terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A LER

Resposta de Camaradas de curso ao artigo publicado no DN e transcrito aqui 


To: < Jorge Silva Paulo

Silva Paulo,

Camarada,


Há dois tipos de militares: os que sempre se sacrificaram na sua
profissão aos interesses do país e da instituição, de forma humilde; e
os outros, inconsequentes, ou ao serviço do próprio umbigo e da sua
agenda própria. Quando escreves um artigo como o que acabaste de
publicar no DN assumes necessariamente, pelos recados que dás, uma
posição de superioridade que não é compatível com o que fizeste ao
serviço da Marinha. Isto para ser directo e sem rodeios. Quanto à
essência do artigo temos a dizer-te o seguinte:

Relativamente à Defesa da Constituição e do compromisso que assumimos
de defender por via dela o regime democrático, não aceitamos qualquer
recado teu, QUEM TE JULGAS TU? Temos a certeza que não te
encontraremos na barreira daqueles que não se importam de dar a vida,
um dia, para defender a nossa democracia, a nossa pátria, se assim for
necessário, sem retóricas, sem medos e sem desculpas. Mas daí a
criticar, e a passar de forma pública um ralhete ao genuíno
descontentamento daqueles que servem actualmente nas Forças Armadas
vai um grande passo que, como afirmas, tem que ser dado por alguém com
um estatuto ético-moral acima de qualquer nota. E neste caso, a nota
nunca é a opinião do próprio sobre si mesmo.

Quanto ao Duplo uso, acho que estás muito confuso e parece-me que,
como nunca andaste no mar (nós pelo menos não nos lembramos de te ver
lá; talvez só de vez em quando na vedeta), tens dificuldade em
perceber.

A Marinha é de Guerra, é essa a natureza, é essa a forma como estão
definidas as Forças Armadas na Constituição, é esse o entendimento
comum do cidadão. Consequentemente a sua missão primordial é estar
apta a defender o país em termos latos mas também e se necessário em
termos restritos. Claro está que numa visão economicista (eu diria
mais, estreitamente contabilística das Forças Armadas), elas são uma
despesa que não gera por natureza benefício económico. Assim, em razão
desta motivação contabilística, ficam as Forças Armadas reféns das
mais variadas investidas, muitas vezes da própria classe política
dirigente, por vezes mal informada por tipos como tu, com uma visão
estratégica limitada e uma incompreensão crónica pela instituição
militar (no que os militares também têm a sua quota de
responsabilidade).

No actual estado do País, um punhado de espertos, grupo a que
pertences (pois existem em todos os tempos e em todas as épocas de
dificuldades, surfando na crista da confusão para se arvorarem em
arautos da transformação, sem serem responsabilizados pelos seus actos
e afirmações), vêm advogar um sentido de utilidade imediata para as
Forças Armadas, não relevando a essência destas. Essa essência está no
potencial de combate, e na sua importância na dissuasão e na afirmação
dos interesses nacionais em tempo de paz e no contexto das alianças
militares. Em último caso, são estas que nos protegem e garantem a
nossa sobrevivência enquanto nação, como o instrumento crucial de
defesa colectiva. Não pensamos como tu, que há que demostrar ao
público a sua utilidade imediata destruindo se necessário a sua coesão
organizativa, material e pessoal, ora transformando o Exército em
bombeiros e guardas florestais, a Marinha em guarda costeira e em
nadadores salvadores e a Força Aérea num destacamento aéreo de combate
aos incêndios e transporte de VIPs. Somos visceralmente contra esta
visão redutora e essa sim claramente anticonstitucional. Já que
falamos do primado da lei, se a classe dirigente quer fechar as Forças
Armadas, que o faça com a maioria de 2/3 que a Constituição exige e de
forma transparente ao cidadão nacional, e não por via da
suborçamentação crónica, de reestruturações sucessivas que nos
entretêm e não nos permitem fixar um rumo e cumprir com a função para
a qual existimos.

Ninguém neste Mundo poderá afirmar com elevada certeza ou
probabilidade o que o futuro nos reserva. Basta olhar para a situação
económica e financeira internacional para vermos que o que ontem nos
parecia uma certeza absoluta e insofismável passou a ser fluído e
quiçá quimérico. As únicas certezas são a imprevisibilidade e a
incerteza. As Forças Armadas são por isso o seguro de vida da nação,
enquanto Estado independente. Concretizam de forma clara enquanto
emanação de um vontade férrea do Portugueses no contexto
Internacional, o próprio exercício da soberania sobre o que com muito
custo, sacrifícios que tu e gente como tu nunca entenderão de vidas
humanas, se construiu nos últimos nove século e que se chama Portugal.

Quando se pedem novos sacrifícios às Forças Armadas, é preciso lembrar
que a elas sempre foram pedidos de forma constante ao longo dos
últimos 25 anos, e elas sempre corresponderam, mesmo em período de
vacas gordas. Essa retórica é por isso claramente demagógica, porque o
exemplo tem que começar por cima, por quem dirige e está investido
desse poder por sufrágio democrático. E o que se vê é uma sociedade
corporativa, minada, e onde medram todo o tipo de interesses. É esta
política de duplo critério que mais revolta os militares, pois
sentimo-nos sempre tratados como cidadãos de segunda prioridade, com
uma profissão que na retórica demagógica é importante, atente-se aos
discursos oficiais, mas que é desprezada na realidade pelo poder
político instituído e pela corporação dos interesses instalados e
companhia Lda que como lobos esfaimados atacam o Estado. São esses
interesses a principal causa do aumento descontrolado das despesas, só
assim se compreende as ruinosas PPP – Parceria Público Privadas, as
finanças regionais e locais fora de qualquer controlo (pois como
sustentam as bases partidárias não dá jeito mexer nelas), um sistema
de justiça mastodôntico que retira ao cidadão o direito à justiça e a
própria crença neste, que prejudica a economia, etc. Foi assim que nas
décadas de 1990 a 2010 este país desperdiçou uma oportunidade única de
se renovar e actualizar, tornando-se competitivo e produtivo, o que
nos conduziu ao estado actual.
Por isso quando vens engordar a retórica popular anti militar queremos
lembrar-te do seguinte:

·          Que prestas um mau serviço à Nação pelo combustível que
atiras sobre uma fogueira de interesses ínvios que tem por alvo as
Forças Armadas;

·          Que estás na tua reserva (a ganhar o ordenado em casa sem
prestar serviço) confortável, aos 48 anos de idade, e a gozar das
“regalias” que criticas e sem nunca te teres sacrificado (que eu
saiba) a sério pelo teu país;

·          Que pelos vistos nunca te perguntaste se o que ganhas é
justo. A nós que aqui continuamos no activo, a remuneração de que
auferimos não nos pesa na consciência; se calhar não é o teu caso;

·          Que na reserva ganhas mais que nós no activo, que devemos
ser burros, pois isso é coisa que te faz confusão no teu cínico e
invertebrado ser, que alguém prefira continuar ao serviço do que ir
para casa aos 48 anos usufruir dos tais direitos que agora vens
atacar, sempre com a pena afiada do economista douto autoproclamado;

·          Que o que me parece que te motiva é um protagonismo espúrio
e inconsequente que diz muito de ti, mas que não surpreende quem te
conheça.

Por fim queremos partilhar contigo a nossa visão da Marinha de duplo
uso: é uma Marinha de Guerra que em tempo de paz também executa as
funções de Guarda Costeira com as sinergias e poupanças que daí se
podem retirar, mas nunca a inversão desta ordem pelas razões acima
referidas. Apreciaríamos ver essas tuas afirmações sobre a Marinha e o
Duplo Uso fundamentada de forma séria, e não no tom de atoarda
gratuita que sempre foi teu apanágio.

Para acabar, ocorre-nos transcrever-te um pequeno trecho da “Antígona”
de Sófocles, que a nosso ver te assenta como uma luva: “Porque quem
julga que é o único que pensa bem, ou que tem uma língua ou um
espírito como mais ninguém, esse, quando posto a nu, vê-se que é oco”.

Cumprimentos,

Zé Botelho

5 comentários:

Anónimo disse...

Mas que grande enxovalho....

Não desconfiava que houvesse disto na Marinha de Guerra...

ze luis

Anónimo disse...

Disto... carreiristas e oportunistas é o que há mais no tal Ministério!
Um abraço ao autor deste texto.
js

J.N.Barbosa disse...

Impressionante. Eu bem desconfiava.

Anónimo disse...

Bolas....

O outro senhor deve desaparecer por uns tempos, não????

Mas onde eu já ouvi este nome????

antonio a. f, nunes

Anónimo disse...

"PORQUÉ EL TAL PAULO NO SE CALLA?!..."

Cá por mim, só o que estranho é que ele insista na desfaçatez de assinar o que escreve como «Capitão-de-mar-e-guerra na reserva»...

Ou desiste de vez de tal título e/ou posto ou, se de algum modo quer continuar a servir a Marinha que o faça exclusivamente na "qualidade" de "capitão" como, pelo visto, é considerado pelos seus camaradas de curso!

QUE VERGONHA !!!

Obs.: Quem serve na Marinha sabe muito bem o que "capitão" quer dizer.