domingo, 3 de outubro de 2010

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Estado-Maior autorizou modificação de um monumento criado em memória dos cinco militares pára-quedistas mortos na Bósnia. Hoje, homenageia presença portuguesa.
O monumento aos militares portugueses mortos na Bósnia, todos pára-quedistas, foi modificado para simbolizar, ao invés, a presença de Portugal na cidade de Doboj e, especificamente, a do Exército. Hoje, desconhece-se onde está a placa com os nomes dos cinco soldados que eram homenageados.
Aparentemente, face ao que o DN ouviu de diferentes fontes, estão em causa duas visões sobre o monumento: a de quem o fez, tributo aos soldados mortos, e a de quem, no final da missão, o viu como símbolo da presença das forças nacionais destacadas naquele país.
Sem resposta do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) até ao fecho desta edição, não é possível clarificar de quem partiu a proposta de retirar, do monumento, os nomes dos militares mortos e aí colocar uma placa com a inscrição "Portugal ao serviço da paz na Bósnia Herzegovina 1996-2007" (tendo por baixo a mesma frase em bósnio).
Quanto ao lema dos pára-quedistas, "Que nunca por vencidos se conheçam", foi também substituído pelo do Exército: "Em perigos e guerras esforçados" (ver fotos).
O caso ocorre em 2007, mas só em Junho deste ano se torna conhecido via Facebook, quando um antigo pára-quedista recebe a fotografia do referido monumento e cria uma página nesta rede social, agora com 1100 seguidores e dezenas de comentários. Agora chega à Liga dos Combatentes (LC), através de um artigo do tenente-coronel Miguel Machado ('pára' na reserva) publicado no último número da revista Combatente.
"Estive na Bósnia [a partir de 1996] e fiquei chocado ao saber daquilo. Achei inacreditável e não há memória de se alterar um monumento de homenagem a militares mortos na guerra. Pode-se aumentar, acrescentar, mas transformar?", questiona Miguel Machado, ouvido pelo DN.
Posição semelhante tem o presidente da LC, general Chito Rodriques. "O Exército tem todo o direito de fazer o que quiser" para testemunhar o seu esforço militar na Bósnia, tanto do ponto de vista das unidades que lá estiveram como da população local. Porém, dada a intenção original de homenagear os mortos, neste caso "devia conjugar as duas coisas".
"Dignidade dos vivos, sim senhor. Mas honra aos mortos! No mínimo, têm de ser as duas coisas", enfatiza Chito Rodrigues, adiantando ao DN já ter marcado uma reunião com Miguel Machado para analisar quais as possibilidades de recuperar o espírito original do monumento.
As Forças Armadas - tanto o Exército como a Força Aérea e os Fuzileiros da Marinha, EMGFA - estiveram em diferentes locais da Bósnia entre 1996 e 2007, quando o 1.º batalhão da Brigada de Intervenção se tornou a última unidade a deixar aquele país balcânico.
Confrontado com a necessidade de dar destino ao monumento (transferir para Portugal,ou deixar no quartel de Doboj, com risco de ser vandalizado), o comandante do batalhão pediu instruções ao EMGFA, chefiado pelo general Valença Pinto (Exército).
No livro então publicado pelo batalhão, a cerimónia prestou "homenagem aos cinco militares que morreram ao serviço da paz" na Bósnia e Herzegovina.

1 comentário:

Crocodilo disse...

No Cuangar (distrito do Cuando-Cubango, Angola) havia um singelo monumento de cariz naval, com âncora e divisa da Briosa (A Pátria Honrai...) onde estava sepultado um 2º Tenente da Armada morto durante o ataque alemão à povoação, durante a 1ª Guerra Mundial, naquilo que ficou conhecido como o "massacre do Cuangar". Os comunistas do MPLA arrancaram a placa com o nome do oficial e passaram a designar a sepultura como "monumento ao soldado desconhecido". Lá como cá...