Sábado, 22 de Maio de 2010
por António Figueira
Segundo
os jornais noticiaram há dias, o Museu da Marinha está em risco de
perder o seu espólio para um novo "Museu da Viagem", a criar por
proposta da actual ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas. Eu
conheço razoavelmente bem o Museu da Marinha e, desde que numa longínqua
manhã lá fui levado pela primeira vez, com os outros meninos da minha
escola primária, visitei-o várias vezes e dei-o a conhecer aos meus
filhos, que o estimam tanto como eu. Não nego, no entanto, que o
projecto de subsumir as armas & os canhões dos Gamas, dos
Albuquerques e dos Cabrais no universo mais vasto da viagem, não só de
descobrimento e conquista, mas também de trabalho, de negócios ou de
simples lazer, me parece audacioso e visionário - e a ideia de colocar
lado a lado, sei lá, as galeotas reais com os cartões Viva do
Metropolitano de Lisboa, encerra um propósito democrático que muito me
apraz. Parece aliás que o nóvel "Museu da Viagem" não será o único do
seu género a ser considerado pela Ministra Canavilhas, e que outros
museus monoconceptuais estarão também a ser projectados: o "Museu do
Projecto", por exemplo, que se erguerá no centro de Lisboa como um vasto
falanstério, uma estrela de cinco pontas contendo outras tantas alas,
cada uma das quais um verdadeiro museu dentro do museu: ala dos
projectos falhados, ala dos projectos absurdos, ala dos projectos
estapafúrdios... E ainda o "Museu do Sonho", o mais arrojado, porque
apenas semi-material, e vivendo dos sonhos de quem o visitar... Pela
minha parte, eu tenho um sonho que me proponho partilhar com todos os
outros portugueses e desde já aqui ofereço às altas autoridades
museológicas: que Gabriela, a sonhadora, seja devolvida rapidamente ao
seu rincão açoriano, e que o Museu da Marinha seja deixado em paz.
1 comentário:
Parabéns ao autor do texto.
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