Exmos.
Senhores Oficiais
Caros
camaradas
Durante
a próxima semana, haverá, em princípio, uma reunião na qual Suas Exas. os Chefes
dos Estados-Maiores (CEM’s) colocarão a Sua Exa. o MDN a questão do Fundo de
Pensões dos Militares.
Diz-nos
a experiência, até a recente, que a actividade das Associações Profissionais de
Militares (APM), dando conta do descontentamento e indignação que certas medidas
provocaram, facilitaram alguma mudança nas intenções do Governo.
Insatisfatória?
Certamente!
No
entanto, apesar de tudo, uma mudança, como é o caso das (por enquanto
prometidas) promoções.
Das
cartas que propusemos fossem enviadas pelos oficiais na reserva e reforma ao
Exmo. Sr. TGEN Chefe da Casa
Militar , tendo em vista a sua apreciação por Sua Exa. o PR,
chegaram ao destino perto de uma centena e
meia.
A
força com que enfrentaremos o futuro nas questões nelas colocadas, bem como a
posição de Suas Exas. os CEM’s na reunião da próxima semana, será
consideravelmente acrescentada quanto maior for o número de cartas que chegarem
à Presidência da República.
Como
se disse no mail que enviou a carta - tipo, esta podia ser alterada total ou
parcialmente.
Há
quem não concorde com o conteúdo? Ou quem entenda que só devia ser tratado um
qualquer assunto e não todos de uma
assentada?
Peço
aos que ainda não se decidiram, no interesse de todos nós, que cada um produza o
texto que melhor possa corresponder ao que pensa e remeta essa “sua” carta ao
Exmo. Sr. Chefe da Casa Militar .
Podem crer que Sua Exa. o MDN conhecerá a quantidade chegada com
exactidão.
Sabemos,
também, que há quem tenha colocado a questão do Fundo de Pensões dos Militares
ao Chefe do Estado-Maior do Ramo a que pertence e que há quem esteja a ponderar
outro tipo de iniciativas.
A
AOFA entende que todas as acções são dignas do nosso respeito e vão certamente
convergir para o objectivo que todos os oficiais perseguem: assegurar a
dignidade de tratamento que deve corresponder ao Juramento de Honra que fizemos
perante a Bandeira Nacional.
Cordialmente
O
Presidente da AOFA
Manuel
Martins Pereira Cracel
Exmo.
Senhor Tenente-General Carvalho dos Reis
Digníssimo Chefe da Casa Militar de
Sua Excelência o Presidente da
República
Sou
militar, na situação de reforma/reserva, oficial
das Forças Armadas Portuguesas que servi com orgulho, honrando o juramento que
prestei, ao serviço da Pátria que fui incumbido de defender.
Como
militar que sou e educado que fui na adesão a Valores como a honra, a lealdade,
a ética, a servir os interesses que jurei e não outros, acreditará que,
porventura, mais que outros cidadãos, estou disponível para sacrificar-me pelo
bem comum desde que esteja em causa a sua prossecução, como o atesta a concreta
sujeição que a minha condição me impõe, nomeadamente quando me predispus a
aceitar disponibilidade permanente para defender a Pátria se necessário com o
sacrifício da própria vida!
Não
está pois, nem poderia estar em causa, pretender eximir-me a sacrifícios que
vão sendo impostos à generalidade dos cidadãos.
No
entanto, verifico que, aos militares, aos funcionários públicos, aos elementos
das forças e serviços de segurança, reformados e pensionistas, foram impostas
as medidas de austeridade mais gravosas.
Como servidor do Estado, à
semelhança de todos os meus concidadãos que o são também, e como cidadão
fardado, sujeito à condição militar que me impôs particulares deveres e me
restringiu direitos de cidadania, sinto-me injustiçado e discriminado pela forma como tenho
vindo a ser penalizado a pretexto do saneamento da dívida e do défice públicos.
Recuando
apenas ao ano de 2005, as condições com que os militares se vêm confrontando,
têm vindo a ser continua e violentamente deterioradas, ao arrepio, inclusive,
do que é acautelado pela Lei das Bases gerais do estatuto da condição militar a
qual, para compensar os militares dos especiais deveres e restrições a que
estão sujeitos, consagra “especiais
direitos, compensações e regalias, designadamente nos campos da segurança
social, assistência, remunerações, cobertura de riscos, carreiras e formação”. Subsidiariamente
o mesmo estatuto “garante aos militares e
suas famílias, de acordo com as condições legalmente estabelecidas, um
sistema de assistência e proteção, abrangendo, designadamente, pensões de
reforma, de sobrevivência e de pensões de preço de sangue e subsídios de
invalidez e outras formas de segurança, incluindo assistência sanitária e apoio
social”.
Nada
disso tem sido levado na devida conta. Bem pelo contrário! Têm vindo a ser
implementadas sucessivas medidas, tratando por igual quem manifestamente deve
ser tratado de forma diferente porque, diferentes, são também as condições em
que servem ou serviram, em circunstâncias sem paralelo na sociedade.
E,
a culminar a desconsideração a que eu e todos os
militares temos sido sujeitos, tiveram por bem os responsáveis pela governação,
proceder ao corte dos subsídios de férias e de natal em 2012 e anos seguintes,
sem previsibilidade do seu restabelecimento, a juntar às reduções
remuneratórias operadas a partir de 2011 para os que se encontram nas situações
de ativo e de reserva.
Medidas
eivadas de evidente falta de justiça e equidade, com contornos que considero
aproximarem-se da imoralidade.
Porque
me questiono quanto à razão ou razões que determinam que a um universo de
cidadãos (aos que servem a coisa pública), seja conferido um tratamento
diferenciado, desigual e particularmente penalizador relativamente aos
restantes cidadãos!
Onde
está a equidade quando, aos que exercem atividades na esfera do Estado,
relacionadas, por conseguinte, com serviços prestados à comunidade, perante uma
divida pública e um défice considerados excessivos, são imputadas particulares
responsabilidades para as quais, tal como a maioria dos restantes cidadãos, em
nada concorreram?
Trata-se
de uma situação objetivamente desprovida de qualquer sentido e arredada de
equivalente noção de senso de justiça já que, admitindo-se a necessidade de
solucionar o problema relacionado com o equilíbrio das contas públicas, não é
admissível que seja imputada a uma parcela da comunidade (aos que prestam
serviço no Estado) de que todos fazemos parte, a singular responsabilidade de
suportar os custos decorrentes de gastos excessivos da
responsabilidade de sucessivos governos. Cujos governantes, um dia, essa mesma
comunidade, por inteiro, encarregou de zelar, ao que se supunha, pelo
bem público, ao serviço de todos e não exclusivamente ao serviço dos que agora
são particularmente responsabilizados, como a discriminação das medidas
adotadas parece fazer crer.
E,
permitindo-se-me o pleonasmo, injustiça exacerbada quando, tais medidas, são do
mesmo modo extensivas aos cidadãos fardados, cuja condição militar lhes impõe
deveres, ao mesmo tempo que os arreda de muitos dos direitos, liberdades e
garantias consignados na Constituição, consagrados para
a generalidade dos cidadãos.
Injustiça
e discriminação tanto maior quando se assiste à cadenciada dispensa do corte
dos subsídios em questão a alguns grupos de profissionais, no contexto do
universo dos que estão subordinados à tutela do Estado, transmitindo-se a ideia
de que “se uns são filhos outros serão enteados”.
Injustiça
que sinto ainda mais profundamente quando sou confrontado com dúvidas, por
parte da tutela, sobre a sustentabilidade do Fundo de Pensões dos Militares
(FPM) e, para já, com a suspensão do pagamento do respetivo complemento de
reforma, por os sucessivos Governos não o terem atempadamente capitalizado como
legalmente estabelecido. FPM para o qual, aliás, escrupulosamente contribuí (NOTA - NA QUESTÃO DA CONTRIBUIÇÃO, SÓ SE FOR CASO DISSO),
na esperança de assegurar a dignidade de uma velhice mais tranquila, como
merecido por quem deu o seu melhor na defesa dos Superiores Interesses da
Pátria.
Face
ao que precede, em que relato as razões que me levam a considerar iníquo o
corte dos subsídios de férias e natal e a redução das remunerações (NOTA – REDUÇÃO SÓ PARA A RESERVA) e inaceitável a
suspensão do pagamento do complemento da pensão de reforma, com a consequente dificuldade em honrar os meus
compromissos, solicito a V. Ex.ª, Sr. General,
que leve ao conhecimento de Sua Excelência o Presidente da República as razões
que me assistem, acima aduzidas, na esperança de que o seu sentido de justiça e
equidade já publicamente manifestado relativamente a opções de idêntico teor,
penalizadoras para os cidadãos, possa fazer com que utilize o seu magistério de
influência no sentido de que seja dada diferente orientação a medidas que,
sacrificando os cidadãos, transportam consigo uma forte carga de injustiça,
atenta a forma discriminatória como são aplicadas.
Com os melhores cumprimentos
+-
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