Exma.
Senhora
Directora do Jornal “Público”
Refiro o texto “Portugal potência naval”
publicado nesta secção do jornal no passado dia 16 de Abril, da autoria do
leitor Manuel Silvério. Um desconchavo completo , tanto na forma soez como trata os almirantes
portugueses, quanto à ignorância que
revela , disfarçada em sarcasmo, sobre os meios apropriados à vigilância da
costa, esquecendo a vastíssima área marítima a fiscalizar. Não consigo ficar
indiferente perante tanto dislate.
Servi vinte anos,com honra, na Armada
portuguesa. Não sou almirante. Nesse tempo privei diariamente, no terreno, com
muitos camaradas de armas , hoje oficiais generais. Sei das distinções
que receberam ao longo da sua carreira, pela competência revelada no desempenho
de variadas funções no mar e em terra, no comando ou serviço de unidades e forças
nacionais e estrangeiras. Em ambiente de
conflito nas três frentes - Guiné, Angola, Moçambique – muitos deles foram
nomeados para chefiar operações anfíbias, como comandantes ou simples oficiais de lanchas de desembarque e
destacamentos de fuzileiros especiais, tendo recebido altos louvores e
condecorações por bravura em combate. Outros, mais modernos, no pós-25 de Abril
, participaram com destaque em operações de socorro a cidadãos nacionais no
estrangeiro ( vd. livro “Bissau em chamas” – Reis Rodrigues e Silva Santos-Casa
das Letras ) e integraram/comandaram
forças no âmbito da NATO e de coligações amigas, sempre com distinção. Em todos
os teatros de operações fizeram bem o
que lhes competia fazer. Desafio seja quem fôr a apontar de entre eles um único
nome responsável por actos menos cívicos
ou lesivos de interesses nacionais.
Também , se o senhor Manuel Silvério
pretendeu generalizar maus comportamentos do posto a partir de uma só pessoa, o
almirante cujo nome veio a público a propósito da polémica dos submarinos,
escolheu mal a amostra. Este Senhor, quase octogenário, há muitos anos na
reforma, sempre fora de qualquer cargo político ou de alta responsabilidade
empresarial, é um dos mais respeitados construtores navais que serviram na
Armada. Do seu saber saiu o conceito e
projecto das corvetas, navios robustos e fiáveis que actuaram intensivamente em
África e que ainda hoje, alguns deles,
continuam operacionais. Se o consórcio alemão o escolheu para consultor técnico
do concurso, só prova discernimento e confiança nas suas capacidades. E se lhe
pagou bem, tanto melhor, fê-lo porque o trabalho, altamente especializado, foi
executado com qualidade.
A decisão de compra dos submarinos
constituiu um acto meramente político, na esfera da defesa nacional. Óbvio que
alguns almirantes, no âmbito das suas competências e com os conhecimentos que
possuem do mister, terão sido solicitados a -
não poderiam recusar - participar
no processo. Fizeram-no com patriotismo, seguramente. Para além do que, nada
tinham a perder ou ganhar, atingido que estava o cume da carreira. A negociação
financeira não foi dirigida por si.
O senhor Manuel Silvino nada sabe sobre o
que escreveu. Revelou apenas ser mais um habitante do Portugalzinho – aquele
país de gente pequenina, maledicente, ignorante, sem respeito, muito menos
orgulho, pelo mérito e património nacionais – ao qual os
Senhores almirantes, que vilipendia e de quem escarnece, decerto não
pertencem.
Com respeitosos
cumprimentos,
António N. Carvalho,
Sines
Nota: Valente Camarada
2 comentários:
Será que é o nosso camarada Salvador?
RC
Penso que não cometo nenhuma indiscrição, pois esta carta se não é pública, deveria de o ser .
è sim o nosso camarada e Amigo e valente, com valores que já estão quase fora do percurso , mas ele , felizmente , mantem
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