Com a devida vénia do blog "A bem da Nação"
Na época de contenção da Despesa Pública por que
atravessa Portugal, terá o Governo decidido instituir o Museu da
Viagem nele integrando o Museu de Marinha.
Não veio ainda a público se se trata de uma mera
mudança de nome para justificar a mudança de tutela para o Ministério da
Cultura ou se as alterações assumirão outras dimensões.
Se a questão é a de o Ministério da Cultura passar a
usufruir das receitas de bilheteira do Museu de Marinha, então é
conveniente lembrar que essa operação tem efeito nulo para o Erário
Público pois que se trata de tirar a um Departamento do Estado para dar
igual montante a outro Departamento do mesmo Estado; se as alterações
têm a ver com a integração num só Museu de vários meios de transporte,
então vamos por certo ter numa só instituição o espólio dos actuais
Museus de Marinha, dos Coches e do Ar sendo
que, bem vistas as coisas, pouco ou nada têm a ver uns com os outros,
nomeadamente nos públicos que a cada um acorre. Fazendo blague, então
junte-se-lhe o Museu da Carris.
O Museu de Marinha está muito bem localizado junto
aos Jerónimos que simbolizam a nossa epopeia dos descobrimentos; o dos
Coches tem a sua nova sede em construção junto ao antigo Picadeiro Real;
o do Ar situa-se em Sintra nas instalações da Força Aérea. Não dá para
acreditar que o Governo pense na construção de uma única sede para
exposição conjunta destes três espólios. As contingências financeiras a
que ele próprio, Governo, nos conduziu, exigem que não se façam despesas
não reprodutivas num prazo razoavelmente curto. Esse tipo de «coisas»
só se fazem quando não se pedem esforços suplementares ao Contribuinte,
quando a Conta do Estado apresenta resultados positivos, quando os
mercados internacionais de capitais não nos batem à porta a perguntar se
estamos bons do juízo…
Portanto, sugerindo a sensatez que o Governo não vai
fazer um único edifício para albergar estes espólios museológicos
relacionados com a viagem, resta a hipótese de o objectivo consistir na
consolidação dos três Quadros de Pessoal, ou seja, na anulação da
multiplicidade funcional de 3 para 1 único Chefe da Contabilidade. Sim,
porque os Guardas, os Cicerones, os Porteiros, esses continuarão todos a
ser indispensáveis.
Senhora Ministra da Cultura: ou Vossa Excelência se
explica ou teremos que admitir que «a montanha se prepara para parir um
rato».
Entretanto, para que Vossa Excelência possa tomar
conhecimento da panóplia de sentimentos que está a provocar, eis o
comentário que o Professor Doutor Miguel Mota incluiu na Petição Pública
que ontem assinámos:
Como filho do Almirante Alfredo Mota, que
tanto se bateu pelo Museu, antes dele estar instalado nas actuais
instalações; que fundou o Grupo de Amigos do Museu de Marinha, de que
foi durante anos Presidente da Direcção (e de que sou um dos sócios mais
antigos); e por saber a importância excepcional daquele museu, a
notícia não podia deixar de me chocar profundamente. Vi posteriormente
um desmentido e os meus votos são que o desmentido seja autêntico e não
se cometa mais um atentado como aquele que recentemente destruiu o local
da sede da antiga Aviação Naval, donde partiram, para o que eu
considero o feito maior dos portugueses no século XX, a I Travessia
Aérea do Atlântico Sul, esses dois grandes aviadores, Sacadura Cabral e
Gago Coutinho. Esse local deveria ser algo como um centro de visitas
elucidativo do que foi a Travessia, um feito heróico e científico, muito
mais importante que o de Lindberg. Por incúria dos portugueses – que
até o ignoraram totalmente na Expo e desperdiçaram a mais fantástica
oportunidade de mostrar ao mundo esse feito, quando o tema até eram os
oceanos! - todo o mundo conhece o nome de Lindberg e são raríssimos os
que sabem quem foram e o que fizeram Sacadura Cabral e Gago Coutinho.
Resta a convicção de que há muitas outras rubricas da
Despesa Pública onde Vossa Excelência pode cortar para grande gáudio do
Contribuinte. Onde? Por exemplo, nos subsídios a essas troupes de
cómicos que se auto-intitulam Grupos de Teatro de Vanguarda que esmolam
ao Governo pois de antemão sabem que o público não os procura nem lhes
paga as trampolinices.
O que está bem não carece de mexidas. O Museu de
Marinha está bem!
Henrique salles da Fonseca
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