém sabe o que se lhe há - de fazer; depois porque iria
manter o “batalhão” de deputados e o “regimento” de assessores, devidamente
escorreitos e em boa forma física. E, claro, melhor preparados para os rigores
da luta política!
Além disso poderia
levar S. Exs. a pensarem duas vezes antes de enviarem tropas para lugares
inóspitos (mas de grande “interesse nacional”), como sejam o Kosovo, a Bósnia,
o Líbano ou o Afeganistão, pois permitia que tivessem um cheirinho a campanha.
Finalmente,
através dos antigos fornos de Vale do Zebro, que forneciam o biscoito para as
armadas de antanho, manter – se – ia um “stock” adequado daquele produto o que
permitiria à “Casa da Democracia” sustentar, por longos períodos, qualquer
cerco como aquele ocorrido em 1975 – uma verdadeira epopeia revolucionária!
O cardápio seria
simples: às 2ªs, 4ªs e 6ªs, ração de combate; às 3ªs e 5ªs, refeição quente,
alternando entre o “amarelo de carne” e o “rancho”, que dá “sustância”.
Nos dias de debate
com o Governo a refeição seria reforçada com uma entrada de “punheta de
bacalhau”, que é especialmente recomendada para uma reflexão sobre a existência
do “eu” e a fecundação dos povos.
Ora sabendo-se que
as rações de combate passaram a vir de uma qualquer região autonómica
espanhola, mais pertinente se torna servi-las no seio de onde partiu o brado
iberista “Espanha, Espanha, Espanha”! Digam lá se isto não é visão?
Como, porém,
estamos (finalmente!) na Europa da União – onde, por acaso, nunca deixou de
funcionar a hierarquia das potências – a MM seria ordenada de dar uma nota de
requinte servindo especialidades comunitárias, em dias diferentes, tais como
azeitonas da Dinamarca; arenque em salmoura, de Creta; fish and chips, da Côte
D’Azur; salchichas da Sicília; bochechas de burro da Andaluzia; esparguete à
moda das Terras Altas Escocesas, e assim por diante.
Para beber, água,
por favor, água e sem álcool, por razões óbvias. Fica apenas a opção por uma
das águas minerais das 33 termas existentes na lusa terra, após a criminosa
intenção de privatizar a água, ter feito vencimento. Aí já deve compensar.
Para os dias de
festa, enfim, permitir-se-ia um vinhito daqueles que a MM nos habituou e que
faz ter saudades do “Camilo Alves”. Recomendo o “Encostas do Trancão”, cujo ar
puro e águas cristalinas daquele rio, tornou famoso em toda a África Sub - Sahariana.
Para evitar
qualquer “levantamento de rancho”, que a conhecida relapsia dos senhores
deputados à disciplina partidária poderia, eventualmente, provocar, S. Exª o
MDN também aponta uma solução.
De
facto, um dos muitos motoristas ao serviço dos gabinetes dos senhores ministros
- que podem auferir muito mais do que qualquer oficial superior das tropas de
terra, mar e ar – transportaria, diariamente, uma amostra da comida a fim de
ser provada pelo “pelotão” de betinhos que gravitam no gabinete do MDN (para o
que se publicaria uma escala semanal).
Tal garantiria,
seguramente, qualquer “derrapagem” na confecção e qualidade dos géneros.
E será assim,
caros concidadãos, que as nossas FAs, num supremo esforço antes da sua exaustão
e extinção, irão, mais uma vez, resgatar a República!
Ora digam lá, se
tudo isto não é uma boa ideia, inteligente e patriótica?
Viva o MDN! Força
Portugal![2]
João J. Brandão Ferreira
TCorPilAv. (Ref.)
1 comentário:
Sensacional !
Estou a aqui a RIR há mais de 1/2 hora e ainda não parei de RIR.
Parabéns ao autor e ao blog !!!
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