“Caros Camaradas
Não entendo que para se constituir um Hospital
das FAs, seja necessário sacrificar o hospital dum dos ramos, concretamente o
Hospital da Marinha, que tem, reconhecidamente, características específicas,
únicas e necessárias, que são contributos valiosos e indispensáveis, para o
País, para as Forças Armadas e para Marinha.
Não compreendo como, em nome da constituição dum
HFA, se comece por desarticular aquilo que vem funcionando de forma
satisfatória, por vezes mesmo exemplar - o SSM.
Aquilo que está em causa é a continuação da
existência do Hospital da Marinha, um hospital que terá alguns defeitos, que
não lhe são exclusivos. Todos os hospitais, civis, militares, públicos e
privados, têm qualidades e defeitos, dias bons e dias maus. Depende, do momento
que atravessam, das administrações respectivas, dos chefes de serviço e demais
profissionais, do pessoal que está nas urgências, do dia que estão a ter, do
que aconteceu na véspera, do que se espera para o dia seguinte, etc.
O HM não é pior, nem melhor, mas é o NOSSO
Hospital!
O Hospital de Marinha é um modelo de
funcionamento económico (já conhecem os números do desastre
económico-financeiro do SNS nos últimos 2 anos?)
Documentem-se, leiam a história do Hospital da
Marinha, informem-se sobre o seu funcionamento actual e pensem no futuro.
Quando nos interrogamos sobre o impacto que as
alterações que se vislumbram poderão ter sobre as diferentes vertentes da saúde
militar, quando nos mostramos indiferentes à ameaça de desaparecimento do Hospital
de Marinha (e com ele por certo também o do Centro de Medicina Naval), devemos
pensar no contributo que ambos têm no sucesso da prestação de cuidados de saúde
à família naval. Cuidar, tratar, não é a mera dispensa de medicamentos e
tratamentos. É estabelecer empatia com quem necessita deles e fazer isso num
ambiente que lhes transmita ânimo. É reconhecermos o local e os profissionais
de saúde que cuidam de nós e, neles, os companheiros com quem comungamos uma
formação e cultura militar comuns, da Marinha. Com o tempo, embarcar um médico
doutro ramo das FA resultará possivelmente numa experiência positiva e numa
câmara tão coesa e companheira como embarcar um MN! Com o tempo, até ele se
habituará e achará graça aos nossos costumes e praxes! Com o tempo até
gostaremos de o encontrar no Hospital da Marinha ou no CMN, e ele a nós! Mas
para chegarmos a isso é preciso tempo, que é um ingrediente que continua a ser
obstinadamente recusado a esta dita “reestruturação”- tempo para a gestão da
mudança, que não se faz por despachos nem decretos.
Caríssimos,
Se não vos é indiferente que o Hospital da
Marinha continue a existir, se acham que ele é peça importante da medicina
operacional naval, então venham à Assembleia Geral Extraordinária, dia 9 de
Dezembro, às 21.00, no CMN, onde estes problemas serão discutidos.
E passem palavra. É preciso interessar os camaradas mais jovens, a quem gostaríamos de
fazer sentir que estamos a tentar preservar um legado que honra a Marinha, para
eles tal como o queremos agora para nós.
Seja para uma participação mais informada, seja
meramente para terem uma noção daquilo que está a acontecer, apelo à vossa
paciência para continuarem a leitura.
No projecto de reestruturação do Ministro da
Defesa e do CEMGFA, desaparecem o Hospital do Restelo (Exército) e o Hospital
da Marinha, e sobrevivem a Estrela, o Porto e o Lumiar, “aumentados”. No meu
modesto entendimento, o Hospital do Lumiar que se cuide, pois poderá muito bem
ser a próxima baixa (não a infra-estrutura, evidentemente!) nesta
“reestruturação” do SSM de que o Exército tem um entendimento muito próprio.
É lícito perguntar se aquilo que se pretende é
constituir um HFA ou destruir o Hospital da Marinha, sacrificando para isso
também o Hospital do Restelo.
“Reestruturar” não é implementar um conjunto de
medidas avulsas por meio das quais umas instituições conquistam capacidades e
meios que são subtraídas a outras. Aliás, quando há mais do que uma instituição
envolvida passamos para o domínio das fusões e aquisições (hostis neste caso). Qualquer que seja a designação, não estamos a
falar de intenções ou aspirações, mas de processos
– transformações organizacionais
profundas e complexas, que não podem ser decididas por mero desejo, mas na
base de avaliações e expectativas realistas e que requerem avaliações prévias
de custo-benefício, definição de objectivos finais e intermédios, calendários,
equipas de acompanhamento, métricas, e cenários de contingência (saúde!...).
Um HFA forma-se, primeiro, por integração
funcional dos meios existentes, nos locais onde se encontram, estabelecendo
rotinas e protocolos, definindo claramente quais as especialidades que podem
ser asseguradas por entidades convencionadas e aquelas que o serão por meios
próprios, e estabelecendo estratégias para dar a estas uma dimensão e
casuística que garanta o seu reconhecimento pela OM. Obter essa procura
adicional de prestação de cuidados de saúde e as receitas correspondentes, e
relacionar o todo com o SNS. Definir onde aplicar a regra de “extinguir quando
vagar”, centralizar o aprovisionamento, resolver as diferenças de semântica, e
estabelecer boas práticas e protocolos clínicos comuns. Em suma, constituir um
“Centro Hospitalar das Forças Armadas”,
com uma direcção em que estejam representados cada um dos hospitais militares
existentes e que promova a harmonização dos processos, das organizações, e das
culturas respectivas.
Aquilo que está a pretender fazer é precisamente
o inverso, é começar por onde se devia acabar, e os problemas começarão depois
do processo ser posto em marcha. Falta gerir a integração, as diferenças
culturais e de práticas profissionais, definir quem chefia o quê, quem reporta
a quem, etc., tudo isto agravado por um clima que se adivinha desfavorável. Sem
a adesão do elemento humano, um processo destes será um fracasso e um
sorvedouro de dinheiro, com consequências sérias na qualidade da prestação dos
cuidados de saúde.
Mais uns apontamentos baseados no conhecimento
que vamos tendo do esquema (que projecto não é!) de reestruturação do SSM.
Abandonada a ideia da instalação duma urgência
cirúrgica no Hospital da Estrela, aponta-se agora para uma “urgência
intermédia” (?), coisa que não se sabe bem o que é.
Sabe-se isso sim, que o Hospital da Estrela está
bem rodeado de urgências em Hospitais do SNS próximos. Que uma urgência geral é
suficiente para fazer a triagem e encaminhamento (referenciar, na gíria da
saúde) de qualquer situação que se lhe depare. Que a diferença de necessidades
em recursos humanos é enorme e que muitos terão que ser civis contratados. E
que a diferença de custos de funcionamento é, também, enorme. Que os custos de
instalação no Hospital da Estrela da dita urgência intermédia (estimativa de
1,5 milhões de Euros) serão uma parcela dos encargos com a adaptação de
infra-estruturas para instalar as especialidades que para lá estão planeadas
receber guia de marcha.
Na semana passada o Ministro da Defesa visitou o
Hospital Militar do Porto. Não é difícil imaginar que lhe terá prometido um
aumento de meios e capacidades (resultantes do desmembramento do Hospital da
Marinha?)… para garantir um aliado na reestruturação pretendida. Mais alguns
milhões ?
Camaradas,
Isto precisa de ser travado. Integração, sim
claro, destruição de meios e de herança cultural, em nome de algo indefinido e
que começa com o passo trocado, não.
Sendo certo que eu entrei nesta guerra por
vontade própria, tenho formas de ocupar o meu tempo bem mais interessantes e
divertidas.
Como todos vós, aliás, e como convém a um cidadão
da nossa idade e formação.
Por isso só continuarei empenhado se esse for o
vosso desejo e sentir.
Abraço a todos
VdaCunha
Nota:Carta ao Curso Corte-Real, que veio encriptada
Nota:Carta ao Curso Corte-Real, que veio encriptada
2 comentários:
Excelente, meu caro Manel !
Parabéns, meu caro Vasconcelos da Cunha !
Como noutras circunstâncias e noutro lugar apetece-me gritar bem alto : SANEAR É DEITAR FORA AQUILO QUE NÃO PRESTA !!!
Por favor, senhores políticos, não deitem fora aquilo que presta !...
O que é isso de Hospital do Restêlo? Será o da Boa-Hora? É mais perto de Alcântara do que do Restêlo...
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