sexta-feira, 9 de novembro de 2012

COM A DEVIDA VENIA


O Embaixador de Israel em Lisboa foi à Fundação Gulbenkian ofender Portugal e os portugueses, gratuitamente.
Estamos seguros que a generalidade da comunidade judaica não se revê nas suas declarações.
Tal aconteceu, no passado dia 30 de Outubro, no âmbito da Conferência “Portugal e o Holocausto, aprender com o passado, ensinar para o futuro”, patrocinada pela embaixada dos EUA e pelas Fundação Luso-Americana e Gulbenkian.
Que disse então, S. Exª, que noutras épocas o teria colocado a uma ténue distância de ser considerada “persona non grata”?

Pois que:
Portugal foi o único país que colocou a bandeira a meia haste durante três dias, quando soube da morte de Adolf Hitler”, coisa que o Sr. Ehud Gol considera uma “nódoa”; criticou o facto da casa de Aristides Sousa Mendes – que considera um “justo” – em Cabanas de Viriato, não estar recuperada, dizendo para o portugueses não irem pedir “aos EUA ou a Israel para tratarem da casa”, “façam vocês algo para promoverem a imagem dos vossos justos” (e tece mais considerações sobre o antigo cônsul português em Bordéus; não entende o facto de Portugal ter apenas um observador na “Task Force internacional para a Educação, Memória e Investigação do Holocausto”,[1] afirmando que já deveríamos ser membro de parte inteira; quer que professores portugueses aprendam a ensinar o Holocausto, dando conta que pressionou o Ministro da Educação nesse sentido.
E confessou, no fim, que o culto da memória do Holocausto começou em Israel, porque os sobreviventes do mesmo, vestiam sempre de mangas compridas por “terem vergonha do número inscrito na pele”, e que eles – judeus da altura – “não tinham lutado o suficiente.[2]
Afirmo não ter em mim qualquer réstia de “anti-semitismo”, mas em atenção à verdade e tendo em mente a dignidade do Estado Português – que espero venha a ter uma reacção adequada – e dos portugueses, não posso deixar de dizer o que abaixo se transcreve.
Comecemos pelo fim das palavras do embaixador: pois lamento que tal se tenha passado da maneira que descreve mas, nós portugueses, não temos responsabilidade alguma em nada do que o senhor aponta.
E gostava de lembrar ao Sr. Embaixador que os judeus não foram os únicos povos perseguidos, ou maltratados no mundo. Creio, até, que não haja algum, que não tenha uma razão de queixa qualquer.
Já reparou, e por ex., nas vítimas de Tamerlão? Lembra-se das centenas de milhões de trucidados pelo comunismo? E quem defende os “Peles-Vermelhas”, praticamente extintos no século XIX, sendo os sobreviventes colocados em reservas?
Que dizer, enfim, das perseguições feitas no Império Romano aos cristãos, durante os primeiros três séculos do Cristianismo; será que devemos exigir aos actuais inquilinos do Quirinal, que peçam desculpa por isso?
Como vê pode considerar-se privilegiado por haver uma “organização intergovernamental” que trata do Holocausto!
Eu se estivesse no papel do Sr. Embaixador, estaria mais preocupado em perceber porque é que, dos 200 países existentes no mundo, só 31 façam parte de tão filantrópica organização, em vez de tentar morder a mão a quem, pela sua presença, dá lustre à iniciativa.
A arrogância com que se exprime assemelha-se a uma tentativa de apanhar moscas com… vinagre. Muito pouco diplomático, nada profissional.
Não consta, por outro lado, que tenham sido os alemães, os únicos a perseguirem os judeus (ou Sionistas?), ao longo da História. E resta ainda perceber porque tal aconteceu num país de gente evoluída, Pátria da Reforma e de grandes Filósofos e impulsionadora do racionalismo e da ciência.
Nada justifica a matança indiscriminada de pessoas, sejam eles quem forem, e seja por que for, mas convém ter uma visão global das coisas para se ajuizar os eventos na sua plenitude.
Lamentavelmente, os judeus foram perseguidos e expulsos de quase todos os lugares da Europa, alguma vez, nos últimos 1000 anos, E tal está longe de ter sido apenas por acção da Inquisição. Seguramente que houve muitas injustiças, mas estará o povo judaico isento de culpas?
Durante séculos houve o primado da questão religiosa, hoje confinada à teologia entre os cristãos – mas não entre os muçulmanos – mas tal tem que ser visto (como tudo o resto) à luz dos conceitos das diferentes épocas.
Também podemos concordar que os principais problemas dos Judeus derivam do facto da sua terra original ter começado a ser ocupada há 2500 anos, obrigando à sua diáspora. Mas nisso, também concordará, que ninguém hoje no mundo tem qualquer responsabilidade.
Os sucessivos ocupantes da “Terra Santa”, outrossim, passaram a ter direitos na sua ocupação, sem embargo de todos devermos reconhecer ao “Povo do Livro” serem o caso único na Humanidade, de se ter conseguido manter como Nação, durante dois milénios, sem governo nem território.
E deles temos a admirar a sua inteligência e empreendedorismo – não é por acaso que são judeus a maioria dos detentores do Prémio Nobel.
Todavia, meta a mão na consciência: não se isolaram? Não especularam? Não açambarcaram? Não se tornaram mestres na “arte” da usura?
Já reparou, o Sr. Gol, agora que vive em Lisboa que, na linguagem popular portuguesa, quando quer designar algo de mal se usa, por vezes, o termo “judiarias”? E que dizer do uso, por vezes racista, que representa o tratamento de “Goyim” para todos os que não pertencem à “tribo”? (Convém lembrar que só o filho de uma judia, independentemente do pai, é considerado judeu).
Será que é por se considerarem o “povo eleito” apesar de Javé os ter, aparentemente, condenado às mais duras penas – observe-se o termo “judeu-errante”, também da linguagem popular? Possuem ou perseguem algum desígnio de vingança permanente? Terá isso a ver com um hipotético domínio do mundo pela via financeira?
Insiste o Sr. Embaixador em que os professores portugueses ensinem o que foi o Holocausto – presume-se que por uma formula pré-estabelecida. Mas que despautério vem a ser este?
Será que teve, ao menos, a amabilidade de oferecer alguma contrapartida? Entenderá que o MNE inaugure um “guichet” onde os embaixadores, por cá acreditados, possam ir fazer as sugestões (ou será imposições?) que entendam que a escola lusa passe a ensinar sobre os respectivos países?
Será que o embaixador português em Jerusalém pode ir ao “Knesset” propôr que faça parte dos compêndios escolares, como o rei D. João II aceitou receber os Judeus expulsos de Espanha, em 1492?
Podemos exigir uma quota de exportação para alheiras, a fim de exemplificar como os seus hipotéticos antepassados que aqui viveram, tentavam passar por cristãos?
E que tal umas lições de História sobre o ramo Sefardita de modo a que os Ashkenazy se pudessem dar melhor com eles?
Ora, por favor!...
Cita o Sousa Mendes que a propaganda de alguns dos seus, de mãos dadas com os inimigos políticos do Professor Salazar, tentaram transformar num mito, que não tem nada a ver com a realidade. E chama-lhe “justo”, quando “justíssimo” foi o processo disciplinar que lhe foi instaurado (fora aqueles que já acumulara desde 1917) e, para a gravidade dos quesitos a que respondeu resultou, até, bastante benévolo!
Informe-se da verdadeira história e de tudo o que lhe está associado e depois falamos.
E, que se saiba, ninguém em Portugal, lhe pediu ajuda para reparar a casa do antigo cônsul que, se morreu na miséria, foi porque nunca soube administrar os seus bens, face à vida que levava.
Diz que em Israel só existem dois portugueses como “justos” entre os 25.000 nomes que lá figuram. Pois talvez devessem ponderar colocarem mais uns quantos, já que durante a II Guerra Mundial passaram por Portugal cerca de 70.000 refugiados judeus, que foram bem tratados e hospedados, facilitando-se o trânsito para os destinos que entendessem, ou a ficarem por cá, como muitos fizeram.
Resta a questão da bandeira a meia haste, aquando da morte de Hitler – a que um professor presente na sala lhe respondeu de forma infeliz, alegando viver-se, na altura, em ditadura, o que é irrelevante para o caso.
O que não é irrelevante é o facto do governo português – que era neutro, apesar da tardia “neutralidade colaborante”, com ingleses e americanos – ter cumprido, apenas, as normas protocolares em vigor quando morria um chefe de estado. Do mesmo modo que outros países neutrais também o fizeram, ao contrário do que afirmou. E nunca se apresentaram condolências.
Condolências que foram apresentadas, pessoalmente, pelo Presidente do Conselho à frente de todo o governo, na embaixada dos EUA, duas semanas antes, aquando do falecimento do Presidente Roosevelt.
Já agora recorda-se, não ter sido apenas Hitler a perseguir os judeus, mas todos os países ocupados ou aliados da Alemanha, em maior ou menor grau. Como, por ex., a França de Vichy.
Por tudo isto a “nódoa” de que nos acusa só existe na sua mente.
Se precisar de benzina, também se arranja.

Shalom.

Brandão Ferreira

Ten.Cor PILAV(R)

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