sábado, 10 de abril de 2010

ORA TOMA!


CAlm José Luis Gonçalves Cardoso


Av do Lago 146 Bl3 2º Esq




Monte Estoril




2765-420 ESTORIL                                                            8 Março de 2010

Assunto: A manutenção da capacidade submarina na Armada

Ex mo Senhor

Dr Miguel Sousa Tavares  

Regressado do Alentejo , onde há vários anos me dedico à Agricultura e à Agro-Pecuária, tive o prazer de ler a  resposta que teve a amabilidade de me mandar.

Estive a reflectir sobre  os seus argumentos, e não ficava contente comigo próprio se não lhe  tirasse mais um bocadinho do seu precioso tempo , tão necessário  para  meditar e escrever a  coluna de opinião do Expresso e agora a preparar as entrevista na TV.
Começo por lhe dizer que também perfilho o ditado  de que “ Quem não tem dinheiro não tem vícios”, e que entendo a argumentação, de que vivemos um período em que as ameaças são muito diferentes de há 30/40 anos. Compreendo que até a existência das Forças Armadas  pode ser questionada numa Pátria como  hoje  se revela Portugal ,  que não dispõe de um Aparelho Industrial e de  Desenvolvimento Tecnológico com objectivos Militares.

Até lhe digo que, fazendo parte dos oficiais  de Marinha que serviu nos Fuzileiros e comandou um Destacamento de Fuzileiros Especiais em África, tenho perfeita consciência do Poder da luta de guerrilha e  assim entendo o argumento de que podíamos acabar com as Forças Armadas e com a solenidade dessa Declaração Universal, assumir que os portugueses se voltariam para uma formação militar de guerrilha que abrangesse toda a população válida e em idade de ser recrutada.
Assim,  Portugal, apenas  teria de se preocupar em  fabricar armas ligeiras  e munições.
Caso a Nação aprovasse tal desiderato, seria uma profunda revolução neste nosso Portugal  de consequências imprevisíveis no relacionamento social dos povos, ao nível da Europa e quiçá no Mundo.

Era Portugal e os portugueses no seu melhor...em MMX

Mas... deixando as ideias utópicas, na resposta que me deu , manifestou o sua não concordância com a necessidade de ter 3 FF oceânicas e que o Conceito Estratégico de Defesa Nacional , não implica um Conceito Estratégico Militar que leve a SS e FF’s.

Permita-me, que lhe argumente  o seguinte:
O Conceito estratégico de Defesa Nacional , leva-nos à Nação. Nacional implica inventariar onde estão os portugueses, a Nação,  os seus bens e interesses.
Assim  temos os residentes no território nacional, espaço arquipelágico, e os que tentam ganhar a vida no estrangeiro.
Havendo relevante presença  na África Meridional, América Central e do Sul , alguns núcleos no Oriente e importantíssimas comunidades na Europa , penso que a resposta será por Todo o Mundo.


Logo,  parece que deveremos ter capacidade naval de superfície capaz de ,com a presença de um navio reabastecedor, chegar a qualquer parte do Mundo. Não para fazer guerra, mas fazer aquilo que uma FF ( como as actuais MeKo) pode fazer de diferente , quando acompanha um navio de passageiros ou outro navio de apoio. 
No respeitante à fiscalização e Controle do que se passa na nossa ZEE em actividades de pesca e noutras que se relacionam com as varias valências do mar ( transporte marítimo, recursos energéticos, recursos minerais, biotecnologia, turismo e lazer) a existência de FF com helicópteros embarcados, capazes de permitirem o seu poisar após uma missão que exija velocidade no mar ( a noção de lanchas rápidas no mar da nossa ZEE, é uma total mentira , pois o mar não o permite e a sua autonomia é muito reduzida)  e a operação de SS´s nos meios de actuação , representa uma mais valia inquestionável. Recordo o que já sabe , onde a sua discrição, autonomia, elevadíssima tecnologia e  reduzida guarnição e capacidade de se refugiar quando surge mau tempo, dão-lhe uma capacidade invulgar de detectar e posteriormente localizar e ajudar a deter alvos suspeitos.
Como também sabe, mas é sempre útil recordar, os os navios e submarinos oceânicos, são plataformas e veículos com grande autonomia (30/45dias).
São recheados com factores habitacionais (lavagens, WC´s, ar condicionado) , sistemas geradores de energia , mecânica e electricamente muito sofisticados, que trabalham 24/24 horas, 365 dias por ano.
Acresce que os sensores e as armas com sistemas mecânicos,eléctricos, hidráulicos, magnéticos e electromagnéticos , piezo-eléctricos , exigem sistemas energéticos que também têm de estar sempre “on” , assim como tudo o que hoje está associado a meios de controle e gestão de dados informatizados. Neste contexto ,a água do mar é obviamente utilizada em sistemas de higiene, permanentemente vaporizada e destilada para se produzir água doce ( quando fora de porto) e em sistemas secundários de arrefecimento. Isto significa que há bombas e encanamentos assim como toda uma panóplia de sistemas mecânicos, que vivem em permanente luta com a corrosiva água do mar.
No caso dos SS, temos o adicional problema da Histeresis, fenómeno associado com a  compressibilidade quando  mergulham, e a distensão do aço, quando voltam à superfície, realidade física que leva a grande preocupação com zonas de junção soldadas.
Devido a esta realidade os navios tem de parar de X em X anos, normalmente 3, para fazerem manutenções correctivas, ou seja cerca de 12 períodos de paragem, nos normais 36 anos de vida .


Agora podemos abordar o célebre numero 3.

Quem tem de estar preparado para ao longo do ano poder responder a uma situação de crise inesperada , como é a Armada, com a probabilidade de estar pronta a  99%, tem de ter em permanência um meio operacional com prontidão de 2 ou 6 horas e  ter algo de reserva , com prontidão diria de 24 horas.
Como está normalmente um em fabricos ,  só tendo 2 operacionais é que se  assegura o compromisso que a Nação, com Território Próprio  lhe deu...

 “ A Pátria Honrai que a Pátria vos Contempla”.

Esperando que desta vez o traga para o lado dos “ Marinheiros”,

 com toda a minha consideração apresento-lhe os meus cordiais cumprimentos

José Luís Gonçalves Cardoso
CALM ref


1 comentário:

Fernando Boaventura disse...

Bravo Zulo Sr. Almirante.
Fernando Boaventura
Militar da Armada na REF