segunda-feira, 11 de junho de 2012

COM DEVIDA VÉNIA


AS ÚLTIMAS DA DEFESA (II)           
                                                                                                                                    09/06/12
    A Comunicação Social relatou, com cópia de pormenores, o concurso público para uma qualquer empresa vir a fornecer as refeições a serem servidas no dia – a - dia da Assembleia da República.
    Dadas as exigentes especificações do caderno de encargos (em termos militares dir-se-ia “requisitos operacionais”), dignas de um “Pied de Cochon” parisiense ou, para não ir tão longe, do antigo “Tavares Rico”, existe a possibilidade do concurso ficar deserto, dado ser difícil encontrar firmas à altura de tão exigente gabarito. Mesmo aquelas que estão habituadas a servir os finíssimos escritórios de advogados especializados em “Parcerias Público – Privadas”.
    Disso se terá apercebido o presciente Ministro da Defesa Nacional (MDN) que, na esteira dos melhores estrategistas, delineou a seguinte operação, após o novel “Observatório para a Defesa dos Infras”[1], lhe ter feito chegar um trabalho elaborado por um destes, intitulado “O emprego das armas de tiro tenso na conquista de pontos de cota mais elevada”.
    Pedindo emprestado à Armada o conceito de “duplo uso” – a caminhar rápido para se transformar em “uno/zero uso” – resolveu fazê-lo migrar para o Exército, dando instruções para que a decrépita “Manutenção Militar” (MM) – que já em tempos, não muito recuados, abasteceu, sem grandes razões de queixa (a não ser pelo desvio, menos lícito, de umas arrobas de batatas, em Angola, por parte de um capitão, mais tarde popularucho autarca e dirigente desportivo), mais de 200.000 homens (leram bem?), em quatro continentes – fosse à dobra do concurso salvando, desse modo, os representantes do povo de terem de recorrer à sopa dos pobres.
    E, estou em crer que, desta vez, São Nuno de Santa Maria que a inventou (à sopa), sepultado ali tão perto (embora em condições indignas de tão excelsa personagem e sem que 99,9% dos portugueses saibam onde), não iria mandar nenhum carmelita levá-la a S. Bento…
    Ser a MM a fazer este serviço só acarreta vantagens: primeiro porque se lhe dava utilidade, pois há anos e anos que ninguém sabe o que se lhe há - de fazer; depois porque iria manter o “batalhão” de deputados e o “regimento” de assessores, devidamente escorreitos e em boa forma física. E, claro, melhor preparados para os rigores da luta política!
    Além disso poderia levar S. Exs. a pensarem duas vezes antes de enviarem tropas para lugares inóspitos (mas de grande “interesse nacional”), como sejam o Kosovo, a Bósnia, o Líbano ou o Afeganistão, pois permitia que tivessem um cheirinho a campanha.
    Finalmente, através dos antigos fornos de Vale do Zebro, que forneciam o biscoito para as armadas de antanho, manter – se – ia um “stock” adequado daquele produto o que permitiria à “Casa da Democracia” sustentar, por longos períodos, qualquer cerco como aquele ocorrido em 1975 – uma verdadeira epopeia revolucionária!
    O cardápio seria simples: às 2ªs, 4ªs e 6ªs, ração de combate; às 3ªs e 5ªs, refeição quente, alternando entre o “amarelo de carne” e o “rancho”, que dá “sustância”.
    Nos dias de debate com o Governo a refeição seria reforçada com uma entrada de “punheta de bacalhau”, que é especialmente recomendada para uma reflexão sobre a existência do “eu” e a fecundação dos povos.
    Ora sabendo-se que as rações de combate passaram a vir de uma qualquer região autonómica espanhola, mais pertinente se torna servi-las no seio de onde partiu o brado iberista “Espanha, Espanha, Espanha”! Digam lá se isto não é visão?
    Como, porém, estamos (finalmente!) na Europa da União – onde, por acaso, nunca deixou de funcionar a hierarquia das potências – a MM seria ordenada de dar uma nota de requinte servindo especialidades comunitárias, em dias diferentes, tais como azeitonas da Dinamarca; arenque em salmoura, de Creta; fish and chips, da Côte D’Azur; salchichas da Sicília; bochechas de burro da Andaluzia; esparguete à moda das Terras Altas Escocesas, e assim por diante.
    Para beber, água, por favor, água e sem álcool, por razões óbvias. Fica apenas a opção por uma das águas minerais das 33 termas existentes na lusa terra, após a criminosa intenção de privatizar a água, ter feito vencimento. Aí já deve compensar.
    Para os dias de festa, enfim, permitir-se-ia um vinhito daqueles que a MM nos habituou e que faz ter saudades do “Camilo Alves”. Recomendo o “Encostas do Trancão”, cujo ar puro e águas cristalinas daquele rio, tornou famoso em toda a África Sub - Sahariana.
    Para evitar qualquer “levantamento de rancho”, que a conhecida relapsia dos senhores deputados à disciplina partidária poderia, eventualmente, provocar, S. Exª o MDN também aponta uma solução.
     De facto, um dos muitos motoristas ao serviço dos gabinetes dos senhores ministros - que podem auferir muito mais do que qualquer oficial superior das tropas de terra, mar e ar – transportaria, diariamente, uma amostra da comida a fim de ser provada pelo “pelotão” de betinhos que gravitam no gabinete do MDN (para o que se publicaria uma escala semanal).
    Tal garantiria, seguramente, qualquer “derrapagem” na confecção e qualidade dos géneros.
    E será assim, caros concidadãos, que as nossas FAs, num supremo esforço antes da sua exaustão e extinção, irão, mais uma vez, resgatar a República!
    Ora digam lá, se tudo isto não é uma boa ideia, inteligente e patriótica?
    Viva o MDN! Força Portugal![2]

                                           João J. Brandão Ferreira
                                                  TCorPilAv. (Ref.)




[1] Infra, nome pelo qual são conhecidos os caloiros da Academia Militar e cuja definição me dispenso de explicitar em honra aos bons costumes.
[2] Se necessário a MM também irá servir as refeições à selecção nacional de futebol, na Polónia!

1 comentário:

José Sousa e Silva disse...

Sensacional !
Estou a aqui a RIR há mais de 1/2 hora e ainda não parei de RIR.
Parabéns ao autor e ao blog !!!