" Apesar de ter sido o aluno nº44/88 do Instituto Militar dos Pupilos do Exército e de ser conhecida a rivalidade histórica entre alunos dos Pupilos e do Colégio Militar, tenho que dar a mão à palmatória e assumir que a Instituição de ensino que possui uma tradição mais remota e reconhecida em Portugal é sem dúvida o Colégio Militar.
Perdoem-me os meus colegas de infância da "casa tão bela e ridente", e aos quais tenho uma amizade indestrutível mas esta é a dura verdade. Conheço bem esta instituição que nasceu em Oeiras, privei com os seus alunos, oficiais e professores em cerimónias de aniversário, chás dançantes do colégio, bailes nos pupilos, provas inter-colégios de equitação, esgrima etc. e outros eventos. Fiz muitos e bons amigos daquela Instituição, todos eles com nobres valores e princípios ou não fosse o seu lema "um por todos e todos por um". O dia 3 de Março, aniversário do Colégio Militar apesar da rivalidade entre escolas, era sempre sentido nos Pupilos com grande respeito e consideração.
Uma vez que o concelho de Oeiras está intimamente ligado à criação do Colégio Militar, porque não convidar o Colégio para no âmbito das suas comemorações do dia 3 de Março fazer também uma festividade anual que assinale a primeira pedra da Instituição em 1803 no nosso concelho de Oeiras.
Nos 5 anos que passei nos Pupilos do Exército, havia um sentimento de querermos ser melhores em todas as vertentes, sei que no Colégio Militar também havia a mesma filosofia e era com enorme fairplay que nos digladiávamos para ano após ano provarmos que uma Instituição estava melhor preparada que a outra, a nível intelectual e físico.
Tive facilidade de entrar nos Pupilos devido ao meu pai ser Coronel do exército e ao facto de me ter preparado muito bem para as duras provas eliminatórias (médicas, intelectuais, físicas e psicotécnicas). Felizmente entrei... era enorme a expectativa na família pois sou neto de coronéis do exército, por parte do pai e por parte da mãe, irmão de Major e cunhado de Capitão-de-fragata. Era importante para mim não desiludir os meus entes próximos. Na minha família masculina directa sou o único que apesar de ter cursado os Pupilos do Exército, não segui a carreira de militar.
Na sua génese o Colégio Militar foi criado para filhos de oficiais e os Pupilos do Exército para filhos de soldados, praças e sargentos, no entanto, na década de 80 os Pupilos tiveram a sua época de ouro e os meus pais optaram por só me por a concorrer aos concursos de admissão dos Pupilos do Exército. Foi com enorme gosto que entrei e frequentei o IMPE e que hoje guardo amigos e recordações para o resto da minha vida. A importância da amizade e espírito de equipa numa Instituição heterogenia como esta é fulcral para aguentar a exigência do dia a dia.
De certeza que muitas das recordações dos alunos e ex-alunos do Colégio Militar estiveram e estão nos dias de hoje ligadas à sua feitoria em Oeiras (junto à marina de Oeiras). Na altura do Verão os alunos que optam por prolongar o regime de internato ao fim de semana, viajam para a feitoria de Oeiras, propriedade ainda hoje do Colégio Militar. Pelo facto da feitoria de Oeiras fazer parte da memória colectiva dos alunos que amanhã serão o futuro de Portugal, a Câmara de Oeiras deveria ter um papel de reconhecimento para quem se forma e cresce no seu território numa Instituição recheada de História e visando a excelência na formação dos seus alunos.
Porque não convidar o Colégio Militar a vir celebrar o seu aniversário no Concelho que o viu nascer?
Aqui fica a sugestão.
O Colégio Militar foi fundado em Oeiras, com o nome de Colégio de Educação do Regimento de Artilharia da Corte, no quartel da Feitoria, no ano de 1803, pela mão do então Coronel Teixeira Rebelo, comandante daquela unidade militar sedeada nas proximidades da fortaleza de S. Julião.
O Colégio da Feitoria, iniciando a sua actividade com apenas 20 alunos (filhos dos militares que serviam nas várias partes do mundo ou andavam embarcados, quer crianças das redondezas de S. Julião, órfãs ou sem posses), cedo se evidenciou pela cultura científica e prática militar que transmitia aos seus alunos (os mestres eram os militares mais habilitados do Regimento em regime voluntário e gracioso), permitindo o acesso à carreira de Oficiais do Exército, mas também abrindo as portas dos estabelecimentos de ensino superior. Com a preferência de um crescente número de candidatos, não tardou que o colégio fosse pequeno e tivesse que merecer a oficialização real tornando-se num estabelecimento de ensino independente, para poder receber e instruir um número limite de cem alunos.
Assim, por portaria de 7 de Janeiro de 1814, o Colégio é transferido, do Quartel da Feitoria em Oeiras para o edifício do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, na Luz, com a designação de Real Colégio Militar.
Entretanto, e respondendo às várias reformas educativas e militares de dois séculos de História, instala-se ainda no Convento de Rilhafoles, novamente na Luz e, posteriormente, no Convento de Mafra.
Finalmente, em 1873, o Colégio Militar instalou-se pela terceira vez no edifício da Luz, onde ainda hoje se conserva.
Como resultado da sua função educativa, o Colégio devolveu ao País cerca de 15000 cidadãos, destacando-se alguns deles em diferentes actividades, de que são exemplos os Presidentes da República, Marechais Gomes da Costa, Oscar Carmona, Craveiro Lopes, António de Spínola e Costa Gomes, insignes militares como Opero Alexandrino da Cunha, Eduardo Galhardo, Sanches de Miranda, Teixeira Pinto, Pereira D'Eça, Campos Rodrigues, Tenente Valadim, Morais Sarmento, Garcia Rosado, Ferreira Martins, Passos e Sousa, Viriato de Lacerda, Ribeiro de Carvalho, Barros Rodrigues, Sarmento Beires e Oscar Monteiro Torres, vultos das letras, como Andrade Corvo, Latino Coelho, Manuel Pinheiro Chagas, Abel Botelho, Júlio Dantas, Carlos Selvagem, Ramiro Guedes de Campos e Gustavo de Matos Sequeira, matemáticos e pedagogos como Pina Vedal, Mota Pegado, Couceiro da Costa, Morais Sarmento, Teixeira Botelho e António Sérgio de Sousa, historiadores como Ferreira Martins e Luís de Albuquerque, exploradores como Serpa Pinto e Henrique Carvalho, gente do palco e da música como Tomás Alcaide, Raúl de Carvalho, Artur Semedo, Pedro Bandeira, Luís Galhardo, Raúl Ferrão, políticos como o Conde de Valbom, Francisco Maria da Cunha, Pimentel Pinto, António Sérgio, Botelho Moniz, Humberto Delgado e Tito Morais, jornalistas como Cristóvão Aires, Júlio César Machado e Pereira Coelho, médicos como Ernesto Roma e Mário Moutinho, geólogos como Joaquim Filipe Nery, olímpicos como o Marquês de Funchal, Helder Martins e José Beltrão, e tantos outros em tantos outros domínios" .
ass) Paulo Freitas do Amaral
Bonito texto e bonita camaradagem.
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