sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

MILITORUM


D. Januário Torgal, bispo das Forças Armadas, diz que os militares têm sido “molestados” pelos sucessivos governos e defende que as associações das Forças Armadas (FA) “devem ter um papel importante” no diálogo entre o governo e os militares. “Por isso, não se pode estranhar que se tornem porta-vozes dos problemas e das dificuldades”, disse ontem ao i, reagindo à carta enviada pela Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) ao ministro da Defesa.
O bispo defende que é “legítimo que os militares façam análises políticas, desde que não entrem em partidarismos” e acrescenta que “as pessoas e os governos” não devem ter medo da crítica. Januário Torgal garante que os militares têm tido “paciência demais” porque “os governos passam e eles ficam, sem que o espírito reformista tenha mudado aquilo que está mal e sem que as suas reivindicações sejam atendidas”.
Na carta, subscrita pela associação de oficiais, os militares avisam Aguiar-Branco de que a “desmotivação, a insegurança e a falta de confiança reina entre os militares” dos três ramos das FA. Os oficiais classificam as penalizações nas remunerações de “punição colectiva” e queixam-se que Aguiar-Branco não “ausculta” as associações como manda a lei. Além disso, reivindicam o direito de “denunciar, perante a opinião pública, as medidas lesivas do governo”, garantindo que isso “não é fazer política”. Os militares vão mais longe e dizem que nada os obriga a serem “submissos, acomodados, ignorantes e apolíticos, alheados do que vai acontecendo no país”.
O presidente da ANOFA, que assina a missiva, chega mesmo a dizer que Aguiar-Branco “anda mal informado”, porque “se não saberia das conversas que correm em messes e nos corredores sobre situações que ocorrem e provocam a indignação da maioria dos oficiais, como o modo como tem vindo a ser tratado o dossier BPN ou o dossier das PPP, com verbas astronómicas envolvidas”.
Os militares sublinham que “a rápida eliminação destas situações permitirá criar condições para evitar onerar as FA” e rematam: “Procuramos fazer parte do grupo daqueles para quem o silêncio, a passividade e o conformismo não são modos de estar na vida”. Mesmo assim, o presidente da AOFA esclareceu ontem que não quer a demissão do ministro. Manuel Cracel diz que o que está em causa, para os militares, são as políticas “e não a pessoa”.
Aguiar-Branco reagiu à carta aberta nas comemorações dos 50 anos do navio-escola Sagres e avisou que não se pode confundir os militares com as associações que os representam: “A leitura dessa carta mostra que há quem queira instrumentalizar uma associação digna de ser respeitada e que tem o seu papel nas reformas que são precisas de fazer nas Forças Armadas”, acusou o ministro, acrescentando que não existe “qualquer polémica” nas FA. “Quem fala em nome das FA são as chefias, com quem estamos a trabalhar para resolver os problemas que existem”, rematou.

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