A história dos fumos de corrupção a propósito da compra dos
submarinos tem tido, como resultado imediato, o surgimento de novos e
insuspeitos estrategos, que muito enriquecem o pensamento pátrio nestas
matérias. Prenhes de mais rebuscada ignorância, figuras como o storyteller Tavares (Sousa) e como a
grande referência do socialismo vale-tudo Almeida Santos expelem
acrobáticas opiniões tendentes a cavalgar a onda poluída que por aí
espuma destinada a pôr em causa o que governos de várias cores decidiram
e tornaram a decidir ao longo dos anos, o que vários parlamentos de
várias cores foram, repetidamente, aprovando: a aquisição de dois
submarinos para a Armada. Parece, imagine-se, que até o General Valença
Pinto (um erro de casting de
ciclópicas consequências) foi, coitadinho, assaltado por dúvidas
metafísicas acerca do assunto!
Poderá compreender-se que se pense que a despesa que os submarinos
envolvem não é, na situação actual, coisa bem-vinda. O que não tem a ver
com a compra em si, efectuada no tempo em que o socialismo ainda não
tinha chegado onde chegou na sua ruinosa obra, nem com a necessidade de
dar crédito às pretensões marítimo-territoriais da Nação. Se houvesse,
hoje, que decidir, talvez fosse de pensar duas vezes. Mas, quando os
submarinos estão prontos, quando o Estado tomou os compromissos que
tomou, “borregar” não seria muito pior para todos nós? Que credibilidade
internacional traria ao país uma atitude dessas? E como se esgrimiriam
argumentos, na ONU, sobre a soberania portuguesa na plataforma
continental? No entanto, o governo que temos pede “pareceres” sobre a
“legitimidade” de anular a aquisição!
Assiste o governo, angelical, à polémica das contrapartidas, como se
não tivesse toda e exclusiva responsabilidade em tal matéria. Há anos e
anos que uma distinta comissão, chefiada por um embaixador (Pedro
Catarino, na reforma, simpatizante do PS) tido por alta figura da nossa
diplomacia, anda a tratar do assunto sob opatrocínio e a tutela dos
ministros da defesa e da economia.
Compete aos alemães velar pelas contrapartidas, ou ao governo e à sua
ilustre comissão? Algo me diz que a tal comissão, para além de cobrar
umas senhas, não fez a ponta de um chanfalho nos últimos seis anos! Se
fez, fez mal. Isto é, pelo menos, flagrante. O que é flagrante não
precisa de inquéritos, precisa de acção, de decisão. Precisa que a
comissão seja, imediatamente, posta no caixote do lixo e que o governo
faça alguma coisa com cabeça tronco e membros em vez de andar a sacudir a
água do capote.
Nada disto foi feito. O governo anda calado como um rato, a pedir
pareceres sobre a nobre decisão de faltar a um compromisso assumido e
reiterado há anos e anos, compromisso que já produziu os seus efeitos
finais, mesmo que, demonstrando ao mundo a mais radical desonestidade,
se queira, hoje, virar o bico ao prego.
O que ao governo e ao PS interessa é que alguém da oposição seja
envolvido na eventual corrupção. O resto é conversa. O governo sabe que
não tratou das contrapartidas, o governo sabe que não há volta a dar à
compra firmada, o governo manda altas figuras do PS pôr em causa
legítimas e fundamentadas decisões, o governo anda a ver se se safa de
mais uma em vez assegurar os créditos de seriedade que o país merece.
Ainda por cima, fá-lo agitando culpas de terceiros em matérias, talvez
graves, mas que nada têm a ver com a substância do que, em termos
nacionais, está em causa.
in"jornal de defesa e relações internacionais"
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