"estão a preparar um Protocolo Adicional ao estabelecido…que… será comunicado pelos respectivos
Ministérios, no momento oportuno."
Insofismavelmente,
a sua História continua a ser, no meio Militar-Naval, objecto de aturado estudo
a par das Ciências[1]
e da evolução de sofisticadas Tecnologias de que foi pioneira absoluta[2]
em Portugal ou que hoje quase só são conhecidas na nossa Ma rinha
de Guerra porquanto os poucos protagonistas civis foram forçados a abandonar as
suas profissões ou a emigrar.
Assim,
a sua entrega a pessoas ou entidades sem qualquer conhecimento directo daquela
realidade específica, conduzirá inexoravelmente à total descaracterização da
nossa Cultura Ma rítima, um
Património Imaterial, com séculos de existência, que hoje, infelizmente, quase
só pode ser quotidianamente cultivado no seio da nossa Ma rinha
Armada.
A
par, todos aqueles que profissionalmente (muitos deles no estrangeiro!) ou que
em termos de lazer sabem que o Ma r
é, pela sua circunstância, gerador de uma Cultura específica, dificilmente
aceitarão ver o património do Museu de Ma rinha
entregue a quem, dele, terá, na melhor das hipóteses, um superficial conhecimento
teórico sem sequer poder invocar um, minimamente convincente, sentimento de
pertença.
Neste sentido, atenta uma partilha positiva de saberes, competências e
recursos das entidades e organizações que tutelam, o Ministério da Defesa
Nacional e o Ministério da Cultura,..
Uma partilha positiva de saberes? Saberes, sabe o Museu onde os encontrar,
pois a pléiade de militares e civis que em todas as vertentes do conhecimento
do Ma r, da História (da nossa em
particular), das Ciências, das Tecnologias, dos Direitos Comercial ao Internacional
Ma rítimos e de tudo o mais, do
Doutorado ao Artesão, todos são há muito consultados, acolhidos e ouvidos. E
não estão necessariamente em nenhum daqueles
Ministérios.
Quanto
a competências, tem, o Museu de Ma rinha,
desde há muitos anos consciência das suas fragilidades. Não obstante estar governamentalmente
restringido o alargamento dos seus quadros, nomeadamente a profissionais da
museologia, como estrangulada a reposição do seu pessoal em fim de carreira e constrangido
a ver-se depositário de pessoal mutuamente estranho ao espaço, tem pelo
contrário, concretizado importantíssimos aportes
(remodelações da exposição permanente, exposições temporárias… das aquisições
à sua loja temática) bem como estudos de projectos a concretizar.
Falamos
dos Fuzileiros, a primeira Força Armada Regular Portuguesa, do centenário Corpo
de Mergulhadores, ambos com relevantes intervenções de Serviço Público, bem
como dos Patrimónios militares material por mostrar (artilharia, minas,
torpedos…) e imaterial em que interagem os homens e as mulheres que servem na
Armada e que assim se veriam entregues a civis de “carreira” que completamente
desconhecem a Cultura Militar e ainda menos a Militar-Naval.
Nas
áreas civis, na da Ma rinha Mercante,
carecida do material desbaratado no desmantelamento das grandes companhias de
navegação de Comércio ou nas inúmeras empresas de Pesca, após o precipitado
abate da Frota Pesqueira, com a debandada daquelas profissões e até do país,
dos seus protagonistas, como se sentirão entregues a gente de …terra?
Na
Ma rinha de Recreio, de que tem
recebido notáveis peças, sobretudo por doação[3],
como se olharia para a sua entrega a gente que nada sabe do… Ma r?
Cego
pode ser um nó porém, no Museu de Ma rinha,
bem visível é a legendagem em Braille. Quantos Museus
em Portugal já disporão dela?
Sobre os recursos? Serão, claro, os do Museu de Ma rinha
pois, certamente, muito do espólio a ser envolvido nesse projecto museológico comum, não será cedido, nem deverá sê-lo, pelas outras
possíveis entidades, como por exemplo a Carta de Pêro Vaz de Caminha ou outras
peças que não mencionamos por inútil e para não prejudicar a sua preservação
nesses acervos, certamente melhor conservados onde estão do que num Museu… partilhado!
Em busca
dum fio condutor que à partida se cifra na pontual liquidação imediata do mais
identitário Museu de Portugal, o Museu de Ma rinha,
e à chegada num indefinido conjunto de belas intenções com contornos a definir
no tal Protocolo Adicional ao estabelecido que afinal não será mais do que o
rematar dos que já estiveram em cima da mesa e foram tidos como inaceitáveis
por quem sabe e venera o que tem à sua guarda.
No íntimo
de quem sente o peso de tamanha leviandade, isto é tido por proposta vexatória,
senão mesmo provocatória!
Tal projecto
destina-se a relevar a narrativa da Expansão Portuguesa, dos Descobrimentos Ma rítimos, e da presença de Portugal no Mundo, na
medida em que a Ma rinha
é indissociável dessa parte da História de Portugal.
Por bem, o
que a nós nos move, tomamos o ambíguo verbo «relevar», no sentido positivo de
“|| Dar relevo a,…||” e, logicamente, registamos a adulação porquanto a Ma rinha, certamente, sabe que é a legítima herdeira
da Expansão Portuguesa que ocorreu, durante os Descobrimentos, por mar.
Da Ma rinha continuam, aliás, a ser oriundos alguns dos
mais reputados investigadores da época dos Descobrimentos e das nossas Ciências
Náuticas que se não esgotaram nesse período áureo, como, dentre outros notáveis
pioneiros, Ga go Coutinho o provou
como historiador e… cientista.
Foi
inequivocamente uma iniciativa de Portugal com o concurso de saberes acumulados
mas, no caso presente, aqui originalmente tratados, desenvolvidos e acertadamente
aplicados. Esse, o corpus das várias
Ciências Náuticas, daquela época histórica, patentes no Museu de Ma rinha.
A Expansão
de Portugal é, pode dizer-se, posterior aos Descobrimentos que decorreram dum
objectivo central, a chegada à Índia, e dos laterais, resultantes dos desafios
surgidos durante essa busca.
Sabendo que esteve prevista a transferência do espólio do
Museu da Ma rinha para outra entidade
e também a sua extinção tememos ser surpreendidos por um golpe soez desferido
no Museu de Ma rinha.
De facto, recusamos
frontalmente que se repita com o nosso Museu a tragédia que foi a administração
civil do Aquário «Vasco da Ga ma»!
Lisboa, 4 de Junho de 2010
Presidente da Direcção do
GRUPO DE AMIGOS DO MUSEU DE MARINHA
[1] O desfile de ilustres oficiais
da Armada já falecidos; cientistas, investigadores, exploradores, académicos… e
também de diplomatas, gestores, políticos…
cuja memória está por musealizar.
[2] Astronomia (Observatório),
meteorologia, máquinas, electricidade (e electrónica), telecomunicações,
farolagem e radiofarolagem…que aguardam espaço para musealização, bem como
algumas colecções.
[3] Recordamos a imperativa
condição de “criação” dum «Museu de Ma rinha»
imposta testamentariamente por Ma ufroy
de Seixas!
"
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